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Victor Assis

Editor e colunista do Diário Causa Operária. Membro da Direção Nacional do PCO. Integra o Coletivo de Negros João Cândido e a coordenação dos comitês de luta no estado de Pernambuco.

Lições de oportunismo

Jones Manoel, cabo eleitoral dos partidos de candidatos

Youtuber segue exemplo de Armínio Fraga e da Folha de S.Paulo e tenta favorecer alguns candidatos de seu partido em detrimento de outros

Nas antidemocráticas e fraudulentas eleições municipais de 2020, o Partido da Causa Operária vem dando um extraordinário exemplo de como enfrentar a direita, mesmo nos cenários mais adversos. Com candidatos em quase 100 cidades, o PCO é o terceiro partido do País em número de candidatos nas capitais. E, o que é mais importante: todas as candidaturas estão a serviço de um programa verdadeiramente revolucionário, centrado na mobilização dos trabalhadores e na construção do partido revolucionário. O mesmo, contudo, não pode ser dito da esquerda pequeno-burguesa, muito menos dos grupos autointitulados “revolucionários”.

É o caso, entre outros milhares, do youtuber pernambucano Jones Manoel, neste momento filiado ao Partido Comunista Brasileiro (PCB). Tornado conhecido após uma entrevista com o lava-jatista Caetano Veloso, o também blogueiro tem se destacado nacionalmente por defender uma revisão bizarra e vulgar do marxismo e da história mundial e por se colocar à disposição da “frente ampla”.

O flerte de Jones Manoel com a “frente ampla” e com a figura de Josef Stalin são a expressão de um fenômeno geral: na medida em que a polarização aumenta, os setores mais direitistas e carreiristas e menos politizados da esquerda pequeno-burguesa vão sendo arrastados para uma política mais profunda de conciliação com a classe dominante. E, uma vez que a burguesia vai se tornando cada vez mais fascista, de modo a tentar conter a revolta dos trabalhadores, os setores da esquerda que lhe acompanham vão sendo obrigados a copiar os seus métodos.

Marxismo de camarote

Há algumas semanas, Jones Manoel declarou que não queria participar das eleições como candidato:

“Eu não sou candidato. A gente conversou no PCB e achou que não seria tático eu ser candidato nessa eleição porque o meu debate, o debate que eu faço, não é tão localizado como a eleição para vereador. Então, eu tenho muito mais facilidade para debater a política de preços da Petrobras do que a iluminação pública da minha rua”.

O youtuber, como qualquer cidadão, tem todo o direito a não se lançar candidato. Contudo, se o motivo é que ele não teria condições de defender uma política para as eleições, o natural seria que ele não debatesse as eleições. Mas isso não é fato: Jones Manoel tem uma política para as eleições e está debatendo as eleições. Apenas, como um típico frente-amplista com simpatias pelo stalinismo, procura a forma mais rasteira de defender sua política: por meio das redes sociais. Afinal, debater abertamente sua política de submissão à direita é inviável.

Essa posição não tem coisa alguma a ver com o marxismo, doutrina que Jones Manoel reivindica para si. Um marxista que não se disponha a participar da luta de classes real não é, no fim das contas, um marxista, mas simplesmente um diletante. E nesse caso, um diletante que usa o marxismo em favor dos maiores inimigos do marxismo. Isto é, para a política oportunista de colaboração com a burguesia.

A candidatura de Guilherme Boulos

Jones Manoel dedica boa parte de seu espaço na internet para apoiar a candidatura de Guilherme Boulos, o candidato oficial da “frente ampla” em São Paulo. Boulos, que não tem chance real alguma de vencer as eleições, está sendo adulado por todo tipo de vigarista: Vera Magalhães, José Luís Datena e, sempre, sempre, sempre, a Folha de S.Paulo. E a adulação não é à toa: o programa de Boulos é extremamente direitista. O candidato do PSOL, que tentou se passar, há alguns meses, como grande líder do “Fora Bolsonaro”, não fala em momento algum em derrubar o governo. Muito pelo contrário: seu programa para o aparato de repressão é o mesmo da extrema-direita, que é o de armar e fortalecer a polícia. Não bastasse isso, a burguesia colocou uma “garantia” para que a candidatura de Boulos servisse a seus propósitos: Luiza Erundina, candidata a vice-prefeita, tem larga experiência em reprimir greves operárias, como no caso da CMTC, e de participar de governos burgueses, como no caso de Itamar Franco.

O apoio à candidatura de Boulos já seria, em si, algo bastante desmoralizante. Mas não é só isso: como a candidatura é direitista e desmoralizante, Jones Manoel, para defender seu ídolo, acaba utilizando métodos de campanha igualmente direitistas e desmoralizantes:

A campanha de Jones Manoel em relação a Guilherme Boulos é o mesmo tipo de campanha que a burguesia utiliza nas eleições: a campanha personalista, do candidato individual. Como o programa da direita é indefensável, a burguesia incentiva seus partidos a fazerem uma campanha em torno das “pessoas” que estão saindo candidatas. Ao invés, por exemplo, de expor que a candidatura do PSDB é a candidatura dos banqueiros, que defende a volta às aulas e mais repressão contra o povo, a burguesia faz a campanha de que Bruno Covas seria um gestor com uma série de qualidades.

