Por quê estou vendo anúncios no DCO?

Esquerda pequeno-burguesa

Maringoni faz apelos pelo “fica, Bolsonaro”

Em artigo recente, Gilberto Maringoni defende que "gritar fora Bolsonaro não resolve nada" - o que, no final das contas, é o mesmo que defender o mandato do fascista Bolsonaro.

O professor universitário Gilberto Maringoni, que disputou o governo do estado de São Paulo pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) em 2014 e permanece até hoje filiado à sigla, publicou, no último domingo (3), por meio de seu perfil no Facebook, um texto com o título “Gente, por favor, gritar fora Bolsonaro não garante nada”.

O texto foi publicado, estranhamente, em um momento em que a crise do governo Bolsonaro se aprofunda – e, portanto, um momento em que a derrubada do governo está, mais do que nunca, colocada na ordem do dia. Recentemente, uma série de indícios que comprovariam a relação de Jair Bolsonaro com o assassinato da ex-vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ) vieram à tona.

Maringoni inicia assim seu texto:

Há quem considere que protocolar na Câmara – com formulário em diversas vias, carimbos e assinaturas – o pedido de impeachment de Bolsonaro seja medida radical. Há gente muito boa com tal concepção.

Sem nesse momento entrar no mérito da discussão sobre a efetividade de um eventual pedido de impeachment do presidente golpista Jair Bolsonaro, é preciso destacarmos que a discussão entre o “Fora Bolsonaro” e o impeachment de Bolsonaro não são idênticas. De fato, pedir o impeachment de um presidente está longe de ser uma medida radical, mas isso não implica que a luta pela derrubada do governo Bolsonaro seja, assim, ilegítima.

O “Fora Bolsonaro” é uma necessidade das massas, um imperativo diante do que o governo Bolsonaro significa – a aplicação da política neoliberal, uma ofensiva que tem como objetivo devastar o país. Se os trabalhadores precisam pôr fim ao governo Bolsonaro, os trabalhadores encontrarão, inevitavelmente, um meio para fazê-lo. Ao iniciar a discussão igualando o “Fora Bolsonaro” ao impeachment e, desde já, desdenhando do pedido de impeachment, Maringoni opta por levar os trabalhadores a um beco sem saída. Daí já se vê, portanto, a indisposição do psolista em se alinhar aos interesses reais da população.

A seguir, Maringoni nos presenteia com outro argumento igualmente paralisante, a de que os trabalhadores não se mobilizam pela luta política, mas sim pela luta econômica:

Contudo, isso significa não examinar corretamente como se formaram as gigantescas mobilizações no Equador e no Chile. Elas começaram com reivindicações concretas, como preço de transportes, aposentadorias, emprego decente etc.

Bolsonaro cairá quando parcelas consideráveis da população tiverem ciência de que seus infortúnios privados são decorrentes de decisões públicas por parte de um determinado autor. Isso está longe de acontecer, por mais que nós – em nossa estimulante bolha virtual – achemos o contrário.

Essa tese, no entanto, não só é errada do ponto de vista teórico, como também já foi inúmeras vezes derrubada pela experiência do movimento operário. Não há nada mais concreto que a disputa pelo poder político para que as condições de vida dos trabalhadores sofram mudanças imediatas.

As falsas promessas de que os problemas dos trabalhadores seriam resolvidos por meio de lutas parciais não só constituem uma charlatanice como também não empolgam o movimento operário de conjunto. Os motivos, são óbvios: não há porque acreditar que, em um país governado pela extrema-direita, uma reivindicação específica traria alguma mudança real na vida do trabalhador. Por exemplo: não há porque acreditar que, com o governo Boslonaro, que está destruindo a economia nacional, aumentando o desemprego e congelando os salários, a luta apenas em torno da defesa da aposentadoria arraste a classe operária de conjunto, classe operária essa que se lança diariamente ao desafio de lutar pela própria sobrevivência.

Em toda a história, o movimento operário teve sucesso quando partiu para uma luta política, isto é, uma luta que coloque diretamente o problema da disputa pelo poder político. Foi assim, por exemplo, que os trabalhadores derrubaram o governo do neoliberal Fernando Collor. Mesmo em um momento de refluxo, em que os sindicatos não conseguiam mobilizar os trabalhadores para as pautas econômicas, o movimento operário conseguiu se unificar em torno da derrubada do presidente da República. Mais recentemente, na luta contra o golpe de Estado, também tem sido assim. O maior impasse que o regime político golpista encontrou até o momento foi justamente a prisão do ex-presidente Lula, que mobilizou pessoas dispostas a enfrentar as instituições para defender o maior líder popular do país.

