Há no Brasil um chiste muito antigo, que brinca com a posição social ocupada por médicos e juízes. A frase diz que “médicos pensam que são deuses, juízes tem a certeza”. A ideia é fazer troça do status superior ocupado por ambas as profissões, que as coloca muito acima do restante de nós, reles mortais. É uma frase oriunda da sabedoria popular e como tal, baseia-se em uma realidade concreta. Na nossa sociedade médicos e juízes de fato ocupam uma posição muito destacada.
Se este chiste anteriormente representava metaforicamente uma realidade concreta, hoje no governo Bolsonaro ela ganha contornos ainda mais palpáveis. O juiz Marcelo Bretas, que seria uma espécie de Sergio Moro do Rio de Janeiro, foi além do sentido figurado. Ele, que era defendido há pouco tempo pela ilustre liderança da esquerda fluminense, o seu xará Marcelo Freixo, do PSOL, e que já tinha chegado ao cúmulo de posar em uma foto segurando um fuzil (!), afirmou em seu Twitter que a teoria da separação dos poderes não teria sido desenvolvida por Montesquieu, mas sim por Deus, através do profeta Isaías!!!
Embora a declaração seja muito absurda, não é a primeira vez que Marcelo Bretas vai por esta mesma linha, que troca a Constituição brasileira pela bíblia. Em 2016 ele afirmou que a “bíblia é o principal livro desta vara”, de acordo com o sítio evangélico chamado Guiame. Não que a Constituição de 1988 ainda esteja valendo muita coisa no atual regime golpista, mas trocá-la por um livro escrito há milhares de anos é uma concepção das mais reacionárias: não fazer o mundo retroceder ao “saudoso” século XIX, do auge capitalista, ou ainda à Idade Média, como sonha o “filósofo” Olavo de Carvalho, mas para um período civilizatório ainda mais atrasado.
É nas mãos deste tipo de cidadão, um completo ignorante e obscurantista que o povo brasileiro é conduzido. O regime golpista, que se aprofunda com o governo fraudulento de Bolsonaro só tem a oferecer isto para o país: o maior retrocesso possível. Quem sabe Bretas, Olavo de Carvalho e a extrema-direita se dêem por satisfeitos quando o povo brasileiro voltar a viver nas cavernas.