Na tarde desta terça-feira (19), a justiça decidiu suspender a liminar de ordem de despejo contra as famílias indígenas Gamela no cerrado piauiense. O Desembargador Hilo de Almeida Sousa, decidiu pela manutenção da posse em favor de Adaildo José Alves da Silva, alvo da ação de despejo na semana passada. Com a ação judicial, fica estabelecida com urgência a reintegração de posse de Adaido José Alves da Silva e mais 11 (onze) indígenas anteriormente expulsos de suas casas de forma criminosa.
É preciso ressaltar que na tarde desta última quinta-feira (14), por volta das 16h, Adaildo José Alves da Silva, e sua família, foram surpreendidos por uma ordem de despejo de autoria do juiz da Comarca do município de Gilbués, no estado do Piauí. Adaildo trabalhava em sua roça enquanto sua companheira fazia o jantar. Bauer Souto dos Santos, autor da ação, chegou na comunidade com a presença de um oficial de justiça acompanhado de policiais militares e outras pessoas, impondo-lhes o despejo. Cercas também foram destruídas e os alguns bens retirados da casa da família que está no território há várias gerações.
O território em que vive a família de Adaildo e outras integra a Comunidade do Morro D’Água e é reivindicado como terra tradicionalmente ocupada pelo Povo Gamela. Porém, desde 2004, na terra em que Adaildo vive, o advogado de Brasília, Bauer Souto Santos vem se apresentando como dono.
Ele diz ter adquirido naquele ano a propriedade, tendo feito um comodato verbal com o morador, pelo qual ele poderia permanecer na área. Contudo, mesmo com o suposto acordo verbal, começaram as pressões para que o posseiro abandonasse a área. E dentre essas pressões, se iniciaram as ameaças frequentes, levando o senhor Adaildo a registar quatro Boletins de Ocorrência na polícia.
No dia 31 de julho de 2017, o advogado Bauer Souto encaminhou ao posseiro uma notificação extrajudicial, dando-lhe o prazo de 30 dias para desocupar a fazenda sob alegação de que ele estaria favorecendo que terceiros ocupassem a área, ameaçando-o de entrar com processo judicial contra ele. Diante da situação de total insegurança em que a família do senhor Adaildo e tantas outras da região vivem, as entidades da APIM se manifestaram publicamente, repudiando todas as formas de opressão contra os camponeses e reivindicam das autoridades competentes providências no sentido de garantir a integridade física e as condições de vida com dignidade às famílias camponesas.
Na situação atual, Adaildo relatou: “Eu tava na roça trabalhando quando escutei minha mãe gritar. Passou três caminhonetes: a polícia militar, o Bauer mais a filha, um oficial de justiça … e outros que eu não sei quem são. Eles trouxeram a ordem de despejo do juiz e eu fui obrigado a assinar. Acontece que isso foi de repente e eu não tenho como sair hoje de dentro da minha casa por causa das minhas coisas, mas eles disseram que tinha que desocupar hoje mesmo e que o oficial de justiça e a polícia ia ficar lá até sete horas e ai eu deixei meus meninos arrancando tudo lá pra levar pra casa da minha mãe, a gente ja tava fazendo até a comida, já eram quatro horas, ai teve essa desordem lá.”
“Eu faço um apelo as autoridades e as leis federais que tomam de conta dessa parte, os juízes, pra ver qual o lado positivo… e como eu vou levar minhas coisas de uma hora pra outra se eu não tenho nem caminhonete nem caminhão? Agora eu vou perder a mandioca, o feijão, eu não entendi não. Fica meu apelo para as leis , autoridade e amigos, advogados do Brasil, pra Funai, pra todo mundo”, complementaram lideranças indígenas da região.
E demonstrando o caráter fascista dos ruralistas, na noite dos dias seguintes, um galpão de trabalho próximo a casa de Adaildo foi incendiado como forma de reprimir e coagir a família despejada.
Assista ao vídeo: