No dia 8 de novembro, o ex-presidente Lula, maior líder popular do país, deixou, enfim, as masmorras da Polícia Federal em Curitiba. Perseguido pela burguesia golpista, Lula estava encarcerado há quase 600 dias, o que contribuiu para que o regime político entrasse em uma crise gigantesca. Afinal, Lula estava preso sem ter sido julgado plenamente, com seus direitos políticos cassados, e condenado em um processo escancaradamente fraudulento, conforme demonstrado por uma série de denúncias e, sobretudo, pelos vazamentos divulgados pelo portal The Intercept Brasil. Enquanto isso, o fascista Jair Bolsonaro, apoiado pelo “centrão”, está destruindo o país, levando o povo a um nível de insatisfação que beira a rebelião.
A liberdade de Lula é resultado dessa crise. A burguesia, encurralada pelos levantes na América Latina em países como o Chile e o Equador, bem como pela forte tendência à mobilização no Brasil e pela crise imensa em que o governo Bolsonaro se encontra, decidiu fazer um acordo entre todos os setores do bloco golpista – incluindo as Forças Armadas – para que o ex-presidente pudesse sair da cadeia.
A tendência à mobilização se viu em vários momentos no último período. Nos dias 14 de setembro e 27 de outubro, milhares de pessoas se deslocaram até Curitiba para exigir liberdade imediata para Lula. Isso aconteceu mesmo sem haver uma convocação ativa das direções das maiores organizações da esquerda nacional, o que revela uma enorme disposição da população em lutar pela soltura do ex-presidente. A revolta contra o governo Bolsonaro, por sua vez, tem aparecido frequentemente em quase todas as manifestações populares. Festivais de cultura, atos políticos e até mesmo os mutirões de limpeza das praias do Nordeste viraram palco ara que o povo protestasse contra o presidente ilegítimo. Em maio, mais de um milhão de pessoas já haviam saído às ruas contra a política neoliberal levada pelo governo Bolsonaro.
A crise do governo, por sua vez, é resultado da própria tendência à mobilização, que fez com que a base social da extrema-direita ficasse acuada e fosse desmascarada como um setor minoritário da população, e do total fracasso da política econômica de Bolsonaro, que se deve, sobretudo, às condições improvisadas sobre as quais ele subiu ao poder e à crise econômica global. Demonstrações dessa crise são o fato de que o partido de Bolsonaro, o PSL, está rachado e que até mesmo a imprensa burguesa vem apresentando denúncias contra o governo.
A liberdade de Lula é, assim, uma tentativa da direita de impedir que o país convulsione. No entanto, ao ser obrigada a conceder a liberdade ao ex-presidente, a direita assistirá ao fortalecimento da figura do maior líder popular do país, que é um polo fundamental de mobilização dos trabalhadores. Se a população está mostrando disposição de lutar contra a direita, a tendência é que, com Lula solto, essa disposição seja catapultada. Com Lula nas ruas, o movimento operário e popular deve ganhar ainda mais confiança para enfrentar os seus algozes.
Diante disso, a liberdade de Lula, independentemente da política que será adotada pelo ex-presidente, fortalece a luta pela derrubada do governo Bolsonaro. A vitória parcial que representa a soltura do maior líder popular do país mostra que, ao contrário do que diziam os ideólogos da esquerda pequeno-burguesa, é possível vencer a luta contra os golpistas que estão devastando o país.