“Expressão concentrada da economia” para Lênin, a política é exatamente a substância que permite compreender processos históricos, a princípio misteriosos, especialmente para quem não consegue identificar a profundidade com que o desenvolvimento político impacta a sociedade de classes no tempo de vigência de uma estrutura social, sendo a economia a camada mais visível desse desenvolvimento.
Isso deve ser especialmente compreendido se quisermos saber por que tantas medidas que desafiam a lógica são tomadas pelo governo brasileiro. Se a população trabalhadora é maior em número do que banqueiros, precisam muito mais, tem muito menos e consomem o que ganham, ativando comércio e indústria, qual a razão para o governo destinar trilhões de reais a um grupo tão reduzido de pessoas, que caberiam em uma cela de qualquer cadeia brasileira, enquanto destina uma valor irrisório à população, com muitos trâmites burocráticos próprios de quem não quer conceder algo? Isto obviamente não faz sentido, exceto se analisado sob a luz das lutas políticas travadas em função do choque de classes, situação que explica com muita materialidade por que “erros” desta natureza (entre incontáveis outros) acontecem,
Da mesma forma, aceitar empréstimo de US$60 bilhões de dólares dos Estados Unidos quando o país tem 6 vezes isso em reservas internacionais é algo que desafia a lógica. Alguns muito inocentes poderiam tentar argumentar que os americanos foram tomados por um repentino acesso de empatia, o que não condiz com o bloqueio criminoso a Cuba e aos países atrasados rebeldes. Porém, na crise de liquidez que o sistema capitalista enfrenta, os EUA, com uma economia de US$21,4 trilhões e uma dívida total recentemente revisada e estimada em US$222 trilhões (mais de 909% do PIB), precisam com urgência apertar ainda mais suas fontes de financiamento, leia-se, os países atrasados e sua mais rica colônia: o Brasil.
Nesse sentido, é com muito senso crítico que devemos nos atentar para medidas tomadas pelo governo de Jair Bolsonaro, especialmente as mais loucas. Sendo um governo dedicado a atender interesses frontalmente contrários aos da população, especialmente nessa crise de características terminais do sistema capitalista onde o tempo para sutilezas acabou, as vanguardas do movimento operário e dos movimentos populares precisam ter claro, e esclarecer suas bases, de que as ações de Bolsonaro são e continuarão sendo ataques, enquanto o regime durar. Não há o que se debater sobre a MP 936, assim como o Partido Nazista tinha “Socialista” no nome sendo tudo no mundo menos socialista, a MP pode se apresentar como “Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda” mas finalmente, a esta altura dos acontecimentos, quem acredita que o governo está minimamente preocupado com emprego e renda da população, acredita em tudo. Até em ajuda humanitária do imperialismo.
Por isso a importância de compreender bem a frase de Lênin. O grande camarada não era poeta, era um político marxista, militante da revolução proletária. Suas colocações, bom marxista que era, não tinham interesse algum em impressionar de maneira diletante mas orientar uma ação que levasse à construção da independência da classe trabalhadora rumo a libertação do proletariado. Este sim é o rumo certo e seguro para superarmos o conjunto de crises que explodem em meio a pior depressão econômica do sistema capitalista.