Quando iniciou-se o processo golpista no Brasil, o PCO foi o primeiro partido a chamar a atenção sobre o fato. A maioria das pessoas acham que o golpe começou em 2015, outros, em 2013. Na realidade, o processo golpista começou claramente em 2012, durante o processo do mensalão no STF.
O PCO era uma voz quase solitária denunciando o golpe. Os militantes do PCO eram chamados até de loucos quando começaram a denunciar o golpe em plenárias e assembleias da esquerda. A esquerda, ou simplesmente afirmava que não havia nenhum perigo de golpe, ou simplesmente dizia que o governo do PT era apoiado pela burguesia e que ela nunca derrubaria o governo.
A situação foi se desenvolvendo. A maior parte da esquerda, que hoje faz propaganda de que foi grande combatente contra o golpe, não apenas dizia que não havia perigo de golpe como afirmava que não se deveria defender o governo do PT, já que se tratava de um governo “burguês”. PSOL e PSTU (este último até hoje se nega a reconhecer que houve golpe) se recusavam a lutar contra a direita. Não dá para descrever todos os episódios desde então, mas vale citar que o PCO era acusado de estar defendendo um governo burguês, enquanto era óbvio que se tratava de uma luta contra o golpe, contra um ataque aos direitos democráticos.
A situação se desenvolveu até o processo contra Lula. Novamente os militantes do PCO foram obrigados a ouvir os ignorantes afirmarem primeiro que Lula não seria preso porque contava com o apoio da burguesia e depois que Lula não deveria ser defendido porque seria um político burguês, muitos até falavam que Lula de fato era corrupto e que portanto não deveria ser defendido.
No meio disso tudo, setores da esquerda – quem não se lembra de Luciana “Viva a Lava Jato” Genro? – defenderam que a operação golpista de fato estaria perseguindo os corruptos. Se colocar contra a Lava Jato seria defender corruptos.
O PCO, durante todo o processo, manteve sua posição de luta contra o golpe e passou a denunciar a perseguição contra Lula e a própria operação Lava Jato. O PCO defendeu, inclusive, políticos da direita contra a ilegalidade da Lava Jato.
O resultado do golpe e da perseguição a Lula foi a prisão do ex-presidente. Uma prisão ilegal, baseada em acusações falsas de corrupção.
Lula foi preso e foi tirado das eleições de 2018. Ficou claro que sua prisão ilegal era parte de uma fraude eleitoral. Como a direita golpista não conseguiria ganhar no voto, prenderam o candidato mais popular.
A esquerda também se recusou a defender Lula até o fim e entregou a eleição para a direita, que se unificou para eleger Bolsonaro. O PCO, novamente, foi chamado de louco por insistir na defesa dos direitos de Lula e em sua candidatura.
Note que, até agora, a posição do PCO é uma posição de princípios. O PCO nunca fez parte dos governos do PT, nem concordou com a política de Lula. Mas a defesa dos direitos democráticos deveria ser um princípio básico para qualquer um que se diz de esquerda. Não é assim para a esquerda pequeno-burguesa, que defende apenas seus amigos.
Finalmente, chegamos aos dias de hoje, mas em outro País, os Estados Unidos. Novamente o PCO está sendo chamado de louco por defender os mesmos princípios democráticos em relação a Donald Trump
No caso de Lula, foi uma perseguição política com o pretexto da corrupção, ou seja, usaram um crime comum para justificar a perseguição. No caso de Trump, a alegação é diretamente política. Ele teria incitado a violência ao chamar seus apoiadores e contestar o resultado eleitoral. Qualquer um deveria ter o direito de contestar uma eleição, estando certo ou errado.
Depois da censura e do banimento de Trump e seus apoiadores das redes sociais, abriu-se um processo de impeachment contra Trump. Como ele já está fora do governo, o impeachment tem o objetivo claro de cassar os direitos políticos de Trump para impedir que ele possa ser candidato em outras eleições.
A direita tradicional não consegue ganhar no voto. Assim como no Brasil, os partidos tradicionais da direita não tem apoio popular. É uma crise que é a expressão da própria crise do regime político.
A extrema-direita, como é o caso de Donald Trump, procura aparecer como uma alternativa a esse regime político, embora de fato não seja. Daí que acaba canalizando parte do descontentamento com o regime. Vem desse fato a popularidade relativa de Trump que a direita tenta frear através de um golpe político.
Novamente, diante da defesa dos direitos democráticos, a esquerda pequeno-burguesa aparece novamente com sua histeria para chamar o PCO de louco. Segundo a esquerda, não se pode ter princípios; se o ataque contra os direitos democráticos é contra um elemento da extrema-direita, deveríamos apoiar, mesmo que isso resulte num poder desproporcional para o Estado imperialista, essa verdadeira máquina fascista contra o povo.
Os mesmos esquerdistas que hoje dizem que o PCO estava louco de defender os direitos de Lula por ele ser “burguês” agora repetem o erro ao defender a censura e arbitrariedades contra Donald Trump.
A defesa dos direitos democráticos não deve valer apenas para os amigos políticos. É um problema de princípios e portanto deve valer inclusive para os inimigos políticos. No caso de Donald Trump a esquerda fala que não pode defender os direitos democráticos porque ele é um fascista, no caso de Lula, essa mesma esquerda dizia que não se podia defender seus direitos porque ele seria um político burguês e conciliador.
Antes que os histéricos digam que estamos comparando Lula e Trump, é bom reforçar para a esquerda que sofre de problemas cognitivos que a comparação diz respeito aos problemas dos direitos democráticos. No caso de Lula, não apenas achamos que devemos defender seus direitos como defendemos levar isso até o fim defendendo sua candidatura nas próximas eleições, coisa que a esquerda não quer fazer.
No caso de Trump, logicamente, trata-se de denunciar os ataques aos direitos democráticos e ao mesmo tempo mostrar que a extrema-direita deve ser combatida não usando os métodos fascistas do Estado imperialista, mas com os métodos políticos da própria classe operária.
A direita se surpreende com a posição do PCO. Isso porque a burguesia tem uma política oportunista, os direitos democráticos só valem para seus aliados. A esquerda imita a burguesia nesse sentido.
