No jornal El País, a dupla filo stalinista, Breno Altman e Jones Manuel assinam o texto Caso Stálin: o papel da vilania na História, o texto é mais uma tentativa curiosa dos autores de defender a política contra revolucionária do stalinismo. Para os autores, a violência e a brutalidade cometida por Stálin e seus seguidores seriam plenamente justificadas pela “história”.
Não existe nada de substancialmente novo neste texto, que os autores já não expressaram em outros textos e debates nas redes sociais, desde que o tema veio à baila a partir da repercussão da entrevista do cantor Caetano Veloso na Rede Globo.
Inclusive, o artigo começa por ressaltar a conversão de Caetano de “liberaloide”, como ele mesmo se denominou, em “critico do liberalismo”, um quase “socialista”. Breno Altman e Jones Manuel alimentam a versão de conversão instantânea de Caetano Veloso após a leitura de Domenico Losurdo, “cujas obras teriam sido decisivas para que (Caetano) revisasse suas antigas opiniões sobre as ideias liberais.”
Em seguida, afirmam que Losurdo, autor propagandista confesso do stalinismo não seria stalinista, mas teria feito um estudo “ histórico” balanceado no livro Stálin- História critica de uma lenda negra.
“Losurdo reconhece muitos dos crimes atribuídos ao líder soviético, contesta outros, mas acima de tudo propõe que o balanço desse personagem supere uma suposta moral universal abstrata, sendo submetido ao crivo da análise histórica, dos tempos e suas circunstâncias.”
Os autores que subscrevem as teses stalinistas de Losurdo, procuram passar a noção de que a defesa de Stálin não é uma defesa, mas uma “avaliação ponderada”, e que
“Ao contrário de reabilitar Stálin, como têm sido acusados o filósofo e quem se alinha a suas teses, trata-se de enterrar a dicotomia entre heróis e vilões, substituindo-a por uma apreciação rigorosa do papel concreto dos indivíduos, das condições nas quais intervieram, dos resultados de suas ações, das classes beneficiadas ou prejudicadas por suas atitudes. Dos erros e dos crimes que cometeram, claro, mas inseridos no processo histórico de suas existências, ao lado dos acertos e dos feitos de suas vidas.”
Como ressaltou o historiador Mario Maestri, em texto polêmico com um defensor de Losurdo do PCdoB, os “papagaios de Losurdo” no Brasil, apresentam versões bajuladoras de Stálin como sendo “ exemplos históricos” sem absolutamente nenhuma comprovação por fatos, mas tão somente reproduzem a própria mitologia elaborada pelos apologistas dos “ grandes feitos” de Stálin.
Para tentar escapar de qualquer crítica ao Stálin, e justificar as atrocidades do personagem histórico que liquidou fisicamente praticamente toda a direção do Partido Bolchevique, os autores impugnam qualquer crítica como sendo “ moralismo” e não uma avaliação histórica. E cita Plekhanov para dar um verniz marxista ao culto mistificador de Stálin pelos seus defensores.
“O confronto contra o subjetivismo moralista, aliás, é recorrente na historiografia. Fez-se clássica a brochura O papel do indivíduo na história, de Gueorgui Plekhanov, publicada em 1898. Não seria possível, portanto, analisar qualquer figura relevante do passado ou do presente sem o escrutínio profundo das condições materiais, políticas e culturais que fixaram a cena de sua intervenção.”
Acontece que a referência a Plekhanov, ao contrário do que pensam os autores serve mais para comprovar que o verdadeiro papel de Stálin está muito distante da mística criado em torno dele. Em diversas passagens para justificar Stálin, é apresentada a versão fantasiosa que Stálin como uma espécie de “ guia infalível” derrotou praticamente sozinho a máquina de guerra na nazista.
Um ponto importante abordado por Breno Altman e Jones Manuel é a discussão sobre o uso da violência na história. Corretamente, criticam a campanha do imperialismo que apresenta a URSS como a encarnação de todo mal é simplesmente absurda. A contagem exagerada de mortos é tão somente peça de propaganda dos países imperialistas. O exagero intencional visa encobrir os crimes atrozes dos próprios países “democráticos”.
“A estratégia antissoviética teve como pilares a amplificação dos números da violência política, o menosprezo dos êxitos socialistas e a ocultação das condições históricas (para começar, das permanentes ações imperialistas contra a URSS desde 1917)”
O discurso “moralista” contra a violência revolucionária é uma completa farsa, uma vez que o colonialismo e o imperialismo produziram a quantidade monstruosa de violência contra a humanidade, e os povos oprimidos.
Entretanto, a noção de que a “violência soviética”, que Stálin implementou seria justificada pois precisa ser analisada no “ contexto histórico” é completamente equivocada. A violência stalinista não pode ser justificada, pois não representou os interesses dos trabalhadores, mas os interesses da burocracia russa, que produziu o Termidor soviética, controlando o Estado soviético, e fazendo retroceder a revolução.
A questão não é uso da violência pelos revolucionários, que é evidentemente plenamente justificada na luta pelo poder político. O problema é que a violência perpetrada pelo stalinismo não é revolucionária, mas tem na verdade um caráter contra revolucionária, uma vez que era o uso de métodos brutais para fazer retroceder a revolução, para fazer prevalecer os privilégios da burocracia, que dominou a URSS.
Não obstante é correto rejeitar a abordagem de Hannah Arendt “ao redor do conceito de totalitarismo”, Breno Altman e Jones Manuel não apresentam uma única consistente ao fenômeno stalinista, apresentando a questão a partir da contraposição de aspectos “ positivos e negativos” do legado de Stálin. Em nenhum momento do texto, os autores discutem as criticas e as caracterizações de Trotsky sobre Stálin, a partir de uma análise concreta sobre a burocratização da URSS.