Ao fim de mais uma semana, o Brasil contabilizava mais de 20 mil infectados pelo novo coronavírus e mais de mil mortos pela doença. Projeções divulgadas na própria imprensa burguesa indicam que, em duas semanas, serão pelo menos 100 mil pessoas portando o vírus, o que, seguindo a atual taxa de letalidade, levaria a pelo menos 5 mil mortos.
Esse cenário oficial, que já muito negativo, não corresponde à realidade. Todos os números divulgados em relação ao coronavírus são altamente subestimados — não há testes para comprovar o número real de infectados, enquanto os relatos, tanto de especialistas, quanto até mesmo dos coveiros, apontam para uma estatística muito mais macabra.
A crise sanitária, no entanto, não está em seu fim, mas apenas no começo. E nesse começo, já se ouvem as notícias de um colapso total do sistema de saúde do Amazonas, que teria mandado uma idosa morrer em casa por falta de leitos, uma taxa de letalidade em Pernambuco superior à da Itália, de que os leitos de UTI deverão começar a se esgotar em todo o país já na próxima semana, da morte de um índio Yanomami de apenas 15 anos e dos equipamentos médicos comprados pelo Brasil que foram roubados pelo imperialismo norte-americano.
Já não está em questão, portanto, se o coronavírus é uma gripezinha ou não, conforme disse o presidente genocida Jair Bolsonaro. A situação no país já é desastrosa e se encaminha para uma verdadeira carnificina — sem que os cães de guarda da burguesia, a Polícia Militar, precisem disparar uma bala. A questão que está colocada, então, é: como evitar que os trabalhadores de fato serão obrigados a verem seus irmãos, parentes, e amigos morrendo dentro de casa por causa de uma política conscientemente assassina por parte da classe dominantes?
O motivo pelo qual a situação no país se encaminha para uma carnificina é óbvia: não há nenhuma vontade da burguesia para que o coronavírus seja combatido. A extravagância do presidente ilegítimo Jair Bolsonaro e sua tremenda impopularidade têm levado a esquerda nacional a criticar sua posição. Isso, no entanto, está muito longe de conter uma catástrofe: nem a denúncia de tipo eleitoral servirá para impedir que Bolsonaro siga uma política de tipo genocida, nem muito menos elogiar os setores da burguesia que divergem em público do presidente ilegítimo resolverá qualquer crise.
Quanto ao primeiro problema, o de que não bastaria denunciar nas redes sociais a ação criminosa do fascista Bolsonaro, é preciso colocar claramente a necessidade de uma mobilização para derrubar imediatamente o governo. Como um representante legítimo dos capitalistas, Bolsonaro não será convencido a mudar de posição por causa de comoventes denúncias: é preciso que a ação revolucionária das massas ponham abaixo o balcão de negócios dos patrões que é o governo Bolsonaro
Quanto ao segundo, que é a causa de maior confusão no momento, é preciso ter claro que não só os governadores e políticos burgueses — isto é, o ministro Luiz Henrique Mandetta, os fascistas Ronaldo Caiado e João Doria etc. — não merecem a confiança da população, como que eles, que hoje são apresentados como os heróis do povo não estão fazendo absolutamente nada para salvar a população. Nenhum dos grandes heróis está testando a população, construindo hospitais, distribuindo mascaras e insumos médicos, nem sequer denunciando a omissão do governo federal nesse sentido. A única política apresentada por esses setores é a de promover a quarentena para alguns setores da população — enquanto os capitalistas matam os trabalhadores dos correios, do telemarketing, da metalurgia etc. — e utilizar unicamente a força policial para garantir essa política. Fica, no entanto, a pergunta: se são heróis do povo, por que não mandam a polícia garantir que os patrões assassinos da indústria automobilística liberem seus empregados, ao invés de bater na população na rua, que está completamente abandonada pelo Estado?
No fim das contas, os burocratas do Estado burguês acabam provando que seu único objetivo, diante da pandemia, é organizar a crise, administrar a situação, para evitar que ela saia de controle e os trabalhadores resolvam definitivamente intervir. Não é um trabalho de salvar vidas, mas sim um trabalho para salvar o regime.