João Doria, o bolsonarista governador de SP, e a direção do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos (filiado à Conlutas/PSTU) estão a roer as unhas dos dedos de ansiedade aguardando o “prometido” investimento de R$ 5 bilhões de reais da direção da General Motors para a fábrica de São José, segundo informado pela própria direção do sindicato.
Para ambos, tal medida da GM pode significar mais empregos mesmo que a custa de mais isenção fiscal a favor da montadora e do rebaixamento salarial aceito pelo sindicato do PSTU. É ironia, mas não precisou nem um rugido de leão, nem mesmo um miado de gato para a direção do sindicato entregar direitos e conquistas da categoria e o que é pior, culpando os próprios operários pela aceitação da proposta de rebaixamento do piso, do congelamento salarial, entre outras.
Em épocas de crise como a que vivemos agora, acentua-se a tentativa do sindicalista pelego em debitar na conta do trabalhador a sua própria capitulação política, como expressou o vice-presidente do sindicato, Renato Almeida, de que “O Sindicato é contra qualquer medida que penalize os trabalhadores com retirada de direitos, mas respeitamos a decisão da assembleia, que é soberana. Agora vamos nos manter firmes na cobrança para que a GM cumpra o compromisso de viabilizar a vinda de um novo projeto para a fábrica de São José dos Campos. Vamos lutar também pela manutenção dos postos de trabalho e garantia de estabilidade no emprego”.
De acordo com dados divulgados na imprensa, a montadora norte-americana encerrou 2018 em primeiro lugar nas vendas de automóveis e comerciais leves no país, com emplacamentos de 434,4 mil veículos, um crescimento de 10% sobre o volume emplacado em 2017. O próprio sindicato corrobora, informando que o lucro da empresa em 2018 foi da ordem de 8,1 bilhões de dólares.
Pelos números do ano passado e a promessa de novos “investimentos” no país é fácil observar que se trata de uma grande balela o discurso da empresa de que o “momento é muito crítico”, “a GM vai sair do Brasil se não voltar a dar lucro”, etc.
Na realidade, o que existe por trás da “ameaça” de saída da montadora do país é a implementação na prática da reforma trabalhista, um dos eixos do golpe de Estado de 2016, e no caso em questão, o sindicato foi fundamental para sacramentar essa política.
A aliança do PSTU com o patrão não se expressa somente no acordo pela flexibilização dos direitos dos operários, também se expressa no respeito ao “Deus mercado”, à “necessidade” imperiosa do lucro capitalista.
Na hipótese de que houvesse, de fato, prejuízo por parte da empresa, por que os trabalhadores é que deveriam pagar a conta? E os bilhões e bilhões de lucros enviados para a matriz, a partir da unidade de São José dos Campos desde 1958? Quer dizer, tem uma crise na empresa e os trabalhadores é que se danem?
Como dito, isso é coisa de pelego. Joaquinzão, Medeiros ou Paulinho da Força não fariam pior. O papel de uma direção sindical de luta é o de defender os trabalhadores que representa por todos os meios, mas nunca rebaixando as reivindicações ao patamar do setor menos consciente da categoria. Muito menos encondendo a própria capitulação na insegurança e no medo da categoria, que é resultado da própria política do sindicato, que capitulou e não organizou nenhuma campanha real contra os patrões. Ou seja, a situação transformou-se em um círculo vicioso e o sindicato acaba correndo sempre atrás do seu rabo.
Sacramentada a assinatura do acordo, a direção sindical procura encobrir sua medonha traição sob o manto de uma campanha de garantia do emprego.
Está mais do que patente que a empresa voltará à carga contra os trabalhadores da GM. Se conseguiram rebaixar o piso da categoria, o próximo passo será o de substituir operários antigos por novos.
Para isso é preciso que a mobilização operária supere a política de completa colaboração da direção do sindicato com os interesses patronais, como é o caso da direção sindical do PSTU.