Além da discussão sobre a questão da luta política e da luta econômica, é preciso apontar também que, a essa altura dos acontecimentos, declarar que a derrubada do governo Bolsonaro não é uma pauta que coloque os trabalhadores em movimento é uma falsificação grotesca da realidade. Afinal, até mesmo no Rock in Rio, que é frequentado por camadas mais privilegiadas da sociedade, o ódio a Bolsonaro ficou latente: todos querem se livrar daquele que aparece como principal organizador dos ataques ao povo.

Embora a política defendida por este Diário seja a da derrubada do governo pela mobilização popular – e não por meio de uma solução institucional, como o impeachment, é preciso esclarecer alguns pontos levantados por Maringoni sobre a proposta de impedimento do presidente da República:

Sacramentar o impeachment como solução deve levar em conta alguns pressupostos:

1. PODEMOS TER MOURÃO na presidência, com um governo neoliberal muito mais eficiente e capaz de atrair setores centristas,

2. NADA GARANTE que um eventual impedimento de Bolsonaro leve junto Paulo Guedes e seu projeto sulfúrico de destruição nacional. A hegemonia financeiro-privatista nos acompanha desde Dilma II e se aprofundou com Temer. Ela segue impávida. Aí está o poderoso inimigo principal das grandes maiorias a ser efetivamente combatido,

3. QUEM PREGA O IMPEACHMENT precisa urgentemente mudar a terminologia do ocorrido em abril de 2016 nesse canto do universo,

4. PRECISA TAMBÉM admitir que qualquer governo de esquerda que sofrer um processo de impeachment não estará diante de um golpe.

O general Mourão aparece no texto, assim, como se fosse uma espécie de chantagem para que a esquerda não peça a saída de Bolsonaro. É, inclusive, semelhante ao golpe militar virtual dado por Eduardo Villas-Bôas, que ameaçou o STF e toda a sociedade por meio do Twitter. A verdade, no entanto, é que Mourão já está no governo e o próprio Bolsonaro já ameaçou várias vezes estabelecer uma ditadura militar. A única maneira de evitar que os militares tomem o poder é por meio da luta contra a direita, e não mantendo Bolsonaro na presidência.

A crítica de Maringoni à política econômica de Dilma Rousseff é bastante covarde – afinal, essa foi vítima de um golpe de Estado e pressionada pela direita a adotar uma série de medidas para se manter no poder. O PSOL, partido do qual Maringoni faz parte, ao invés de defender o governo Dilma Rousseff e, portanto, lutar contra a direita, estava combatendo a própria Dilma Rousseff na época. De fato, há um poderoso inimigo a ser combatido, que é a burguesia. Mas a única forma de combatê-la é por meio da mobilização dos trabalhadores, e não por meio de “análises” que levam o movimento à paralisia.

Por fim, a confusão que Maringoni faz em torno da questão do impeachment e do golpe é também, de certa forma, uma chantagem contra a esquerda. Isto é, se a esquerda decidir pedir a cabeça de Bolsonaro no Congresso Nacional, não teria o direito de denunciar o golpe de Estado dado em 2016 – golpe esse que já matou milhares de pessoas e que, inclusive, foi responsável pela vitória eleitoral de Bolsonaro. O impeachment não é um golpe em si – golpe é quando um determinado grupo político, atendendo aos interesses de uma determinada classe, toma o poder sem ter sido eleito. Derrubar Bolsonaro, Mourão e todos os golpistas não é um golpe: é, na verdade, a mais democrática das medidas. Fora Bolsonaro e todos os golpistas! Eleições gerais já!

Gostou do artigo? Faça uma doação!

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Diferentemente de outros portais , mesmo os progressistas, você não verá anúncios de empresas aqui. Não temos financiamento ou qualquer patrocínio dos grandes capitalistas. Isso porque entre nós e eles existe uma incompatibilidade absoluta — são os nossos inimigos. 

Estamos comprometidos incondicionalmente com a defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo pobre e oprimido. Somos um jornal classista, aberto e gratuito, e queremos continuar assim. Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Diferentemente de outros portais , mesmo os progressistas, você não verá anúncios de empresas aqui. Não temos financiamento ou qualquer patrocínio dos grandes capitalistas. Isso porque entre nós e eles existe uma incompatibilidade absoluta — são os nossos inimigos. 

Estamos comprometidos incondicionalmente com a defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo pobre e oprimido. Somos um jornal classista, aberto e gratuito, e queremos continuar assim. Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.

Quero saber mais antes de contribuir

 

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.