Aos que alimentam a ilusão de que Joe Biden representa de alguma forma uma política democrática, deixemos que a própria candidata a vice-presidente nos diga o que a candidatura tão defendida pela esquerda pequeno-burguesa identitária tem a dizer dos povos oprimidos. Em entrevista escrita à agência de notícias espanhola Efe, Kamala Harris, senadora e candidata a vice-presidente do Partido Democrata comprova o caráter imperialista e reacionário da candidatura do Biden.
Quando perguntada o que faria um futuro governo seu e do candidato democrata Joe Biden para reverter as políticas que Trump adotou em relação a Cuba e se a candidata defenderia pessoalmente o fim do bloqueio, Kamala Harris responde:
“A política de um governo Biden e Harris em relação a Cuba seria regida por dois princípios: primeiro, os americanos, especialmente os cubano-americanos, são os melhores embaixadores da liberdade em Cuba. Em segundo lugar, capacitar o povo cubano para determinar seu próprio futuro é vital para os interesses de segurança nacional da América”. Ademais, “Trump está deportando centenas de cubanos de volta à ditadura [grifo nosso] e de volta à repressão do regime que só aumentou sob sua presidência. Há quase 10.000 cubanos definhando em acampamentos ao longo da fronteira mexicana devido à agenda anti-imigração de Trump. E está separando famílias cubanas por meio de restrições a visitas familiares e remessas de dinheiro”.
Ainda segundo a candidata, “vamos voltar atrás nas políticas fracassadas de Trump. E, como fez anteriormente como vice-presidente, Joe Biden também exigirá a libertação de presos políticos e fará dos direitos humanos uma peça central na relação diplomática”. “O embargo é a lei; você precisa de um ato do Congresso para levantá-lo ou precisa do presidente para determinar se um governo democraticamente eleito está no poder em Cuba. Não esperamos que nenhuma dessas coisas aconteça tão cedo”, disse.
Para a candidata, diferente do regime “democrático” dos EUA, este que impulsiona e dirige golpes de Estado mundo afora, o mesmo que apoiou o regime ditatorial de Fulgencio Batista (1952 – 1959), o regime cubano, triunfo da revolução que libertou a população da escravização imperialista estadunidense, é uma ditadura.
Sobre o ponto de vista da política externa dos Estados Unidos, e qual papel a candidata acha que a Espanha poderia desempenhar nas relações com Cuba e, em geral, com a América Latina, a “democrata” responde:
“Sob a administração de Biden e Harris, os EUA trabalharão com membros da comunidade internacional, incluindo a Espanha, para apoiar o povo cubano, bem como promover a visão de Joe Biden da necessidade de trabalhar por um hemisfério seguro, classe média e democrático”. Traduzindo as palavras da candidata, pode-se concluir, com tamanha segurança: os EUA trabalharão para infiltrar a política imperialista em Cuba, colocando o povo cubano contra a suposta “ditadura” que libertou os cubanos do “domínio democrático” dos EUA.
Como temos afirmado neste diário, a entrevista de Kamala Harris mostra o que será o governo Biden caso seja eleito. Não há a mínima condição de ser progressista se você chama Cuba de ditadura, não obstante, ela fala que Trump permitiu que essa ditadura sobrevivesse, porquanto o governo Biden não permitiria esse feito e acabaria com isso. Como? Basta seguir a cartilha imperialista para a Venezuela e apoiar a oposição de Cuba, no intuito de dar o golpe contra o governo cubano. Ademais, ficou evidente que o bloqueio econômico contra Cuba vai permanecer. Ao contrário do que prega a esquerda pequeno-burguesa desorientada, onde Kamala Harris é apresentada como uma ‘esquerdista’, ela não passa de uma agente do imperialismo que esmaga os povos oprimidos de todo o mundo. Diante disso, podemos comprovar o quão o identitarismo é uma doutrina imperialista e reacionária. Ao mesmo tempo em que Harris está fazendo demagogia, está apoiando a derrubada de um governo escolhido pelo povo, em um país como Cuba, que – incrivelmente despercebido pela esquerda pequeno-burguesa – é um país negro e oprimido.