A violência nas periferias é recorrente tema da imprensa burguesa. O senso comum – errado, simplório – coloca a culpa, de maneira bastante demagógica, em “falta de ação do Estado”, pobreza, etc. Entretanto, a realidade mostra o extremo oposto.
Os números altíssimos de mortes nas favelas, vilas e comunidades do Brasil inteiro têm suas raízes não exatamente na falta de ação do Estado, mas devido à própria natureza do Estado burguês. Os assassinatos nas regiões mais pobres são causados, em grande medida, pela repressão de agentes do Estado, como a Polícia Militar e a Guarda Municipal.
Na última quinta-feira (21 de maio), a PM do RJ assassinou o jovem Rodrigo Cerqueira (19 anos) enquanto este participava de ação solidária junto a colegas do pré-vestibular social Machado de Assis no Morro da Providência.
Uma jovem, que estava lá durante o ocorrido, ao jornal Voz das Comunidades, descreveu que polícia, encapuzada, como verdadeiros bandidos, chegou atirando. Após balear o jovem, os demais se dispersaram, enquanto os cães de caça da burguesia continuaram disparando contra o rapaz. Os policiais impediram que qualquer um se aproximasse de Rodrigo, ainda vivo. Rodrigo chegou ao hospital já morto.
Rodrigo terminava seus estudos no Colégio Estadual Reverendo Hugh Clarence Tucker, se preparava para o vestibular, apesar da pandemia, e trabalhava como camelô na Ocupação Elma.
A PM, cínica, diz que a sua Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) durante a operação confrontaram criminosos armados e que um suspeito (Rodrigo) foi baleado e veio à óbito. Isto mostra claramente o modo de operação da polícia. A sua unidade “pacificadora” vai até as comunidades, mata indiscriminadamente a classe trabalhadora e ainda tem a completa “cara-de-pau” de chamar o trabalhador de bandido.
Ainda segundo a nota da PM, eles ainda deixam claro que utilizaram armamento de baixa letalidade contra a população que estava revoltada pelo assassinato.
Assim como Rodrigo, João Vitor Gomes da Rocha, outro jovem, outro negro, outro morador da periferia, foi assassinado 24 horas antes. João Vitor também entregava cestas básicas durante seu assassinato.
A Polícia Militar e o aparato de repressão do Estado servem aos interesses da burguesia e dela somente. Nem a atual política de isolamento freia a máquina de matar negros e pobres. Segundo dados do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC), o número de mortes decorrentes de ações policiais aumentou 57,9% em abril de 2020 se comparado com o mesmo mês no ano anterior.
Os governos de direita, apoiados amplamente pela esquerda pequeno-burguesa, preparam o “lockdown” nas cidades. Trocando em miúdos, o “lockdown” nada mais é que um estado de sítio para a população pobre, uma maneira de impedir que as massas se rebelem contra o regime político.
A classe trabalhadora será violentamente reprimida e forçada a cumprir o isolamento, mesmo que sem as condições materiais necessárias. Os que precisarem trabalhar, principalmente para atender o consumo das classes mais elevadas, serão expostos a condições cada vez mais degradantes, sob pena de irem pro olho da rua em plena crise econômica e sanitária.
A polícia usará o estado de sítio como desculpa para prender e matar os pobres, especialmente os negros, a maioria. Enquanto isso, não haverá, de fato, punição alguma para os patrões que obrigarem seus funcionários a trabalharem. Pelo contrário, talvez até ganhem um “tapinha nas costas” por estarem “ajudando a economia”.
Portanto, a política direitista do “lockdown” não passa de uma arapuca da burguesia contra a classe trabalhadora. O povo deve ir às ruas e exigir políticas públicas reais e eficazes contra a pandemia e a crise econômica e pelo fim da PM e do aparelho de repressão do Estado burguês!