Uma das principais empresas capitalistas do mundo, a Apple anunciou nesta sexta feira 13, o fechamento de todas as suas 500 lojas espalhadas pelo mundo, exceto as da China, incluindo, claro, as lojas de São Paulo e do Rio de Janeiro. Comunicado emitido pelo presidente da empresa alega a preocupação com a propagação do coronavírus como razão para medida, que segundo o executivo, inclui também o teletrabalho para os funcionários dos escritórios fora do país asiático. Embora a razão alegada seja evitar a propagação da pandemia, a empresa, que tem suas fábricas sediadas na China, já vinha enfrentando dificuldades em função da paralisação da produção no país. Além disso, e até mais importante, a Apple não é a única empresa fechando lojas na rede varejista.
Em 2019, mais de 9.300 lojas de grandes redes do varejo americano foram fechadas, no que vem sendo chamado pela imprensa americana de “apocalipse varejista”. O número de lojas fechadas superou o recorde anterior, registrado em 2017, de aproximadamente 8 mil lojas. Antes da sensível deterioração do mercado varejista por conta do coronavírus, até o final de janeiro de 2020, a estimativa desse setor para os Estados Unidos era mais 14 mil lojas fechadas para esse ano, o que traria o terceiro recorde registrado num intervalo de 3 anos. Com a piora generalizada provocada pela pandemia, que tem tirado pessoas das lojas em todos os países atingidos, ainda não se sabe o tamanho do estrago mas certamente podemos esperar algo próximo de uma catástrofe.
A análise mais comum é a de que o comércio eletrônico fatalmente irá substituir as lojas mas trata-se de uma simplificação. Primeiro por que lojas físicas demandam mais infraestrutura, tanto para construição quanto para manutenção predial e todo o aparelho urbano necessário. Segundo e mais importante, geram muito mais empregos. Em um país cuja força de trabalho estava estimada em 160 milhões de trabalhadores no ano de 2018, 29,8 milhões destes estavam alocados no setor varejista, o que implica em 18,62% da força de trabalho norte americana, a maioria (17,5 milhões) empregada em 50 grandes redes do varejo. No contesto de uma economia em estado já crítico, o desemprego de tão expressiva parcela da população trabalhadora tende a resultar em um aprofundamento enorme da crise, redução na circulação de dinheiro, pressão sobre a força de trabalho ocupada, rebaixamentos de salários entre outras mazelas conhecidas pela classe trabalhadora.
A opção de acabar com o varejo físico e centralizar as operações de comércio nos meios digitais pode ter feito a alegria de capitalistas como Jeff Bezos, tido como o homem mais rico da história moderna. Outras empresas, como a Apple, estão de olho numa oportunidade para aumentar ainda mais sua margem de lucro. Para os 57 mil trabalhadores americanos que perderam seus empregos com a enorme onde de lojas fechadas em 2017 e os quase 15 milhões sob ameaça de perderem os seus nos próximos anos, a história é completamente oposta. Para a economia do país, uma tragédia que o enorme reforço vindo com a crise do coronavírus tende a acentuar.
