O documentário “¡Las Sandinistas!”, que retrata a participação feminina na Revolução Sandinista, da americana Jenny Murray, foi premiado com o Troféu Bandeira Paulista da Mostra de Cinema São Paulo, que terminou nessa quarta (31). A opção pela produção de cunho político e de esquerda se manteve, com a escolha de “Torre das Donzelas” para o Prêmio Petrobras, drama que retrata a história do Presídio Tiradentes na época da ditadura militar. Esse era o local para o qual eram encaminhadas as detentas vindas de guerrilhas, dentre elas, a ex-presidenta Dilma Rousseff. O critério de premiação era estabelecido pela votação dos jurados e da própria plateia, que se manifestou com gritos “ele não”, associando a ditadura militar com o presidente eleito pela fraude Jair Bolsonaro.
A Revolução Sandinista de 1979 foi a culminação de anos de batalha das diversas forças de resistência nicaraguense contra a ditadura da família Somoza que representava os Estados Unidos na Nicarágua. Essa ditadura havia sido estabelecida por meio de um golpe imperialista em 1936, após a morte do então líder da resistência antiimperialista, o general Augusto César Sandino. Ele viria, então, a ser o símbolo da resistência que levou à Revolução Sandinista, que recebeu o seu nome como homenagem. A luta contra a opressão dos Somoza se deu através de uma luta de guerrilhas, cuja principal frente foi a Frente Sandinista de Libertação Nacional. A vitória da guerra veio em consonância com a Revolução Cubana de 1959, fato que incitou um amplo apoio popular aos movimentos de resistência armada nicaraguense. Os principais feitos do governo vitorioso foram a reforma agrária e a chamada “Cruzada Nacional de Alfabetización”, que reduziu os níveis de analfabetismo de 50% para apenas 12% a nível nacional. Uma das características dessa revolução foi a participação de setores importantes da Igreja Católica, adeptos da “Teologia da Libertação”. Essa presença, contudo, veio a representar uma importante força conservadora que levou o governo revolucionário a ceder em questões importantes, como foi feito com as reivindicações da luta feminina.
O filme retrata a história das mulheres que lutaram nas guerrilhas da Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN) contra as tropas da ditadura Somoza apoiada pelo governo imperialista norte-americano. A participação feminina na batalha foi de fundamental importância para a vitória da FSLN, a exemplo de Dora Maria Tellez, uma jovem estudante de medicina que se tornou uma das lideranças do exército sandinista. A importância das mulheres na vitória da revolução, contudo, foi negligenciada pelos governos posteriores que acabaram estabelecendo uma coalizão de acordo com setores da burguesia, fato que acabou por levar à descaracterização do governo operário e ao posterior restabelecimento da lógica capitalista. Isso implicou na marginalização das pautas femininas que, a exemplo da reinvindicação histórica pelo direito ao aborto, foram ignoradas pela Junta de Governo de Reconstrução Nacional, e os posteriores. Com o tempo, a própria memória da luta das mulheres nas guerrilhas vitoriosas foi sendo apagada da história. Contra isso, o documentário “¡Las Sandinistas!” resgata a importância da luta feminina na aliança pelo socialismo e pelo governo operário.
O documentário foi produzido a partir de uma campanha financeira. Sua história e o link para as doações estão no site https://www.lassandinistas.com/.