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Eleições nos EUA

Joe Biden e as crenças do nacionalismo burguês

Candidato democrata é uma peça-chave do imperialismo, inimigo de todos os povos oprimidos

As eleições presidenciais nos Estados Unidos acabaram por revelar a profundidade da crise do regime no país mais importante do imperialismo mundial. Mesmo com o apoio integral dos financistas de Wall Street, da imprensa capitalista internacional, das indústrias armamentista e petrolífera, das empresas de tecnologia e de redes sociais e das instituições burguesas, Joe Biden não conseguiu obter uma vitória avassaladora sobre o outsider Donald Trump. A imprensa já decretou uma apertada vitória de Joe Biden, embora esse resultado ainda não seja oficial. O anúncio, contudo, já foi suficiente para que seus apoiadores comemorassem em todo o mundo.

O que chamou muito a atenção, neste caso, foi que, embora Biden seja o candidato do imperialismo, a esquerda pequeno-burguesa internacional tenha apoiado a candidatura de Biden. Sob a chantagem do avanço do fascismo, esse setor resolver ignorar todas as atrocidades dos democratas e, particularmente, de Joe Biden, para apoiar sua candidatura. Embora bizarra e reacionária, essa posição da esquerda pequeno-burguesa é apenas um aprofundamento da política de “frente ampla”. Isto é, da colaboração de classes entre a pequena burguesia e o imperialismo para que não perca seus privilégios no regime político. Quem comemorou entusiasmadamente a “vitória” de Biden foram pessoas como Marcelo Freixo (PSOL-RJ), que, em nome de seus cargos e seu prestígio na classe dominante, abriu mão da própria candidatura para beneficiar Eduardo Paes, do DEM.

No entanto, chama ainda mais atenção que lideranças nacionalistas, que estão sendo duramente perseguidas pelo imperialismo, que não teriam absolutamente coisa alguma a ganhar com a vitória de Biden, decidiram parabenizar o democrata pela vitória, embora de maneira menos entusiasmada. É o caso dos ex-presidentes Lula (Brasil) e Rafael Correa (Equador) e do presidente Nicolás Maduro (Venezuela).

Esses casos, embora apontem para uma política equivocada, expressam uma concepção política diferente da esquerda pequeno-burguesa carreirista. Enquanto esse setor busca tão somente uma forma de sobreviver dentro do regime político, abrindo mão de qualquer princípio, o nacionalismo burguês é um movimento apoiado em uma mobilização real, mas que conserva uma série de ilusões em relação ao problema do imperialismo.

Lula

“Neste momento tão importante em que o povo norte-americano se manifestou contra o trumpismo e tudo o que ele representa, de rejeição de valores humanos, ódio, abandono da vida e agressões contra nossa querida América Latina, saúdo a vitória de Biden e manifesto a esperança de que ele não só internamente, mas também em suas relações com o mundo e com a América Latina, se paute pelos valores humanistas que caracterizaram a sua campanha”.

Joe Biden não tem absolutamente nada a ver com valores humanos ou com a defesa da América Latina. Com efeito, o democrata foi responsável por milhares de mortes, estupros e torturas em inúmeras guerras em que esteve envolvido. A principal delas, certamente, é a do Iraque, em que Biden desempenhou um papel-chave, orientando inclusive o governo sanguinário de Nouri al-Maliki. Biden esteve por trás do golpe neonazista na Ucrânia e da destruição da Líbia, bem como do surgimento do Estado Islâmico.

A ação de Biden e do Partido Democrata é conhecida em todo o mundo. Mesmo assim, há pelo menos dois fatos sobre ele que Lula não poderia, de forma alguma, ignorar. Biden apoiou expressamente o golpe de Estado de 2016 . Fez também pouco caso da espionagem do Departamento de Estado norte-americano sobre o governo de Dilma Rousseff, revelado em 2013 por Edward Snowden e por Glenn Greenwald. Em relação ao primeiro caso, Biden declarou que o impeachment foi realizado “obedecendo a Constituição para navegar um momento político e econômico difícil, e de acordo com os procedimentos estabelecidos”. O democrata ainda declarou que “os EUA continuarão trabalhando estreitamente com o presidente Temer, porque o Brasil é e continuará a ser um dos mais próximos parceiros dos EUA na região”. Em relação ao segundo caso, Biden apenas disse que os Estados Unidos teriam de zelar pela “paz” mundial e que não poderiam se prender a protocolos de cada país.

