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Mais da metade dos mortos pela ditadura eram jovens de até 30 anos

A orientação do presidente Jair Bolsonaro aos quartéis, para que comemorem no próximo dia 31 o aniversário do golpe militar de 64, desencadeia milhares de protestos em todo o país.

A data relembrada pelos militares como “Revolução de 64” e que iniciou um estado de terrorismo que durou 21 anos, com o objetivo de “salvar o Brasil de uma ditadura comunista”, vitimou 434 pessoas reconhecidas oficialmente pelo regime, dentre as quais, 56% eram jovens com menos de 30 anos de idade e 29% tinham menos de 25 anos. Estes jovens foram barbaramente torturados e executados, culpados pelo regime por pretenderem implantar a “ditadura do proletariado”. Dados divulgados pela Folha de S. Paulo aumentam este número, acrescentando mais 600 vítimas, entre camponeses, sindicalistas, líderes rurais e religiosos, padres, advogados e ambientalistas mortos entre 1961 e 1988. No entanto, não se incluiu os mais de 1.100 índios Waimiri-Aitroari  e Paracanãs exterminados, os que morreram internados em hospícios em todo o país ou exilados.

O regime de opressão tão elogiado por Bolsonaro, reprimia qualquer expressão de insatisfação da população. Em manifestações estudantis contra os altos preços, como ocorreu no restaurante público Calabouço, no centro do Rio de Janeiro, na tarde do dia 28 de março de 1968, a primeira vítima do regime, o estudante secundarista Edson Luís de Lima Souto, de 18 anos, foi executado com um tiro à queima-roupa no peito por policiais armados, que invadiram o estabelecimento para reprimir o ato.

Nos famosos “anos de chumbo”, jovens com algum ou nenhum envolvimento na militância política eram assassinados, sob o pretexto de reprimir a luta armada. Após do Ato Institucional 5 a opressão atingiu  qualquer um que se posicionasse contra a ditadura, de acordo com o ex-deputado Adriano Diogo, que presidiu a Comissão da Verdade em São Paulo. “Eu mesmo nunca peguei numa arma e fiquei 90 dias na solitária na OBAN (Operação Bandeirante)”, afirma Diogo.

Durante a ditadura, as passeatas contra o governo eram reprimidas a tiros e a juventude era tida como suspeita, mesmo que não apresentasse qualquer envolvimento com movimentos ou organizações clandestinas. O jovem Paulo Torres Gonçalves, estudante secundarista e funcionário do Ibope no Rio de 19 anos, sem militância comprovada, foi preso pelo DOPS em 26 de março de 1969 e nunca foi encontrado.

Muitos episódios violentos foram registrados como a “sexta-feira sangrenta”, quando a manifestação de estudantes em frente ao prédio do antigo MEC (Ministério da Educação e Cultura), foi reprimida por agentes do DOPS, da Polícia Federal e soldados da PM que atiraram contra o grupo, ferindo três moças. Uma delas, a comerciária Maria Ângela Ribeiro de 22 anos, atingida no rosto, morreu em seguida.

A violência era aplicada por militares de qualquer patente, que invadiam propriedades particulares à sua escolha, sem autorização. Uma dessas situações ocorreu no bar e pensão Estrela Dalva, em Francisco Beltrão, no Paraná, em junho de 1968, quando dois civis e dois militares à paisana tentaram entrar na residência, sendo barrados por Iguatemi Zuchi Teixeira, de 24 anos, um funcionário da casa. No dia seguinte, Iguatemi foi levado para o quartel do Exército, torturado por dias sendo, por fim, fuzilado por um dos soldados com quem tinha se indisposto. No laudo cadavérico, a morte de Iguatemi se deu “por meio de veneno, fogo, explosivo, asfixia ou tortura, ou por outro meio insidioso ou cruel, devido ao número e ao tipo de lesões encontradas”, causada por “anemia aguda por hemorragia interna e externa provocada por ferimentos penetrantes de abdômen e tórax” por “instrumento perfuro-contundente”.

A violência não poupou nem integrantes da corporação, como no caso de  Manoel Alves de Oliveira, de 29 anos, arrancado de casa na frente da mulher e dos cinco filhos pequenos, em abril de 1964, por um homem em trajes civis acompanhado de outros à paisana. O militar foi torturado com ferro quente e recebeu choques elétricos, por ter se candidatado à presidência do Clube dos Subtenentes e Sargentos do Exército e de ser simpatizante do ex-presidente João Goulart.

Os “pseudo suicídios” eram comuns, como ocorreu com o jornalista Vladimir Herzog. O ferroviário José Nobre Parente de 38 anos, preso no Ceará, acusado de participar do movimento dos trabalhadores da RFFSA (Rede Ferroviária Federal), foi encontrado morto na cela em 19 de maio de 1966, “enforcado com o próprio cinto”. Sua mulher Francisca, a última pessoa a vê-lo vivo na cadeia, havia recolhido seus pertences pessoais, dentre eles, o cinto.

Atitude semelhante a do estudante secundarista, Ismael Silva de Jesus era militante do PCB, preso em Goiânia, aos 18 anos, em agosto de 1972. Após um espancamento brutal e muitos choques elétricos, ele teria se matado com uma corda de persiana por sentir “vergonha de estar preso”. Os tais “suicídios” vitimaram desertores da guerrilha como Massafumi Yoshinaga de 21 anos, mulheres como a baiana Esmeraldina Carvalho Cunha, de 49 anos, inconformada com a morte da filha caçula Nilda, de apenas 17 anos, após dois meses de torturas em Salvador.

A violência dos militares não poupou idosos, como no caso de Leopoldo Chiapeti tinha 58 anos, foi preso em Mariano Moro (RS), no dia 30 de abril de 1964, acusado de pertencer ao “grupo dos onze”, ligado a Leonel Brizola. Mantido nu e incomunicável por quase um mês, sofreu choques elétricos, inclusive nos genitais, e afogamentos em água gelada. Sem se recuperar dos traumas sofridos, morreu no ano seguinte.

Sem poupar cidadãos comuns, a ditadura foi ainda mais cruel com aqueles que tinham ligações com a luta armada, independente de idade. O estudante paulistano Eremias Delizoicov, militante da VPR, foi morto aos 18 anos, em outubro de 1969, no Rio de Janeiro, fuzilado com 19 tiros, por soldados do Exército. Seus pais nunca receberam os restos mortais.

Estas e outras tragédias constam no relatório da Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos (https://cemdp.sdh.gov.br/) com 362 registros oficiais de vítimas da ditadura militar (1964-1985), pelo Estado ou por seus agentes, oficialmente reconhecidas, além de outros registros deste período terrível que não deve ser esquecido, mas jamais homenageado.

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