Todos os planos de ajuda econômica aos mais vulneráveis – eufemismo usado pela imprensa capitalista para miseráveis – tem sido a última prioridade dos governos burgueses do mundo todo. A maior preocupação desses governos sempre foi salvar os lucros dos que estão na outra ponta, ou seja, dos capitalistas.
Mas essas esmolas – como os R$ 600,00 aqui no Brasil – existem apenas com o intuito de tentar controlar a iminente explosão social decorrente da crise econômica atual agravada pela pandemia do coronavírus.
No Líbano a explosão já começou.
Protestos maciços contra o governo começaram em outubro do ano passado e cessaram durante a quarentena. Agora voltaram com mais violência.
Pelo menos uma dúzia de bancos foram incendiados no Líbano durante a noite de 28/04, o segundo dia consecutivo dos protestos violentos que começaram na segunda-feira, dia 27/04.
Centenas de manifestantes foram às ruas em várias cidades do país.
Os maiores e mais violentos protestos ocorreram na cidade de Trípoli, no norte do país (a segunda maior e a mais pobre cidade do Líbano), depois que o manifestante Fouaz al-Semaan, de apenas 26 anos de idade, morreu na terça-feira de ferimentos sofridos enquanto protestava na noite anterior. A irmã dele, Fátima, disse que o exército libanês atirou nele.
Os manifestantes em Trípoli começaram a incendiar os bancos na tarde de terça-feira e os confrontos continuaram até as primeiras horas da quarta-feira, sendo perseguidos nas ruas pelos soldados.
No sul de Sidon, uma agência do banco central foi atingida por pelo menos meia dúzia de bombas de gasolina, com aplausos da multidão cada vez que um coquetel Molotov atingia seu alvo.
Os manifestantes estão furiosos com a rápida queda de valor da moeda local, que despencou em mais de 50% em cerca de seis meses. O Banco Central proibiu os saques em moeda estrangeira – que era padrão – e limitou o saque em moeda nacional. Isso gerou uma situação de desintegração das poupanças – daqueles que tinham alguma – e óbvia perda de poder aquisitivo da população da noite pro dia.
O ministro de Assuntos Sociais Ramzi Mousharafieh estima que 75% da população conta apenas com ajuda do estado para sobreviver, mas ela tem sido escassa e demorada. E isso quando o Banco Mundial projeta que 40% da população libanesa vai ficar abaixo da linha da pobreza até o fim de 2020, apesar do próprio ministro da economia libanês achar que esse número deverá estar perto de 50%.
Em Trípoli, na noite de segunda-feira, pessoas atiraram pedras e outros projéteis nos soldados enquanto eram perseguidos pelas ruas. A população, em sinal de apoio aos manifestantes, batia panelas nas janelas.
Na terça-feira os manifestantes atingiram o para-brisa de um veículo militar, fazendo-o colidir. Outro veículo – também militar – foi incendiado em Trípoli na noite de 27/04.
Perto da cidade de Naameh, os manifestantes atiraram pedras nos soldados, levando-os a recuar rapidamente e disparar para o alto. Vinte e um soldados ficaram feridos.
A população libanesa está atacando os bancos e o exército que defende os interesses deles. Mesmo havendo historicamente uma grande simpatia do povo libanês com o exército, eles tem consciência de que devem se defender. Se o exército tenta os impedir pela força de lutar pela própria vida, os manifestantes usam a força também.
Além disso, alguns manifestantes informaram ao jornal The Independent que planejam protestos em massa na próxima sexta-feira, 01/05.
Revolta popular direcionada contra os verdadeiros causadores da crise econômica e plano para mobilizações no Primeiro de Maio. Se a esquerda libanesa não der uma resposta à altura para esse acirramento da luta de classes, tudo indica que será atropelada pelas massas.
O que ocorre hoje no Líbano mostra que os trabalhadores não tem como suportar passivamente por muito tempo tantos ataques contra suas condições de vida enquanto os capitalistas recebem trilhões. Não há como exigir mais dos trabalhadores que paguem pela crise capitalista enquanto morrem de Covid-19. A esquerda reformista no mundo todo – inclusive no Brasil – parece não perceber isso e talvez só acorde quando for tarde demais, ou seja, quando estiver totalmente desacreditada diante da mobilização popular e da revolta que é inevitável.