No último dia 08/04, o blog Conversa Afiada do jornalista Paulo Henrique Amorim, noticiou declarações do ex-governador da Bahia e senador pelo PT, Jaques Vagner, em defesa da “modernização” do PT.
Vagner criticou os “métodos internos” do seu partido para escolha da sua direção e usou como contraposição os ‘métodos modernos’ do Podemos, partido espanhol que se reivindica de esquerda.
“Eu acho um absurdo um diretório nacional, uma executiva com 22, 23 membros. Não é uma executiva. É quase uma assembleia. Nós temos que modernizar o partido. (Tem) a experiência do Podemos da Espanha, que abre o partido via web para consultar pessoas. Não dá para ficar trancado em uma sala. O mundo mudou. O partido precisa se modernizar”, declarou.
Quer dizer, o que Vagner chama de “modernização”, nada mais é do que extinguir qualquer tipo de participação direta da militância nos rumos do partido, por menor que possa ser essa participação, por “métodos” burgueses de privilegiar os indivíduos isoladamente. O que vale não é a ação coletiva, mas os indivíduos por traz de uma tela de computador, sujeito a toda pressão da “opinião pública”, ou seja, da burguesia.
A política dos ‘métodos modernos’ tem, na verdade, um outro nome: virar a página do golpe. Não se opor ao regime golpista, deixar Bolosonaro governar, transformar o ex-presidente Lula em uma figura a ser cultuada, um verdadeiro ícone, sem nenhuma serventia para o que realmente é o Lula, a expressão maior contra o golpe de Estado, portanto da luta de classes no Brasil.
Sabedor da imensa resistência à sua política abertamente pró-burguesa e mesmo da impossibilidade de sair vencedor nessa ‘peleja’ – inclusive, porque poderia levar o partido a rachar -, Vagner diz que não disputará a presidência do PT com a justificativa de que “Um, porque vou apostar na renovação. Dois, porque quero me dedicar mais à interação com a sociedade diretamente do que ao orgânico do partido”. Para quem defende o “moderno”, nada mais antigo do que a velha política burguesa de minar o partido por fora.
Mas não se trata simplesmente de fazer campanha por fora com os seus aliados golpistas preferenciais, como o PSB e o PDT. Vagner advoga uma cunha para o PT. Haddad, com seus 47 milhões de voto deveria, para ele, ter “lugar de fala dentro do partido”. Não como presidente, mas como uma ‘estrela’ que paira acima do próprio partido.
Nada melhor do que um pós eleições para se esquecer o que era apregoado durante as próprias eleições: “Haddad é Lula!”. Não, Haddad não é Lula, é um político com 47 milhões de voto. Um ‘novo líder popular’.
Tem ainda um outro aspecto nessa “sumidade” em que se transformou Haddad. E se fosse Ciro Gomes? O senador baiano foi um dos mais fervorosos defensores da candidatura do político direitista do PDT. E se os 47 milhões fossem votos ciristas e não haddadistas? Vagner iria defender a fusão do PT com o PDT e o “lugar de fala” de Ciro Gomes? O mesmo que chamou Gleisi de “chefe da quadrilha de Lula” ? E os dois milhões de petistas, quais papéis cumpririam nessa quadrilha? “Ali Babá” que o diga”, poderia muito bem completar o candidato a coronel nordestino cria da ditadura militar.
As declarações de Jaques Vagner expressam as posições de uma das principais alas direitas do PT. Como não poderia ser diferente, são as posições da própria burguesia golpista que quer enquadrar o partido no novo regime político que os golpistas procuram estabilizar. Para a burguesia a ala lulista do PT deve a todo custo ser derrotada. Para isso nada melhor do que os ‘amigos da onça’.
Finalmente, um breve comentário sobre o Podemos, que poderia ser, muito bem, o Syriza da Grécia. Não passam de partidos pequeno-burgueses “esquerdistas” e por isso, impulsionados pelo próprio imperialismo e daí o encantamento que causa no meio da “opinião pública de tipo esquerdista”.
O Syriza está no governo grego em aliança com a direita e é patrocinador da política de rapina da Comunidade Européia contra a Grécia e o Podemos é contra a separação da Catalunha da Espanha. Precisa de mais?