Jones Manoel exalta os supostos atributos de Guilherme Boulos porque é apenas isso que ele tem a oferecer. Boulos “vai vencer” nas urnas simplesmente por uma questão de fé. Ou, como Jones Manoel disse, porque “está com cheiro” de que vai vencer. E, além de tudo, o apoio a Boulos não se dá porque sua candidatura defende um programa ancorado na mobilização dos trabalhadores, mas sim porque ele “é o cara”. Uma espécie de “mito” que vai fazer acontecer.

Foi esse tipo de campanha, do “super Boulos”, que a burguesia fez para garantir que Boulos fosse o candidato do PSOL na cidade. A classe dominante, por meio de seus recursos, sobretudo a imprensa, impôs a sua vontade na legenda, que escolheu Boulos como candidato sem qualquer debate interno real. O mesmo método, embora de maneira mais descarada, foi utilizado em Duque de Caxias, no Rio de Janeiro, quando banqueiros financiaram um candidato a vereador do PSOL.

A campanha personalista, assim, serve não apenas para que a burguesia esconda seu programa, como também para que ela escolha os candidatos dos partidos políticos. Se um partido de esquerda aceita esse tipo de campanha personalista, estará permitindo que a disputa entre indivíduos determine o destino do partido. E se na disputa do indivíduo o que conta é a força do indivíduo, e não o programa, os indivíduos que irão prevalecer são aqueles que receberem maiores recursos da burguesia.

Uma campanha contra o próprio partido

Guilherme Boulos, que é, nesse momento, a principal candidatura da “frente ampla” no País, acabou servindo de modelo para que Jones Manoel utilizasse os métodos da burguesia contra o seu próprio partido. O youtuber decidiu apoiar um determinado candidato a vereador em Belo Horizonte, sendo que o partido tem 10 postulantes na cidade. Com o mesmo tipo de elogio que desferiu a Boulos, Jones Manoel escolheu o candidato seu que deveria ser privilegiado no PCB:

Jones Manoel tem milhares de seguidores nas redes sociais, conquistados por meio de uma série de concessões feitas pela burguesia, indo da imprensa à academia. Quando decide fazer campanha para um determinado candidato, ainda mais deixando claro que é “o melhor” de Belo Horizonte, está, no fim das contas, utilizando todo o prestígio conseguido pela classe dominante para decidir os rumos do PCB.

Um cabo eleitoral de qualquer partido

Se a política de Jones Manoel consiste em apoiar indivíduos, e não partidos e programas, então, no fim das contas, o blogueiro do PCB pode ser um cabo eleitoral de qualquer partido. E é o que acontece na prática. Partindo de suas próprias conveniências — sendo que as conveniências individuais sempre são as conveniências da burguesia —, Jones Manoel tem apoiado todo tipo de candidatura.

Vimos que, mesmo sendo filiado ao PCB, o youtuber defende, em Minas Gerais, um determinado candidato em detrimento de outro. Em São Paulo, Jones Manoel defende um candidato de outro partido — o PSOL —, sob o pretexto oportunista do “voto útil”. No estado em que Jones Manoel reside, contudo, a situação é ainda mais espantosa.

Em Pernambuco, o PCB decidiu ficar a reboque da candidatura da Unidade Popular, indicando um quadro antigo do partido para concorrer à vaga de vice-prefeito. O partido ainda decidiu lançar uma candidatura ao cargo de vereador da cidade. E quantas publicações Jones Manoel fez em defesa da candidatura da UP ou mesmo sua companheira de partido candidata a vereadora? Absolutamente nenhuma. Ao que parece, não é conveniente para Jones Manoel defender o próprio partido ou a decisão do próprio partido no próprio estado em que reside.

Para me atacar após o debate de UFPE, Jones Manoel se colocou em defesa do candidato do DEM em Recife, Mendonça Filho. Não se sabe se é esse de fato o seu candidato na cidade, mas chama a atenção, inclusive, que Jones Manoel não criticou Mendonça Filho, nem qualquer outro candidato da direita nas redes sociais. O único candidato que vem sendo criticado pelo blogueiro é João Campos, do PSB, mesma tática que vem sendo utilizada por Mendonça Filho e pela candidatura que o PSOL apoia, de Marília Arraes (PT)…

Qual seria a importância de defender uma candidatura na cidade onde um militante mora, tem contatos, pode participar de atividades presenciais etc.? Para um youtuber cuja carreira se resume a “tretas” no Twitter, nada disso teria valor: o importante é usar o marxismo para chamar voto em alguém.

O método de Jones Manoel, no fim das contas, é a antítese do método de um verdadeiro partido revolucionário face às eleições. Um método que ignora completamente a construção do partido, que se volta para os indivíduos e que apenas favorece a burguesia a manter sua dominação.

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