É compreensível que a chamada comunidade LGBT tenha comemorado a ‘criminalização’ recente, por parte do Supremo Tribunal Federal (STF), do que se tem chamado LGBTfobia (ou simplesmente homofobia e transfobia)
No entanto, é necessário afirmar e reafirmar que não é a criminalização, de qualquer tipo de preconceito ou discriminação, que vai fazer cessar a violência, a própria discriminação e o preconceito.
O STF mal acabou o julgamento de duas arguição de descumprimento de preceito fundamental, e ter interpretado que a LGBTfobia deve ser tratada como crime de racismo, que a violência se fez mostrar nua e crua como sempre.
Sandro Cipriano Pereira, professor e militante da causa LGBT de 35 anos, desapareceu no dia 27 de junho e foi encontrado morto na manhã do dia 29, sábado, em um sítio na Zona Rural de Pombos, na Zona da Mata de Pernambuco.
Levou um tiro na cabeça e apresentava sinais de ter sido vítima de mais violência.
Os dados sobre violência contra a população LGBT não são precisas, no sentido de que, provavelmente, sejam maiores do que o registrado, ainda assim são assustadores.
No Brasil, 8.027 pessoas LGBTs foram assassinadas no Brasil entre 1963 e 2018 em razão de orientação sexual ou identidade de gênero, segundo relatório formulado por Julio Pinheiro Cardia, ex-coordenador da Diretoria de Promoção dos Direitos LGBT do Ministério dos Direitos Humanos.
O assassinato de Sandro Cipriano Pereira representa o sentido do descaso com que os LGBTs são e continuarão a ser tratados por ‘conservadores’, principalmente por aqueles que se alinham ao governo fascista ora no poder.
Não podemos esquecer o quanto a extrema-direita ficou assanhada durante a campanha eleitoral e muito mais após a vitória, fraudada, de Bolsonaro. Foram muitas as denuncias de violência contra minorias de todo gênero.
O assassinato do professor Cipriano deve ser apurado e os responsáveis por sua morte devidamente acionados, mas é importante ressaltar que não fará diferença se o crime será enquadrado como racismo ou não.
Só tem um modo de combater isso e, no momento, passa por uma luta contra o próprio governo Bolsonaro, que estimula os fascistas a realizarem ataques assim, exatamente como ocorreu na Itália e na Alemanha, na primeira metade do século XX.
É necessário enfrentar os fascistas e congêneres, sejam eles classificados como homofóbicos, transfóbicos, lgbtfóbicos, racistas ou qualquer outro termo, e não importa se existe ou não um crime específico tipificado no Código Penal. A mera denuncia e a lamentação não vão reduzir a violência, é necessário o enfrentamento direto. Essa lição a história já nos deu, não podemos continuar iludidos.
Fascistas, com qualquer disfarce que imaginemos, não se importam com opiniões alheias ou com o que a lei estabeleça, o seu ódio ao outro é maior e mais determinante do que qualquer decisão judicial.
Derrotar os fascistas só é possível no enfrentamento aberto.