A figura do guerrilheiro Carlos Marighella foi evocada nos últimos dias devido ao lançamento mundial do filme do ator e agora diretor de cinema, Wagner Moura. O filme foi exibido quatro vezes no último Festival de Cinema de Berlim, fora da competição oficial, que se encerrou no último dia 17. Foi bem recebido pela maioria do público e crítica e vem provocando a “fúria” da direita golpista contra o filme, o diretor, os atores, a esquerda etc.
O interessante do acontecimento é que devido ao destaque que o filme recebeu fez as múmias e robôs da direita golpista, de todas os matizes, de robôs propriamente, a incautos internautas e de maneira organizada e coordenada a imprensa cartelizada nacional e mundial.
Os ataques são de todos os tipos, até o absurdos de dizer que o ator que o interpreta, Seu Jorge, é negro e Marighella era branco (!!!). Esse mérito eu nem vou entrar, pois vou deixar para o Coletivo de Negros do PCO, João Cândido, tratar de maneira mais adequada. Quero tratar aqui de que como a figura de Marighella está promovendo um debate que obriga naturalmente a uma polarização. O filme é uma superprodução, com produtores do peso das internacionais Downtown e Paris Filmes e com a monopolista Globo Filmes. Essas empresas financiam filmes de todo o tipo. O filme pode até ser questionável, mas o que entra em jogo é o tema que envolve a figura de Marighella. Não tem como mascarar o fato que ele era um guerrilheiro, resistente contra a ditadura militar.
O modo como a direita golpista trata do debate é interessante, “Marighella era um terrorista, um assassino, um facínora” e ponto. Sem nenhum tipo de contextualização, não existia ditadura, repressão, tortura, golpe, nada. Só o sanguinário Marighella. Não é o filme que está sendo debatido, até porque essa direita que odeia cultura não viu e nem vai ver o filme. São ataques gratuitos, independente do conteúdo da obra cinematográfica.
Bem representado ou não, o fato concreto é que temas como golpe militar, tortura, repressão, resistência, guerrilha, luta armada serão debatidos independente de como o filme se comportar. E este é o fato interessante. O debate já está colocado. Estamos diante de um golpe de Estado, com um governo de características fascistas, dominado por militares amantes e defensores da ditadura e neste “cenário” um filme chamado “Marighella” causa um incômodo muito grande. Entremos no debate, pois a burguesia, os golpistas não vão ficar calados.