Com o surgimento do novo coronavírus no continente asiático e sua consequente proliferação para demais regiões, o mundo se viu em meio a uma das maiores pandemias já vistas em todos os tempos. O continente europeu, um dos primeiros a sofrer com os impactos da doença, foi retratado como um verdadeiro exemplo pela imprensa burguesa, que sempre procurava destacar o fato de que, enquanto outros países continuavam na miséria, os europeus já reabriam as portas de suas escolas, restaurantes, e demais estabelecimentos comerciais. Todavia, o que a grande imprensa não previu foi uma segunda onda de infecções que, neste momento, coloca todo o sistema econômico do imperialismo em xeque.
Um caso particularmente escabroso que logo no começo da pandemia foi motivo de alarde à comunidade internacional é o da Itália. Foi um dos primeiros países a registrar taxas de morte verdadeiramente altas – taxas estas que, se comparadas às do Brasil, representam muito pouco. Por mais que tenha conseguido amenizar os estragos do coronavírus, o País, seguindo a tendência de seus vizinhos, já registra nova alta nos casos da doença: o total de internados com sintomas subiu de 3.097 (em 1º de outubro) para 23.256 na quinta (5). A ocupação na terapia intensiva, de 291 para 2.391 pacientes, e as mortes diárias, de 24 para 445. Entretanto, agora, a crise econômica se coloca como fator ainda mais agravante, instaurando fome e miséria sobre a população italiana.
O governo italiano afirmou estar extremamente preocupado com a população durante este período de crise, propagandeando uma intensa batalha contra o coronavírus e contra a recessão econômica, principalmente por meio de auxílios. Todavia, não podemos nos esquecer que o governo direitista da Itália representa unicamente os interesses da burguesia e, como era de se esperar, o dinheiro que destinou à solução da crise foi para os grandes capitalistas, e não para a população. Agora, um relatório da Cáritas Italiana deixa bem claro o que uma política neoliberal, quando aplicada no tempo certo (o de crise), faz com o povo.
Do total de 44,8 mil pessoas acompanhadas pela instituição de caridade entre maio e setembro, 45% estavam pedindo ajuda pela primeira vez, um aumento de 14 pontos percentuais quando analisado o mesmo período do ano passado. Ademais, segundo a Cáritas Ambrosiana, que atua nas dioceses de Milão e cidades do entorno, atualmente 8,4 mil pessoas estão aptas a usar o serviço ofertado pelo órgão, 61% a mais do que no período pré-emergência sanitária. A situação populariza, inclusive, um termo específico para designar a nova onda de pessoas em situação precária, são os chamados “novos pobres”.
O fato é que, por mais que a imprensa burguesa procure esconder, a administração de países como a Itália e, em geral, dos países imperialistas, no que diz respeito ao combate contra o coronavírus foi e continua sendo extremamente ineficiente. E não é preciso especular isso no momento em que os números de mortos em decorrência da doença já atingem 1.250.000 ao redor de todo o mundo, com concentração nos Estados Unidos e na Europa. Ou seja, enquanto nações atrasadas como Cuba, Venezuela, Coreia do Norte e Vietnam registram menos de 1.100 casos no total, os principais representantes da política imperialista promovem uma verdadeira chacina, deixando registrado, na história, a ineficiência do capitalismo em seu atual estágio.
Finalmente, o capitalismo cai aos pedaços a cada dia que passa, e a crise pela qual estamos passando agora é, antes de tudo, reflexo disso. Afinal de contas, os países mais desenvolvidos não foram capazes de aguentar absolutamente nenhum aspecto do desafio que o novo coronavírus representa, resultando em uma das maiores crises já vistas em todas a história do capitalismo. No final, a crise engendrada pelo coronavírus é política, no sentido de que sua magnitude se resume em uma escolha muito simples: resgatar os grandes capitalistas ou ajudar a classe operária. E, ao redor do mundo, a maioria dos países escolheu a primeira opção, colocando os trabalhadores à mercê de suas próprias sortes.