Mesmo tendo os recursos necessários para controlar rigidamente os sistemas políticos, a burguesia procura sempre que possível aprofundar o caráter antidemocrático dos parlamentos. Isso porque não consegue controlar totalmente os processos eleitorais, em especial nos períodos de crise econômica e política.
Ao lado da demagógica campanha anticorrupção, levada a cabo justamente por elementos corruptos, existe a campanha genérica contra a política, que entre outros pontos defende a redução dos parlamentos. Não menos demagógica, essa campanha costuma comparar os salários de parlamentares e professores para justificar um ataque à representatividade política ( engraçado que nunca propõem simplesmente aumentar os salários dos professores e as verbas da educação pública, por exemplo).
Não se trata aqui de enfeitar a realidade, a “democracia” no sistema capitalista não representa o poder da maioria. Mesmo assim, quanto maiores os parlamentos mais difícil fica para a burguesia o seu controle. São mais setores a serem considerados, inclusive nos acordos de bastidores. Torna as operações mais complexas.
Por isso mesmo, em geral esse tipo de demagogia é levada a cabo por grupos de direita e extrema direita. A Itália, que após a queda de Mussolini manteve todo o aparato judicial do fascismo intacto, vai reduzir em um terço o número de parlamentares.
O partido de extrema-direita Movimento 5 Estrelas cresceu em meio à falência política dos partidos tradicionais e tem uma das maiores bancadas do parlamento italiano. Oscilando entre políticas anti-imigração e pautas sociais da esquerda, o partido propôs um referendo para a brusca redução da representação no parlamento. Em meio ao descrédito do regime político entre a população, 69% dos eleitores aprovou a medida.
O fato de que os impulsionadores desse tipo de política são elementos da extrema-direita já dá uma indicação clara de que não se trata de uma pauta democrática. A redução do número de parlamentares facilita o controle da burguesia, que precisa lidar com menos representantes eleitos. A redução nas candidaturas também atuaria no mesmo sentido.
O maior número de candidaturas em está relacionado a uma maior participação no processo eleitoral, sendo impulsionado este ano pelas mudanças nas regras. A proibição das coligações proporcionais impede que partidos se unam para eleger vereadores e cada partido precisa atingir o quociente eleitoral.
Um processo eleitoral realmente democrático deveria ser o mais amplo possível, com grande participação popular, com os recursos iguais para cada candidato e mesmo espaço nos meios de comunicação. Candidaturas individuais, criação de partido sem qualquer intervenção do Estado, dentre outros.