Percorrendo as páginas esportivas da imprensa burguesa, é possível ver como a contratação de uma criança de 8 anos pela imperialista Nike é alardeada como um fato positivo. O jogador de futsal Kauan Basile, do sub-9 do Santos, é o mais recente personagem da escalada do assédio precoce às promessas do futebol brasileiro.
Kauan Basile é herdeiro de uma linhagem de jogadores de futebol. Seu pai, Andrezinho, foi revelado pelo Corinthians como grande promessa, mas não emplacou no time principal e acabou tendo uma carreira errática por times menos expressivos do Brasil. Jogou ainda duas temporadas fora do país, na Croácia e na Arábia Saudita. Seu bisavô teve uma carreira importante como zagueiro, dividindo a reserva da Seleção Brasileira vice-campeã mundial em 1950 com ninguém menos do que Nilton Santos. Colecionou títulos com as camisas do Internacional e depois Portuguesa, sendo ídolo em ambos os clubes. O próprio irmão do garoto também é jogador, atuando pelo sub-15 do mesmo Santos.
Elencando alguns casos recentes, percebemos que a contratação de jogadores por empresas multinacionais avança progressivamente infância adentro. Neymar, por exemplo, assinou contrato com a mesma Nike aos 13 anos. Quando Kauan atingir essa idade já terá cumprido as duas etapas do contrato atual. O recorde de prematuridade anterior pertencia a David Carmo, que assinou com a Puma aos 9 anos.
Mesmo competindo pontualmente, no final das contas o cartel das empresas de materiais esportivos promove um saque coordenado aos talentos do país. O tratamento dispensado a essas crianças é típico ao dado às mercadorias de exportação dos países atrasados, os capitalistas estrangeiros compram um material pouco trabalhado e lucram alto ao vender um produto com grande valor agregado.
Para além da problemática individual e dos impactos desse assédio na vida dos garotos, temos colocada uma questão econômica e cultural, o enfraquecimento do nosso futebol. Se não fossem as vantagens econômicas de contratar nossos jogadores ainda durante a infância, os capitalistas estrangeiros certamente aguardariam o desenvolvimento pleno dos atletas.
Para benefício próprio, colhem ainda verdes os frutos da escola de futebol brasileira, indubitavelmente o melhor futebol do mundo, por mais detratores que tenha na poderosa imprensa burguesa. É muito óbvio que os capitalistas não se preocupam com a manutenção da “galinha dos ovos de ouro”, que são as categorias de base brasileiras, por mais que lucrem alto negociando os contratos dos jogadores. O capitalismo opera com uma sanha predatória e inconsequente. Em defesa do futebol brasileiro é preciso denunciar a contratação das nossas jovens promessas e lutar pelo controle popular dos clubes de futebol.