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A verdadeira diferença na esquerda é entre os que querem libertar Lula e derrotar o golpe e os que não querem

Matéria publicada nesta segunda, dia 8, pelo jornal imperialista El País, sobre os atos do último domingo, pela liberdade de Lula procura destacar uma divisão da esquerda em torno do eixo de mobilização na atual etapa, em meio a um agravamento da crise do governo ilegítimo de Jair Bolsonaro, no momento em que esse completa 100 dias de duração desastrosa.

Mesmo apresentando um ângulo totalmente falso e artificial, de tipo sociológico, o jornal toca em uma questão importante na nota intitulada “Lula e Marielle, símbolos de duas esquerdas separadas nas ruas“: o da evidente divisão da esquerda diante de uma questão central na etapa atual, a luta pela liberdade do ex-presidente Lula.

Segundo o autor, jornalista, Felipe Betin, o ato realizado em São Paulo teria sido “marcado por algumas ausências”. Para ele, “a pequena multidão reunida na avenida Paulista… era composta, em sua maioria, por pessoas oriundas de uma classe média trabalhadora que possuíam uma média de idade que facilmente beira os 50 anos”, e acrescenta que, “salvo exceções… faltaram os jovens… que há menos de um mês, no dia 14 de março, engrossavam outra manifestação, a que recordava o primeiro ano da brutal execução da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes”.

Embora as observações do autor – que mostra que tem lado nessa divisão – não seja propriamente um senso da presença no ato, ela apenas oculta o fato – notado por muitos dos presentes – de que havia ausências e muitas notadas no ato e que correspondem a uma diferença real, e não etária, que ocorre, na orientação política da esquerda nesse momento.

Embora tenha contado com uma presença significativa de ativistas e militantes da esquerda, incluindo jovens do PT, PCO, PCdoB e outros, ficou evidente que o ato não foi resultado de uma ampla mobilização impulsionada pelos partidos de esquerda e pelas poderosas organizações de massas que esses dirigem, com amplo poder de mobilização. Isso quando as pesquisas das próprias instituições e institutos que apoiaram o golpe, ligados – por exemplo  – à imprensa golpista (como Datafolha/Folha de S. Paulo e Ibope/O Globo) mostram a enorme revolta contra o governo Bolsonaro, que sinalizam um crescimento do apoio do ex-presidente Lula.

Estavam ausentes nos atos dezenas de políticos que se elegeram ou fizeram campanha como “candidatos de Lula” nas eleições, prometendo “não largar a mão de Lula”; não estiveram presentes caravanas organizadas pela maioria dos partidos políticos da esquerda e organizações sindicais e populares que, em muitas oportunidades, antes das eleições, se mostram presentes (como o MST, MTST, sindicatos etc.). Em alguns atos, alguns desses elementos comparecem com pequenos estafes (sem realizar qualquer mobilização) para fazer auto-propaganda e não se desmascaram totalmente diante da militância combativa que quer lutar pela liberdade de Lula.

O motivo é claro, e fica a cada dia mais evidente para milhares militantes: um setor da esquerda, sua ala burguesa e pequeno burguesa, liderada pelos que desejaram “sucesso” ou “boa sorte” para o presidente Bolsonaro (como Ciro Gomes, PDT e Fernando Haddad, PT), que apoiaram a eleição do deputado do DEM, Rodrigo Maia, que liderou a aprovação da famigerada reforma trabalhista e, agora, ajuda a encaminhar a aprovação da “reforma” da Previdência, para a presidência da Câmara dos Deputados (como o PSDB), além de setores que até mesmo apoiam esse roubo da aposentadoria de milhões de brasileiros, em favor dos banqueiros (como os governadores do Nordeste do PSB, PT e PCdoB), há muito deixaram de lado qualquer luta contra o golpe e passaram a defender uma “frente ampla” com setores da esquerda, entre os quais há quase um consenso de que a defesa de “Lula livre não unifica” (como defendem líderes do PSOL e de outros partidos “da esquerda”).

Para esses setores a defesa de Lula tinha (e também de Marielle etc.), tinha e continua tendo um caráter eleitoral. Serve apenas quando isso pode ser usado para conquistar um apoio eleitoral de esquerda, claramente identificado com o ex-presidente Lula.

