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Eleições no Congresso

Luta contra Bolsonaro ou luta rasteira por um cargo?

A posição dos parlamentares do PT de apoiar o candidato de Bolsonaro para a presidência do Senado revela a farsa da frente contra o fascismo com a direita golpista

Desde o final do ano passado as discussões que dominam a esquerda no País giram em torno das eleições para a presidência da Câmara dos Deputados e do Senado Federal. Primeiro, a esquerda de conjunto decidiu por ingressar no bloco do golpista Rodrigo Maia (DEM) que posteriormente apresentou o nome de Baleia Rossi (MDB), homem de Michel Temer, como o candidato à presidência da Câmara.

Dono da maior bancada da esquerda, o PT enfrenta uma crise interna desde o anúncio da frente com a direita golpista. O PCdoB também decidiu ingressar no bloco e o PSOL deu seu apoio através de parte de sua bancada, Marcelo Freixo e Sâmia Bonfim apresentaram a intenção de se integrar ao bloco golpista.

Algumas coisas ficaram bastante claras nas discussões. Primeiro que a justificativa para a aliança com os golpistas não se sustenta. Maia e Baleia não são oposição a Bolsonaro, pelo contrário, a gestão de Rodrigo Maia na Câmara foi de sustentação fiel ao governo, paralisando os pedidos de impeachment e passando todos os mais brutais ataques contra o povo. Nem precisaria dar exemplos, bastaria lembrar que o bloco golpista do DEM, PSDB e MDB foi o principal articulador do golpe de Estado e responsável pela eleição de Bolsonaro.

Mais farsante ainda foi o argumento de que o bloco com Maia representava uma frente contra o fascismo. Acreditar que elementos do partido da ditadura militar são antifascistas é um caso clínico de loucura.

A eleição no Senado comprovou a farsa

Todo o discurso demagógico para justificar a aliança com os golpistas na Câmara servia na realidade para esconder o real motivo para a tal frente. A busca dos parlamentares da esquerda por algum cargo na Mesa Diretoria da Casa. Em outras palavras, uma aliança oportunista, uma manobra de ocasião para conseguir pequenos privilégios no Congresso.

Mesmo sendo muito óbvio o absurdo de uma aliança com os golpistas, os argumentos e o discurso demagógico sempre confundem a cabeça dos mais desavisados. Mas aí veio a eleição no Senado…

A bancada do PT decidiu apoiar a candidatura de Rodrigo Pacheco do DEM contra a candidata Simone Tebet do MDB. A primeira coisa absurdamente estranha é que na Câmara pode-se apoiar o candidato do MDB, mas no Senado, não.

Mas o mais escandaloso é que Pacheco é o candidato de Bolsonaro, incluindo aí, no mesmo bloco do PT, o filho do presidente fascista, Flávio Bolsonaro.

Então ficou a questão: o apoio ao bloco golpista no Senado também é uma frente oposicionista e contra Bolsonaro e o fascismo? É um bloco contra Bolsonaro com Bolsonaro?

A bancada do PT no Senado até tenta explicar esse malabarismo, mas o fato em si é importante porque desmascara o conteúdo da manobra na Câmara. Fica escancarado que o que busca a esquerda ao apoiar os golpistas nas duas casas do Congresso Nacional não é nenhuma política consequente de luta contra Bolsonaro, o fascismo ou o fortalecimento da oposição.

Como já estava claro, tudo não passa da busca por cargos. Seria mais honesto se as bancadas da esquerda fossem mais sinceras, pelo menos não confundia o povo. Mas a esquerda tem o péssimo hábito de inventar justificativas ideológicas para cometer as maiores lambanças políticas.

O dirigente da corrente interna do PT Articulação de Esquerda, Valter Pomar, escreveu no sítio de sua organização que a bancada do PT no Senado deveria explicar o que está ocorrendo “pois senão alguém pode achar que o motivo é participar da Mesa e tudo o mais.” (Os senadores petistas, Pacheco e Bolsonaro, 12/01/21). Em outro artigo, Pomar pede que a direção nacional do PT mude a posição no Senado “Ou ficará a impressão-quase-certeza de que o argumento utilizado para não lançar candidatura própria e apoiar Baleia Rossi no primeiro turno — ou seja, derrotar Bolsonaro — nunca passou de retórica de ocasião.” (Humberto Costa, Pacheco e o estapafúrdio, 13/01/21)

Pomar suspeita das segundas intenções da bancada do PT. Mas na realidade não devemos suspeitar, está muito claro que o objetivo é meramente uma manobra de ocasião e a participação em algum cargo na Mesa diretora das duas casas.

Não há nenhuma luta contra Bolsonaro, mas tem a luta rasteira por um cargo.

A ditadura das bancadas parlamentares

A posição de Pomar e de outros setores do PT que se colocaram contra a decisão de apoiar os golpistas no Congresso revela outra características importante da esquerda parlamentar. As decisões foram tomadas à revelia não apenas da militância desses partidos, mas da própria direção dos partidos.

Pomar afirma que “O Diretório Nacional do PT delegou à Comissão Executiva Nacional. E a Executiva Nacional delegou às bancadas decidir a tática na eleição das Mesas do Senado e da Câmara dos Deputados” (idem). Fica bastante claro que as decisões na Câmara e no Senado não foram guiadas por uma política partidária, mas foram uma decisão das bancadas.

Trata-se de uma ditadura dos parlamentares. É como se o partido fosse dividido entre os parlamentares, que tomam a decisão que bem entenderem, e o resto do partido, sua militância e sua direção.

Essa revelação explica o conteúdo da decisão. São as bancadas parlamentares as maiores interessadas nas posições dentro do Congresso. Na realidade, os cargos obtidos no Congresso com essas alianças com os golpistas só vão beneficiar esses parlamentares, enquanto isso o restante do partido se desmoraliza.

Não é um caso exclusivo do PT. As declarações de Freixo e Sâmia defendendo a aliança com o bloco de Maia contra a decisão da maioria do partido mostra que o PSOL é um partido dominado pelos interesses individuais dos parlamentares. Se você tem um cargo parlamentar, privilégios, espaço na imprensa golpista, verbas etc, sua opinião vale mais do que a do restante do partido.

Essas eleições revelam o conteúdo político desses partidos da esquerda parlamentar. São partidos antidemocráticos, conduzidos por quem conseguiu autoridade não como militante do partido, mas pelo cargo que a burguesia deu para eles. É uma versão esquerdista do funcionamento de qualquer partido burguês.

A militância do PT e dos outros partidos da esquerda devem se levantar contra essa aberração. Não dá para aceitar essa jogada política rasteira, antidemocrática, atrás de cargos no Congresso.

Para os deputados e senadores, um pequeno privilégio de um cargo no Congresso, para a militância a desmoralização. O que esperar do estado de espírito de milhares de pessoas, ativistas de esquerda, que assistem a essa lambança da esquerda no meio do Congresso golpista. Nunca é demais lembrar que esse Congresso é o mesmo que protagonizou o show de horrores no impeachment de Dilma. São com esses que a esquerda se alia.

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