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Demagogia stalinista

Lições antiimperialistas por quem lambe as botas do imperialismo

Youtuber do PCB, que apoiou o golpe de Estado no Brasil, acusou os trotskistas de colaborarem com a burguesia internacional em suas conspirações contrarrevolucionárias

Se o ano de 2020 foi marcado por uma pandemia devastadora e pelo avanço da direita no regime político, ao menos um indivíduo teve muito o que comemorar: o youtuber Jones Manoel, hoje filiado ao Partido Comunista Brasileiro (PCB), viu sua carreira alçar voo ao ser premiado pela Folha de S.Paulo e pelo lavajatista Caetano Veloso. Em mais uma demonstração de gratidão à burguesia golpista que lhe cedeu uma pequena parcela de privilégios, o youtuber decidiu, a poucos dias do fim do ano, publicar em suas redes sociais mais uma calúnia contra o programa revolucionário da Quarta Internacional, fechando com chave de ouro um ciclo de intensa colaboração com a política da frente ampla. Disse ele:

O conteúdo da calúnia pode assustar o leitor. Não tanto pelo cinismo, que já é típico da esquerda pequeno-burguesa, capaz de todo tipo de manipulação e falsificação para justificar as suas capitulações. Mas sim pelo fedor de um cadáver tão apodrecido que Jones Manoel resolveu desenterrar: a velha acusação stalinista de que os trotskistas estariam alinhados com o imperialismo para afundar as revoluções operárias.

Aqui, não por uma coincidência, há dois debates que precisam ser feitos. Ambos se complementam e servem para estabelecer de maneira incontestável qual a posição científica — isto é, marxista — diante da questão. O primeiro debate é o de que o sujeito que se arroga no direito de criticar a esquerda por colaborar com o imperialismo é, ele próprio, um colaborador de primeira linha, tendo apoiado o golpe de Estado no Brasil e servido de cabo eleitoral para um candidato que diz que a Venezuela não é democrática. O segundo é que o trotskismo não só não está alinhado com o imperialismo, como é o setor mais consciente do proletariado no sentido de denunciar os vergonhosos acordos entre a burocracia stalinista da União Soviética e a burguesia internacional.

Comecemos pelo primeiro debate.

O período no qual Jones Manoel iniciou a sua atividade política — e que é o mesmo até este momento — é o da nova ofensiva do imperialismo diante da crise econômica de 2008. A partir de então, foram orquestrados uma série de golpes de Estado, a extrema-direita começou a levantar a cabeça, os regimes capitalistas foram se mostrando cada vez mais fragilizados e os ataques contra a classe operária se tornaram ainda mais duros. Apenas uma única organização foi capaz de analisar corretamente os acontecimentos deste período, elaborar uma política acertada e intervir com alguma influência na situação: o Partido da Causa Operária.

Comprovando, pela experiência prática, ser a vanguarda do movimento operário brasileiro, o PCO previu, ainda em 2013, o golpe contra os governos do PT, fez uma campanha nacional contra a prisão do ex-presidente Lula, organizou os mais importantes atos pela sua liberdade, denunciou a fraude eleitoral de 2018, lançou a campanha pelo Fora Bolsonaro, defende incondicionalmente o regime chavista, criticou as capitulações do kirchnerismo e de Evo Morales, denunciou a fraude em torno do processo constituinte no Chile, elaborou um programa de combate à pandemia, saiu às ruas contra a extrema-direita enquanto a esquerda se escondia debaixo da cama e está denunciando a frente ampla no Brasil e nos Estados Unidos. E o “revolucionário” Jones Manoel??

Enquanto a direita preparava o golpe contra o PT, Jones Manoel e o PCB ingressaram na Frente Povo sem Medo, articulada por Guilherme Boulos (MTST e PSOL) para desgastar o governo de Dilma Rousseff. Em 2019, já durante o governo Bolsonaro, o PSOL admitiu que foi às ruas com o interesse de desestabilizar o governo petista quando lançou a famigerada campanha contra o ajuste fiscal:

Combater a direita golpista, orquestrada e financiada pelo imperialismo? Nem pensar! Jones Manoel estava saindo às ruas contra o “terrível” ajuste fiscal do governo do PT. Ajuste esse que pareceria uma reforma progressista quando comparado ao arrocho do governo golpista de Michel Temer… Na época, o youtuber chegou a bradar, com orgulho: “não entramos na histeria do golpe”. Boulos, Jones Manoel, o PSOL e o PCB ajudaram a derrubar o governo do PT, na medida em que não fizeram campanha alguma contra o golpe e, ainda por cima, tentaram jogar a população contra um governo que estava sendo derrubado. Isso sim é um perfeito exemplo de alinhamento com o imperialismo.