Por isso para muitos desses dirigentes ou setores por esses influenciados, a atividade em defesa de Lula, deve ter um caráter apenas demonstrativo, ter um caráter acessório, para pressionar no sentido de negociações em torno de outras questões que eles consideram fundamentais, como as eleições e as negociações com setores golpistas de dentro e fora do governo com os quais eles julgam ser possível chegar a um acordo, seja para apresentar uma “alternativa” comum diante da crise do governo Bolsonaro, juto com os próprios golpistas, seja para esperar e se articular em torno das futuras eleições de 2020 e 2022.

Esta questão se refletiu não apenas nos atos de domingo, mas domina toda a atividade interna e externa da esquerda, inclusive, sendo o eixo da divisão interna da maioria dos partidos de esquerda onde há alas a favor de uma mobilização real em defesa da liberdade de Lula e outras contrárias (embora poucos, ou ninguém, ouse afirmar isso publicamente).

O autor também assinala outras distinções entre os públicos, “mais sutis’, segundo ele, que serviriam para “caracterizar essas duas esquerdas que nem sempre tem prioridades parecidas”. E cita como exemplo, a intervenção do dirigente do Partido da Causa Operária (PCO) no ato, Antônio Carlos Silva, em que o mesmo atacou o ministro Antonio Dias Toffoli, presidente do Supremo Tribunal Federal, afirmando que “Toffoli é a menina dos militares. Remarcou o julgamento do STF para evitar que Lula fosse posto em liberdade”; para afirmar – de forma indireta que a afirmação com suposto “teor machista” não não teria apoio no ato o ato por Marielle e Anderson no Rio, onde prevê que o mesmo “teria sido fortemente vaiado”.

A matéria apresenta diferenças secundárias entre os atos, como os fatos de que o ato do Rio teve “poucos homens e lideranças partidárias” [a exceção de psolistas, segundo ele “consideradas as herdeiras políticas de vereadora assassinada”— “tenham subido no palco montado na Cinelândia, no centro do Rio” e que “escutava-se uma multidão entoando o samba enredo da Mangueira.” e que “ao invés de um discurso político como gran finale, o ato terminou com um grande baile funk”, enquanto no ato de São Paulo “escutava-se o clássico Guantanamera, uma marca da ainda reivindicada Revolução Cubana.

Tais “diferenças” apenas reforça o caráter conservador, oculto por detrás da aparência e palavreado pseudo radical de setores da esquerda que não querem lutar pela liberdade de Lula e contra o golpe de Estado, não querem promover um ampla mobilização em favor das reivindicações populares contra o golpe, e procuram dar aparência “radical” à sua atividade em torno de questões pessoas, identitárias, de forma e não de conteúdo.

Na matéria o autor assinala que “a esquerda precisa de unir em grande frente progressista”; explicitando essa frente como a “que chegou a se desenhar nas ruas com o movimento #EleNão, contra o então candidato e atual presidente Jair Bolsonaro”. elesnaoOu seja, faz campanha a favor da frente que de nada serviu para defender qualquer interesse concreto dos trabalhadores, mas que tentou – sem sucesso – dar sobrevida a uma candidatura da burguesia golpista (preferencialmente a de Alckmin), apresentando partidos e candidatos da direita golpista como um “mal menor” do que o candidato que não tinha – naquele momento – o apoio de setores importantes do imperialismo (como expressou The Economist) e que foi impulsionado por agentes tão fascistas quanto a revista Veja, a jornalista Rachel Scheherazade, o jurista do impeachment Miguel Reale Jr. e o próprio candidato Geraldo Alckmin, conhecido por comandar a Polícia Militar mais mortífera do País.

São justamente os maiores defensores e praticantes do #EleNão, em 2018, que – agora – defendem a “frente ampla” com os golpistas, com aqueles que não querem lutar pela liberdade de Lula, pois isso seria se colocar contra uma das questões centrais para todas as alas do golpe (de dentro e de fora do governo), que querem manter Lula preso, como também para os explorados e suas organizações de luta, para as quais a libertação de Lula constituíra-se num reforço fundamental na luta por derrotar a ofensiva contra suas condições de vida e por colocar abaixo todo o regime golpista de expropriação das massas e destruição da economia nacional em favor do grande capital.

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