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Uma política a ser rechaçada

Lições para 2022: Uma autópsia do caso Joaquim Levy

A aliança com a burguesia nos momentos de polarização não constitui um meio de acúmulo de forças contra a extrema-direita, mas a debilitação das forças de esquerda

Em momentos de polarização política, em que a luta de classes se acentua, setores pequeno-burgueses, exasperados pela crise, não veem outra alternativa para o retorno à normalidade que estender a mão ao inimigo na tentativa de um novo pacto. Essa mentalidade e metodologia política pode ser vista na situação política atual. A principal liderança política nacional e o principal representante da esquerda, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, conquistou, ainda que de maneira provisória, seus direitos políticos, brecha aberta pela crise no interior do bloco golpista.

A polarização aumenta instantaneamente, as massas e as organizações operárias se deslocaram para apoiar Lula como candidato da esquerda nas próximas eleições. A direita, travestida de centro, com a política de frente ampla naufraga, a extrema-direita no governo procura se reforçar e tornar-se mais coesa e autoritária. No entanto, levantam-se vozes, vindas da esquerda-pequeno burguesa, notadamente o PSOL e a ala mais à direita do próprio Partido dos Trabalhadores, para defender a estratégia da frente ampla, ou seja, da aliança da esquerda com a direita que se veste de centro para derrotar Bolsonaro e o fascismo. Segundo tais vozes, mesmo que Lula se firme como candidato da esquerda, é necessário estender a mão a direita para pacificar o país.

Em política, como é sabido, nem sempre a soma de dois termos dá um resultado maior que cada um deles, essa política não terá como resultado um acúmulo de forças para derrotar um inimigo comum, ao contrário, essa política atende aos interesses do bloco inimigo, incluído o bolsonarismo, contra quem, supostamente a frente pretende derrotar. São estas forças escusas no interior da esquerda que pesam contra o lançamento da candidatura Lula sem acordo com a direita.

Vejamos um caso concreto que exemplifica o erro de estender a mão a burguesia, ainda mais em períodos de grande polarização. O Partido dos Trabalhadores foi para as eleições de 2014, para a reeleição da presidenta Dilma Rousseff, já sob intensa campanha golpista da burguesia brasileira contra o PT e a esquerda. A eleição foi uma das mais polarizadas dos últimos anos e utilizou de todos os recursos, inclusive fraudes, mas não logrou êxito. A presidenta Dilma foi reeleita no segundo turno por pequena margem de votos contra o candidato tucano Aécio Neves.

Mesmo após ser eleita democraticamente, a burguesia não aceitou o resultado, seguiu-se uma campanha golpista aberta contra Dilma da parte de toda a burguesia. Acirrou-se a divisão da sociedade brasileira, de uma lado a burguesia, de outro a maioria do povo que elegeu Dilma e o PT.

A tendência pequeno-burguesa de conciliar com a burguesia em nome da paz social se impôs. Dilma ao anunciar sua equipe de ministros colocou Joaquim Levy, conhecido como “mão de tesoura”, por ser devoto do neoliberalismo, como ministro da Fazenda. Levy, um economista neoliberal formado na Universidade de Chicago, homem de confiança do mercado financeiro, dos banqueiros e investidores, foi o aceno do governo à burguesia no sentido de selar um novo pacto de civilidade.

Levy já havia sido utilizado nesse sentido no primeiro governo Lula, porém a situação era outra. Com o anúncio de Levy esperava-se que a burguesia tivesse uma atitude mais amigável com o governo, foi dado ao ministro a possibilidade de realizar um ajuste fiscal limitado, como demonstração boa vizinhança do governo para com a burguesia. O fato era que com essa concessão o governo esperava conter a sanha golpista da burguesia, fora seu maior erro. Essa concepção, essa conciliação não apenas não conteve a burguesia, como na verdade acelerou a queda de Dilma.

O ministro Levy vivia no governo uma contradição, embora fosse dada a possibilidade de ajuste fiscal, esse era demasiado limitado para os planos da burguesia, o próprio governo não conseguia cumprir as demandas exigidas pela burguesia por meio de Joaquim Levy. O ministro não conseguiu cortar os programas sociais e teve de adotar outras agendas, como aumento de impostos e a proposta de criação de nova CPMF. O ministro permaneceu quase um ano no cargo, saindo meses antes da queda do governo.

O estopim para sua saída teria sido a questão do déficit primário, do dinheiro do Estado reservado para pagamento de juros aos bancos e investidores, o governo teria se comprometido a estabelecer um déficit primário de 1,5% do PIB em 2015 e 2,0% em 2016 e 2017.

No entanto, o governo decidiu revisar a meta em junho, a meta de superávit primário de 2015 caiu para o equivalente a 0,15% do PIB, admitindo inclusive a possibilidade de terminar o ano com um déficit de até R$ 26,4 bilhões. Também a meta para 2016 caiu 0,7% do PIB. Um mês depois, a equipe econômica revisou novamente o número para um déficit de R$ 0,34% do PIB. Agências internacionais rebaixaram o grau de investimento do país.

O rebaixamento criou uma crise que se arrastou, Levy exigia que a meta se mantivesse ao menos em 0,7% em 2016, conseguiu um acordo com Dilma, mas no final do ano a meta deve ser ser rebaixada para não afetar gastos sociais e Levy deixou o cargo.

A contradição é evidente, um governo de esquerda que se apoie minimamente nos trabalhadores não tem como levar adiante o programa neoliberal de destruição das políticas sociais e trabalhistas tal como a burguesia necessita, e portanto a aliança, do ponto de vista da burguesia é inválida, pois não atende seus interesses. Mesmo com Levy como seu representante no governo em um dos principais ministérios, a burguesia organizou uma das maiores campanhas contra um partido de esquerda e um governo já vistas na história do país.

A presença de Levy no governo, por outro lado, colocou inúmeros setores da esquerda na defensiva em relação à defesa do governo contra o golpe. Muitos participaram abertamente da campanha golpista utilizando justamente o ajuste de Levy como mote. É o caso de Guilherme Boulos, do PSOL, do PSTU, que apoiavam a queda do governo, prometendo radicalizar contra Dilma se essa aplicasse o tal ajuste; muitos setores até dentro do PT que se recusaram a defender o governo. O próprio PT e o governo chegaram à conclusão de que o governo não era popular.

A imprensa capitalista explorou a situação, mostrando como se o governo desagradasse todos os setores, uma vez que havia manifestação contra o governo da direita e da esquerda pequeno-burguesa, notadamente a frente Povo Sem Medo, criada por Boulos para se contrapor a frente Brasil Popular, tida por eles como governista.

A presença de Levy não conteve o golpe, acelerou na medida em que foi um elemento de desmoralização da esquerda, que colocou-a na defensiva e a confunde. A burguesia utilizou cinicamente esse fato na campanha contra o governo, e o governo caiu como se não tivesse apoio algum.

Essa é uma lição para 2022, estender as mãos para a burguesia é o mesmo que dar as costas para seu inimigo que somente espera o melhor momento para te golpear. Somente um amplo movimento da esquerda, dos trabalhadores, das organizações em torno da candidatura Lula pode criar uma força capaz de levar a vitória, de impor a burguesia um regime democrático, e até mesmo o que pode possibilitar avançar na constituição de um governo dos trabalhadores da cidade e do campo

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