O município de Confresa (MT), que possui aproximadamente 30 mil habitantes, sofre com a poluição das águas do território indígena Urubu Branco, que passam por fazendas de soja, e com a chuva de veneno utilizado como uma arma química para expulsar os agricultores familiares da região obrigando-os a deixarem suas terras por causa da pulverização de veneno. De acordo com a prefeitura, 90% do território da cidade é formado por assentamentos rurais.
A assentada Valdiva de Olivera e Silva, 66 anos, moradora da Gleba Novo Horizonte, em Confresa, registrou Boletim de Ocorrência na delegacia quando viu o canavial dar lugar às plantações de soja da Agropecuária Três Flechas. Por causa da pulverização do veneno, quando era adolescente, seu filho, que hoje é adulto, passou a desenvolver uma alergia que permanece até os dias atuais. Porém, nada aconteceu. A maior produtora de soja transgênica da região, a fazenda Luta, está distante apenas 4km do assentamento onde mora.
Ela conta que percebeu que estava rodeada pela soja: “E sei também que daqui a dez anos esses assentamentos onde estamos, onde tiver terra plana que dá para virar soja, vai virar. Não sei como vamos viver. Aqui já sentimos os efeitos, não sei se é da Luta, se é da fazenda que fica aqui atrás. Mas a mandioca embola o olho todinho, fica empedradinho. As plantas murcham, quebram, endurecem e não voltam mais”, afirma.
No mês de abril, durante uma audiência pública realizada na Assembleia Legislativa de Mato Grosso, Wanderlei Pignati, pesquisador, médico e professor do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), apresentou dados que comprovam que a exposição ao agrotóxico no estado é quase dez vezes maior do que a média nacional, o que representa 7,3 litros por pessoa. Durante a pesquisa, chegou a constatar a presença de agrotóxicos no leite materno.
No mês de maio, a Assembleia Legislativa do Mato Grosso emitiu um parecer contrário ao Projeto de Lei 484/2019 que tinha por objetivo proibir a pulverização aérea no Mato Grosso. De acordo com as informações fornecidas pela Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado de Mato Grosso (Aprosoja-MT), mais de 30% da área dedicada à plantação de soja utiliza a aviação agrícola. Informou também que o Mato Grosso possui uma frota de 494 aeronaves agrícolas, a maior frota do País.
Os agricultores familiares e os indígenas sofrem com o uso mal-intencionado e abusivo dos agrotóxicos por parte dos latifundiários que tem por objetivo obrigarem estes moradores a deixarem as suas terras.