Não é, portanto, mistério algum que o Partido Democrata, muito menos uma figura de alto escalão, como Joe Biden, seja uma solução para o avanço do fascismo na América Latina. O gesto de Lula, encoberto por uma suposta diplomacia, é uma tentativa de sinalizar a Biden que ele estaria disposto a dialogar com o imperialismo em um eventual futuro governo. Essa tentativa de diálogo, como o próprio processo do golpe mostrou, é absolutamente inútil: a única força capaz de conter a extrema-direita e a ofensiva de conjunto do imperialismo é a mobilização da classe operária.

Nicolás Maduro

“Perdeu Donald Trump, e Joe Biden recebeu o voto de esperança de uma imensa maioria de estadunidenses que querem mudanças nos Estados Unidos e no mundo”. “A Venezuela espera retomar canais de diálogo com Biden”. “Chegou o fim da demonização contra a Revolução Bolivariana”.

Joe Biden não respeita a “Revolução Bolivariana”, nem qualquer país latino-americano. Durante o governo Obama, do qual fez parte, o imperialismo iniciou uma duríssima perseguição aos imigrantes, da qual Donald Trump foi apenas seu continuador. Antes disso, Biden culpou os mexicanos pela imigração e pelo alto consumo de drogas nos Estados Unidos e votou a favor da construção de uma cerca na fronteira com o México. O democrata, ainda, foi o autor de uma lei que levou milhares e milhares de norte-americanos à prisão, sendo que que 19% desses têm origem latina.

Mas, assim como Joe Biden tem um histórico recente podre em relação ao Brasil, também tem em relação à Venezuela. Não é fato que a saída de Trump colocaria abaixo a “demonização” do regime chavista. Afinal, quem iniciou a desestabilização da Venezuela foi o governo de Barack Obama, que era comandado por Joe Biden. Se, durante o governo Trump, aumentaram as tensões, isso se deu por causa do aprofundamento da crise capitalista, e não por causa propriamente da orientação do governo Trump.

Em 2016, por exemplo, em claro tom de ameaça, Biden declarou:

“Pedimos que o referendo se realize antes do fim do ano, a Constituição venezuelana deve ser respeitada. E os presos políticos libertados”. Antes disso, em 2015, o próprio Nicolás Maduro afirmou que Joe Biden estaria tramando sua derrubada: “os Estados Unidos foram falar com governos da América Latina para anunciar a derrubada de meu governo. Acuso o vice-presidente Biden de ter conversado pessoalmente sobre o assunto com presidentes e primeiros-ministros”.

E o histórico bastante recente também atesta contra Biden. Em entrevista durante sua campanha eleitoral deste ano, o democrata alegou que a política externa dos Estados Unidos

“foi um fracasso abjeto desde que ele [Trump] chegou ao poder. Nicolás Maduro ficou mais forte, as pessoas na Venezuela vivem pior, em uma das mais graves crises humanitárias do mundo. O país não está mais perto de eleições livres”.

A derrubada do regime chavista não é um plano individual de Donald Trump, nem de qualquer pessoa: é uma demanda dos monopólios internacionais, principalmente daqueles ligados à indústria petrolífera. E todos esses monopólios estão apoiando Joe Biden, e já apoiaram integralmente a política genocida de Joe Biden no Iraque. Nesse sentido, o que Maduro expressa é, assim como no caso de Lula, uma crença de que poderia explorar as contradições no interior da burguesia a seu favor.

