Com mais de oito milhões de pessoas cadastradas no Programa do Microempreendedor (MEI), 54%, ou seja, mais de quatro milhões, estão falindo, inadimplentes até mesmo com as pequenas parcelas mensais devidas à Receita Federal, e que trariam alguns benefícios previdenciários e acesso alguma forma específica de crédito bancário, únicas vantagens da formalização de uma MEI.
O programa, que completou dez anos neste mês, na verdade trata-se de uma medida compensatória para a enorme crise capitalista que assola o mundo inteiro, e que gera uma escalada generalizada de desemprego, ainda mais intensificada pelo neoliberalismo que é imposto a classe trabalhadora mundial.
Ao se ver desempregado e sem conseguir nova colocação muitas vezes por anos a fio, o chamado desemprego crônico, o trabalhador busca saídas para a própria sobrevivência, cada vez mais precárias, onde os antigos direitos e garantias conquistadas a duras penas pelo movimento operário vão sendo reduzidos a nada.
O capitalismo simplesmente não tem mais como resolver esta crise, que a burguesia tenta amortecer a base da disseminação de demagogias ideológicas, como o mito do empreendedorismo, e com programas compensatórios como o MEI.
O problema é que demagogia não paga as contas, e como o dinheiro não vai aparecer no bolso dos explorados por mero passe de mágica, que de uma hora para outra passe a considerar um bikeboy ou uma vendedora de brigadeiros como um promissor empresário, pronto a galgar os degraus da riqueza e da acumulação capitalista, a realidade é que este proletariado que foi convencido que são agora microempreendedores, quando muito, conseguem apenas tocar a vida, e dar conta de algumas de suas necessidades básicas mais cotidianas.
Com o capitalismo em rápido declínio, levando a rápida decadência até mesmo a grandes conglomerados empresariais, como a GM, Ford, IBM, ou a bancarrota completa até a bancos do próprio imperialismo como o Lehman Brothers, não são os trabalhadores recém desempregados, na maioria das vezes sem nenhum capital, que terão condições de vencer a queda livre, em nível global, de todo um sistema econômico falido.
Por mais que tentem convencer o trabalhador cujo único meio de vida é vender sua força de trabalho de que ele pode mudar de classe social e tornar-se um burguês acumulador de capital por ato de simples vontade, a realidade é que esta mudança de vida não passa de mais uma ilusão propagandeada de forma quase religiosa pela burguesia, mas que não alterará em nada a verdadeira natureza social das massas proletárias, conforme agora demonstra a quantidade imensa de MEIs falindo, na casa dos milhões.
Muito mais efetivo que embarcar nestas ilusões da burguesia é a classe trabalhadora se mobilizar em uma luta organizada por seus direitos, como a redução de jornadas de trabalho sem redução de salários, para que todos possam trabalhar.
A crise é do capitalismo e o prejuízo não pode ser repassado aos trabalhadores que não têm nenhum responsabilidade por ela.