Na última semana, as lojas de eletrodomésticos Magazine Luiza ganharam bastante repercussão na imprensa nacional por anunciar um programa de treinamento exclusivo para negros. Mais recentemente, em um gesto semelhante de demagogia, O Boticário, loja de cosméticos, também decidiu fazer sua demagogia com um dos setores mais esmagados da sociedade capitalista. Menos “ousado”, O Boticário decidiu recorrer a uma cópia tosca e barata da política da Magazine: anunciou que não irá mais utilizar o termo black fridays.
No caso da Magazine Luiza, podemos apontar que a medida é ridiculamente demagógica porque seus donos estão entre os que estão financiando a privatização dos Correios. Como qualquer empresa capitalista, mais ainda da envergadura do Magazine Luiza, está metido em todo tipo de ataque contra os trabalhadores e, obviamente, contra o povo negro.
O “esforço” de O Boticário para fazer sua demagogia não chega a tanto. A empresa, que é gerida por um apoiador explícito do governo Bolsonaro, jura que trocar o nome de black friday para beauty week vai diminuir a quantidade de negros mortos pelo coronavírus, pela polícia e pela fome em nome de seus interesses.
O que chama particularmente a atenção neste caso é que essas empresas estão longe de serem as únicas a fazerem demagogia com o povo negro. Na verdade, diariamente, surgem notícias de que determinada empresa prometeu “valorizar” os funcionários negros, o TSE aprovou uma cota especial para o fundo eleitoral dos negros etc. E toda essa demagogia tem um fundo político.
O fato de a demagogia com os negros — que também se expressa no caso de outros setores oprimidos — estar aumentando não significa que os capitalistas estejam absorvendo suas reivindicações. Na verdade, esse é um sinal de que os ataques estão aumentando, na medida em que a crise econômica se aprofunda. E para amortecer esses ataques, a direita é obrigada a recorrer a todo tipo de demagogia.
Os negros nos Estados Unidos realizaram uma série de manifestações bastante radicais, mas nenhuma de suas pautas estão sendo adotadas pelas empresas. O povo não saiu às ruas para pedir um programa de treinamento, mas sim o fim da polícia e o fim do regime político responsável pelo esmagamento do povo negro. E para que esses fins sejam alcançados, não é possível aguardar esmolas dos capitalistas, inimigos mortais dos negros e dos trabalhadores, é preciso organizar os trabalhadores e todos os explorados em uma guerra contra a burguesia.