Há 14 anos o Brasil perdia Telê Santana, um dos técnicos mais competentes e vitoriosos do futebol brasileiro e mundial. Seus times eram técnicos, criativos, inteligentes e disciplinados.
Por onde passou, Telê deixou sua marca, não apenas como alguém que montava times habilidosos, mas, acima de tudo, como um profissional disciplinado e sério.
Telê Santana foi uma das vítimas do idealismo vira-latas que a burguesia e seus capachos tanto gostam. As derrotas dos times de 82 e 86 tentaram desqualificar o jogo bem jogado, resultado do desenvolvimento do futebol brasileiro, e elevar um futebol burocrático, como o inglês.
A imprensa esportiva burguesa, formada, em sua maioria, por “comentaristas de resultado” costuma associar as derrotas brasileiras à falta de compromisso e disciplina. E assim fizeram com o futebol brasileiro pós-1986.
O famoso treinador é lembrado, por seus jogadores, como um técnico extremamente disciplinador e competente. Portanto, uma contradição ao discurso da imprensa burguesa. Telê, como bom mestre que era, sabia que o jogador de futebol é formado, não nasce sabendo. Portanto, exigia que seus jogadores treinassem duro e se empenhassem, ao máximo, em melhorar.
O brasileiro, conhecido pelo seu futebol ágil e virtuoso, tem enraizado na sua cultura o hábito de jogar futebol. Ninguém joga, assiste e vive mais futebol que o brasileiro. Isso explica o porquê somos tão bons. O jogador brasileiro é como um piloto com muitas horas de vôo. Portanto, é nisso que Telê Santana se apoiava. Ele gostava de quem jogava bola, quem tinha a prática. Por isso, ele sabia que o futebol arte não é algo que cai do céu, mas o resultado da prática, do exercício. O conceito de futebol de Telê era, e ainda é, acima de tudo, um conceito revolucionário.
Essa busca pela prática do futebol que fez Telê Santana atingir os resultados que atingiu na sua carreira. O brasileiro de 71 com o Atlético, em final contra o Fluminense montado por Telê nos anos anteriores; o épico título gaúcho de 77 com o Grêmio, onde Gilberto Gil, muito amigo do gremista Lupicínio Rodrigues, após o gol do baiano André Catimba, se declarou gremista (“Sou Grêmio porque a lua é branca, o céu é azul e eu sou preto!”); as seleção mágica de 82; e o bicampeonato mundial do São Paulo em 92 e 93.
Mestre Telê calou todos os seus críticos ao conquistar o bicampeonato mundial com o São Paulo. A imprensa burguesa, querendo imitar os europeus, desqualificou Telê e o futebol arte brasileiro. O resultado disso foi o fiasco na Copa de 90, sob comando de Sebastião Lazaroni.
O futebol brasileiro só conseguiu retomar seu posto através da qualidade de jogadores como Romário, Bebeto, Raí e Zinho, que desafiaram o futebol retranqueiro e burocrático, característica marcante da Copa de 94.
Relembrar Telê Santana é mais que um retorno ao passado, mas um retorno à obra-prima do futebol brasileiro. Portanto, é com base em Telê Santana que o futebol brasileiro deve-se se desenvolver e não na importação de treinadores, que só fazem sucesso na periferia da Europa, para comandar times com orçamentos gigantescamente maiores que os demais.