Como se não bastasse o impeachment fraudulento de Dilma Rousseff, a prisão absolutamente arbitrária de Lula tem pelo menos o mérito de dissipar qualquer dúvida acerca da parcialidade já indisfarçável do sistema jurídico, cujo pedantismo oratório disfarça muito mal sua verdadeira intenção: o ataque político ao PT.
Hoje, ninguém mais de boa fé duvida do caráter seletivo da “justiça” brasileira, e num olhar retrospectivo, o próprio julgamento do “mensalão”, ocorrido durante o mandato de Lula, se desmascara como um primeiro momento do mesmo processo de perseguição. Um processo em que a ordem jurídica, de tendência direitista, se sobrepõe à ordem política democrática, a ponto de ameaçá-la até de dissolução.
É preciso reverter esse quadro. Restaurar a democracia diante de seu esmagamento pelo judiciário e suas tecnicalidades, judiciário que não foi eleito pelo povo e quer sobrepujar seus representantes, cassando o foro privilegiado dos políticos.
No caso do golpe contra o PT, que lança uma sombra sinistra sobre toda a esquerda, é preciso denunciar o seu caráter mistificador e anticonstitucional, e profundamente injusto, na medida em que promove prisões sem provas, prisões de inocentes. É o caso de José Dirceu, ex-dirigente do PT, João Vacari, ex-contador, e mais recentemente o do próprio ex-presidente Lula, encarcerado sem uma prova material sequer.
Os demais setores da esquerda além do PT não podem simplesmente fechar os olhos e fazer de conta que não há golpe de estado, lançando candidaturas à presidência como se nada estivesse acontecendo. Seria como fazer figuração num filme de horror. Virar a página do golpe é legitimá-lo, é ser golpista também, senão no discurso, na prática efetiva, que no fim das contas é o que importa.
Quer se goste ou não da ideia, eleição sem Lula é fraude. A atitude correta, no sentido de se resgatar a democracia e a soberania popular, é pois reivindicar a liberdade imediata do primeiro presidente operário, juntamente com a de José Dirceu e dos demais presos políticos.