As contradições devem, sim, ser exploradas. Mas não no sentido de impulsionar o lado “democrático” do imperialismo para esmagar o lado “fascista”. Até porque, ambos os lados são fascistas. O único sentido de explorar as contradições é o de que, baseado na crise do regime norte-americano, organizar os trabalhadores para expulsar o imperialismo da América Latina.

Rafael Correa

“Joe Biden, o novo presidente dos Estados Unidos. Boa sorte! Trump irá, junto a Moreno, Áñez, Temer e outros tantos, para o esgoto da história. Presenciamos o fim de um tempo particularmente obscuro em nosso continente”.

A ideia de que o “tempo obscuro” estaria chegando ao fim é completamente absurda. Nesta semana, a extrema-direita peruana derrubou o seu presidente, colocando, em seu lugar, uma figura ligada ao fascista Alberto Fujimori. No Chile, o governo de Sebastián Piñera permanece de pé, mesmo após mobilizações gigantescas. Na Bolívia e na Argentina, partidos populares venceram as eleições presidenciais, mas permanecem seriamente ameaçados de serem derrubados novamente. Em ambos os países, a extrema-direita segue se fortalecendo, ao passo que os governos estão servindo apenas para administrar a crise dos capitalistas.

Rafael Correa sabe muito bem quem é Joe Biden. Em 2013, o então vice-presidente norte-americano obrigou Rafael Correa a não ceder asilo político para Edward Snowden, revelando, no final das contas, que não tem qualquer consideração pela autonomia dos países latino-americanos. Neste momento, Correa está proibido de retornar ao seu país e seu partido está sofrendo um processo de exclusão do regime político. Há um cerco muito claro contra ele e seu partido, que está sendo promovido pelos mesmos setores que apoiam Joe Biden.

O fato de Correa desejar “boa sorte” comprova que o líder equatoriano ainda tem a esperança de conseguir um acordo junto ao imperialismo para viabilizar seu retorno ao país e a restituição de seus direitos democráticos. Correa, inclusive, já se mostrou à disposição de ser candidato a vice-presidente, abrindo mão da candidatura natural, que seria a candidatura à presidência, o que mostra a ilusão de que é possível se conciliar com as aves de rapina do imperialismo.

As ilusões do nacionalismo burguês

Em toda a história, o nacionalismo burguês na América Latina mostrou ter um caráter semi-progressista. Isto é, possui uma disposição de se opor ao imperialismo, pois, sem isso, não consegue cumprir com nenhuma das suas promessas junto as massas e, portanto, acaba sendo derrubado.

Mas, ao mesmo tempo, demonstra uma incapacidade de romper completamente com o imperialismo, justamente por ser ancorado em setores burgueses que ficam reféns dos grandes monopólios. João Goulart, Getúlio Vargas, Salvador Allende, Juan Domingo Perón e tantos outros nacionalistas que buscaram, mesmo sob intenso ataque, uma conciliação com o regime acabaram sendo derrubados. É preciso, portanto, ter uma política distinta: mobilizar as massas para derrubar, de maneira decisiva, a burguesia e todos os seus capachos.

Enquanto o governo venezuelano não expropriar a burguesia e armar o seu povo para enfrentar o imperialismo, sempre estará sob a ameaça de ser derrubado. Enquanto o povo equatoriano não sair às ruas em uma verdadeira insurreição contra o governo Moreno e contra todo o aparato de repressão, um eventual governo Correa será completamente inviabilizado. Tomando o exemplo da Bolívia, o acordo que Rafael Correa está tentando fazer, de colocar um elemento mais direitista como candidato a presidente, não levará a um progresso dentro do regime, mas apenas permitirá que a direita se reorganize para sabotar o movimento nacionalista no Equador. Por fim, no Brasil, enquanto a os trabalhadores e as suas organizações não derrubarem o governo Bolsonaro e todo o regime político golpista, combatendo a extrema-direita nas ruas, o imperialismo prosseguirá com a perseguição ao PT e à esquerda e aprofundará a sua ditadura.

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