Na madrugada do último domingo (1), a favela de Paraisópolis, localizada na zona sul de São Paulo, foi testemunha de mais um massacre provocado pela Polícia Militar (PM). Segundo relato dos próprios moradores, policias invadiram o Baile 17 – considerado um dos mais famosos bailes funk da cidade -, aterrorizando a comunidade e encurralando os jovens com bombas e balas de borracha. O tumulto causado pelos policiais foi tamanho que os presentes na festa, em meio ao desespero, acabaram pisoteando nove pessoas, com idades entre 16 e 28 anos, que vieram a óbito.
Diante da carnificina, a própria Polícia Militar tomou a iniciativa de conceder uma coletiva de imprensa – restrita, obviamente, aos órgãos da imprensa golpista que fazem propaganda da ação brutal da polícia. Na coletiva de imprensa, o porta-voz da PM afirmou que os agentes entraram no baile funk porque estavam perseguindo dois suspeitos de terem atacado policiais de trânsito. Como foram recebidos com pedras e garrafas pelos moradores de Paraisópolis, os agentes teriam agido ostensivamente com balas de borracha, bombas de gás lacrimogêneo e bombas de efeito moral.
As informações dadas na coletiva de imprensa, no entanto, não condizem com os primeiros documentos oficiais sobre o massacre. De acordo com um “breve relato” do Cepol (Centro de Comunicações e Operações da Polícia Civil), assinado pelo delegado Gilberto Geraldi, não houve arremesso de pedras e garrafas contra os policiais nas motocicletas.
Um inimigo muito bem conhecido
Todos os relatos feitos pela Polícia Militar só demonstram que o Estado atua abertamente contra os interesses do povo negro e pobre das periferias brasileiras. A todo o momento, a PM procurou dar as desculpas mais estapafúrdias possíveis para a chacina, mas considerou como um problema menor o fato de que, em uma madrugada, nove pessoas foram brutalmente assassinadas.
Supondo que fosse verdade que a PM estivesse perseguindo um motociclista suspeito de ter atacado um policial de trânsito, supondo que fosse verdade que os agentes foram agredidos com pedras e garrafas, isso seria o suficiente para que um órgão que representa o Estado causasse a morte de nove jovens? Evidentemente que não. Esse número – nove civis mortos em uma madrugada – é uma estatística de guerra, o que reflete exatamente a prática da polícia: uma permanente guerra contra a população.
O fato de que a própria PM tentou justificar a ação ostensiva com a história de que teriam sido agredidos com pedras e garrafas é mais uma prova de que a PM é inimiga do povo e serviçal da burguesia. Se a PM estiver sendo recebida com pedras e garrafas, não há, então, uma justificativa para reprimir duramente o povo, mas sim a comprovação de que a PM é vista como uma velha inimiga das favelas.
De acordo com os relatos dos moradores de Paraisópolis, a PM vem ameaçando os moradores sistematicamente. Há cerca de um mês, após a morte do sargento Ronald Ruas Silva, os agentes da repressão vêm intimidando de forma ainda mais intensa a população. No próprio dia em que aconteceu o Baile 17, policiais estariam revistando carros e agredindo jovens que estavam a caminho da festa.
Um relato colhido pela Ponte Jornalismo escancara a fraude dos argumentos expostos pela PM:
É mentira. Não houve invasão da Rocam. Eles entraram com viaturas da Força Tática e ficaram nos encurralando e brigando de gato e rato com a gente.
A gente ficou sendo encurralado. Eles fecharam as entradas da favela a gente não conseguia sair. Eles pegavam a gente no bairro e sentavam porrada. Foi isso até 5h, quando conseguimos ir embora da favela. Foi isso o tempo inteiro, correndo deles que nem gato e rato. É por isso que a galera foi pisoteada.
Dissolver a PM já!
O massacre de Paraisópolis mostrou mais uma vez de que lado está a Polícia Militar: do lado dos golpistas, que controlam o Estado. A polícia não está nas ruas para proteger os trabalhadores – muito pelo contrário, está nas ruas para atuar como um destacamento armado que usa o monopólio da força para impedir que o povo pobre se manifeste, se reúna ou se revolte contra a política bárbara da direita.
O problema da PM, portanto, não é o dos salários de seus agentes, nem de seus equipamentos, nem da cor de seus uniformes, nem muito menos da formação de seus integrantes. O problema da PM é a classe que a comanda – a burguesia reacionária e golpista, que está disposta a matar o povo de fome para encher os cofres dos banqueiros. O problema da PM é existir – portanto, a única reivindicação verdadeiramente democrática que pode ser feita em torno dessa questão é a dissolução integral e imediata da PM.
Seja em Paraisópolis, seja nas outras favelas de São Paulo, seja na periferia de todo o Brasil e até mesmo no campo: a Polícia Militar vem acumulando dezenas de milhares de assassinatos desde sua criação, o que se acentuou assustadoramente com a ascensão da extrema-direita. É preciso, portanto, organizar uma reação de todos os explorados para pôr abaixo os governos golpistas, inimigos do povo, e decretar o fim dessa máquina de matança chamada Polícia Militar. Fora Bolsonaro e todos os golpistas! Dissolução da PM já!