No caso do ex-presidente Lula, a política de Jones Manoel foi a mesma. Jones Manoel e o PCB se recusaram a fazer qualquer tipo de campanha contra sua prisão. Sequer participaram dos atos em Curitiba em maio e setembro de 2017, quando Sergio Moro pretendia sequestrá-lo. No dia de sua prisão, afirmaram que se tratava de uma arbitrariedade, mas, até hoje, não tomaram qualquer ação efetiva sobre isso. Durante o tempo em que Lula esteve preso, nem mesmo procuraram participar dos comitês Lula Livre.

Em entrevista recente de Jones Manoel, cedida ao petista Breno Altman, o youtuber reafirmou sua posição:

“Na época, eu mantive a posição de que isso não deveria ser pauta central das esquerdas. Inclusive continuo mantendo a posição: isso não é pauta central das esquerdas, especialmente nos espaços em que se estavam sendo construídas as mobilizações de base. Por exemplo, em lutas pela educação, pela saúde, não se deveria empurrar o Lula Livre nessas pautas específicas”.

Ora, se nos momentos em que a população estava mobilizada, a esquerda não deveria levar a pauta da luta pela liberdade de Lula, quando então deveria fazê-lo? Em seu próprio argumento, Jones Manoel deixa claro: a liberdade de Lula, maior perseguido político do imperialismo no atual regime brasileiro, só deveria ser instrumento de demagogia, e não de uma luta real.

A consciência política é algo prático. Os trabalhadores compreendem aquilo que precisam compreender a partir de sua experiência prática, e não de uma propaganda genérica. Sendo assim, o melhor momento para explicar às massas o problema do poder político, expresso claramente na perseguição a Lula, seria justamente o momento em que os trabalhadores estivessem mobilizados. Do contrário, trata-se de uma política ultra-oportunista: em vez de lutar para educar as massas sobre a base de um programa, Jones Manoel prefere mantê-las sob a direção das pressões da classe dominante.

A capitulação em relação à prisão de Lula continuou nas eleições de 2018. Jones Manoel não defendeu sua candidatura — a única capaz de vencer diante do xeque dado pelos golpistas — e, ainda, apoiou a candidatura de Fernando Haddad, que cumpriu justamente o papel de referendar o golpe dado contra a candidatura de Lula. Resultado dessa política: o candidato do imperialismo, o fascista Jair Bolsonaro, saiu vitorioso. Não bastasse esse erro colossal, o youtuber decidiu insistir na posição: reconheceu a eleição fraudulenta e se recusou a fazer campanha pelo Fora Bolsonaro.

Na América Latina, a posição de Jones Manoel é igualmente desastrosa. Embora faça demagogia com a Venezuela, o youtuber atuou nos últimos meses como um dos principais cabos eleitorais de Guilherme Boulos, o candidato da frente ampla em São Paulo. Jones Manoel não criticou Boulos em momento algum, embora se tratasse de um candidato profundamente direitista e integrado ao regime. Sua candidata a vice-prefeita, Luiza Erundina, que esmagou a greve da CMTC, também foi plenamente poupada pelo youtuber. E um dos aspectos mais direitistas de Boulos que foi ignorado por Jones Manoel está relacionada com a política na América Latina: fazendo eco ao imperialismo, que quer invadir Cuba e Venezuela e implantar uma ditadura da política neoliberal, Boulos afirmou: “não tenho como modelo nem Cuba, nem Venezuela. Para mim não é modelo de democracia”.

Jones Manoel também não criticou a capitulação do kirchnerismo na Argentina, que consistiu na desistência da candidatura de Cristina Kirchner e no apoio a Alberto Fernández, uma espécie de “Fernando Haddad argentino”. Não raramente, o youtuber ainda aplaude alguma demagogia do governo Fernández, como no caso de sua política em relação aos LGBTs:

“Argentina estabelece cota de transgêneros, transexuais e travestis no setor público. Embora a cota seja pequena – no mínimo 1% do total de servidores de cada setor -, é uma medida importante. Afinal, é mais fácil cobrar ampliação de uma política existente que criar uma nova”.

Enquanto isso, Fernández vai seguindo a cartilha do Fundo Monetário Internacional (FMI) sem qualquer crítica de Jones Manoel…

Na Bolívia, Jones Manoel não criticou as capitulações vergonhosas de Evo Morales e ainda viu com bons olhos a vitória do MAS nas últimas eleições. No Chile, o youtuber ignorou completamente que a Constituinte foi um acordo da esquerda parlamentar para manter Sebastián Piñera no poder e que sequer rompeu com uma série de prerrogativas da ditadura de Augusto Pinochet.

Em relação à pandemia, não é preciso dizer muito: Jones Manoel fez parte do grupo de pequeno-burgueses da esquerda nacional que sentia “orgulho” em não sair de casa. Enquanto isso, 200 mil pessoas morriam de coronavírus. Para aumentar o caráter reacionário e oportunista dessa política, o youtuber chegou a elogiar o parlamento quando aprovou o auxílio emergencial e esqueceu o “fique em casa” para fazer campanha eleitoral para Guilherme Boulos. Por fim, Jones Manoel, nas eleições norte-americanas, se limitou a criticar Joe Biden e não puxar voto nele, sem denunciar que ele era o candidato do imperialismo de fato e que havia uma operação da burguesia internacional para promovê-lo. Também não denunciou que as eleições foram fraudadas. No Brasil, sua integração total à frente ampla se consolidou na campanha de Guilherme Boulos.

Em todos os momentos mais decisivos da situação política, Jones Manoel sempre esteve alinhado ao imperialismo. E quem seria, neste caso, sua antítese, capaz de atuar corretamente nos momentos mais importantes da luta de classes durante os últimos 12 anos? Ironicamente, o partido do trotskismo no Brasil. E isso não é coincidência alguma. O trotskismo é a defesa viva do marxismo, a luta implacável contra as tentativas de revisar o marxismo para cumprir com os interesses escusos da colaboração de classes. É, neste sentido, a mais importante arma na luta contra a confusão política e, portanto, a doutrina com maiores condições de intervir acertadamente na realidade.

O método covarde de falar em “algumas organizações” sem citar quais são é apenas uma manipulação de muita má fé operada pelo youtuber. Há, de fato, várias organizações que se autointitulam “trotskistas”,  mas que são agrupamentos pequeno-burgueses que defendem a “democracia” imperialista. No entanto, isso não tem qualquer importância: o trotskismo vive no PCO, que provou ser o partido do trotskismo, e não nas organizações que dizem ser o que não são. Não fosse assim, bastaria que uma pessoa falasse que é comunista, para que sua prática passasse a ser uma referência para o que o comunismo é ou não. Esse critério é, inclusive, antimarxista, uma vez que o próprio Karl Marx dizia que, em política, não se pode analisar os objetos a partir do que dizem ser.

Chegamos, agora, ao segundo debate.

Se não é uma coincidência o fato do PCO ser a vanguarda consciente da luta contra o golpe e ser trotskista, também não é coincidência Jones Manoel ter esse histórico de capitulações e adaptações vergonhosas e ter uma afinidade de tipo ideológica com o que se chama de “stalinismo” — isto é, com as práticas da burocracia soviética para se manter no poder. As diversas tentativas de defender a “figura” de Josef Stálin, como na propaganda da obra extremamente medíocre de Domenico Losurdo, é uma tentativa de lhe blindar das críticas que a política de colaboração de classes naturalmente desperta. Isto é, se na Câmara dos Deputados a esquerda pequeno-burguesa defende hoje uma aliança com Rodrigo Maia (DEM), embora não haja um argumento racional para isso, Jones Manoel poderá contrapor o crítico com uma “carteirada” stalinista: Stálin, o “mito”, fez um acordo com Winston Churchill; portanto, é possível um acordo com Maia.

Os métodos covardes e desonestos da pequena burguesia, desprovida de um programa e de princípios políticos, não deve influenciar os militantes sinceros da esquerda. É preciso destinar todas as energias à construção do partido revolucionário e combater, de maneira implacável e tenaz, todas as correntes oportunistas que visam a infiltrar a pressão da burguesia nas fileiras do movimento operário.

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