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Queda iminente

Itália não se aguenta em pé e crise política se aprofunda

Giuseppe Conti perde maioria absoluta no Senado e vê seu governo em risco. Extrema-direita pede novas eleições.

A situação econômica e política da Itália não está nada boa. O primeiro-ministro, Giuseppe Conte, pediu renúncia ao cargo após um de seus partidos aliados, o Itália Viva, do ex-primeiro-ministro Matteo Renzi, ter saído formalmente da coalização que dava sustentação ao governo.

O problema é resultado da crise capitalista que se arrasta desde 2008. A Itália foi um dos países que mais sofreu com a crise. Assim como ocorreu após a Primeira Guerra Mundial, o país enfrentou um grande endividamento público, o que fragilizou a economia. Isto levou à ascensão do fascismo. Hoje, ocorre algo bastante próximo.

A crise econômica de 2008 e o crescimento da extrema-direita

A crise do capitalismo mundial de 2008 gerou grande empobrecimento mesmo em economias gigantescas como a da Itália. O país, que chegou a ter, nos anos 90, um Produto Interno Bruto (PIB) maior até que o do Reino Unido, viu seu poder econômico diminuir consideravelmente, passando de quinta economia do mundo para oitava.

Em 2018, o PIB italiano era 10% menor que antes da crise de 2008. Para um país entre as 10 maiores economias do mundo, isto significa uma redução violenta em números absolutos. Isto pode ser sentido na vida cotidiana dos italianos pela altíssimo desemprego registrado entre os jovens, que chegou a 30% em 2018.

O empobrecimento da população, somado a políticas governamentais confusas, criam um grande ambiente para a rejeição do sistema pela população e a ascensão da extrema-direita. Assim cresceram os partidos de extrema-direita Liga Norte e Movimento Cinco Estrelas (M5S). O primeiro, com uma política firme anti-imigração, enquanto o seguindo se apresenta como um partido antissistema.

Eurozona, o moderno cavalo de Troia

Apesar da Itália ser conhecido por um país politicamente caótico, especialmente do ponto de vista de alemães, franceses e ingleses, é inegável que o país vinha crescendo até a implantação da zona do Euro.

O que foi comemorado como uma vitória por branqueiros de França e Alemanha, foi, na verdade uma grande desgraça para boa parte dos países. Com a implantação do Euro e a centralização da política monetária, o que ocorreu, na prática, é que todos os países acabaram adotando a moeda mais forte do bloco, o marco alemão, ao mesmo tempo que abriam mão de ferramentas que davam aos governos capacidade de manobra no mercado financeiro.

Os países europeus nunca formaram um bloco econômico e político homogêneo. No caso italiano, a situação era completamente heterodoxa. O país crescia a partir de uma inflação alta quando comparada com os países vizinhos. Além disto, as regras estritas sobre a retirada de divisas forçava, em alguma medida, a poupança e a distribuição de renda.

A inflação alta ajudava também as exportações, pois, a partir da desvalorização da lira italiana, o país ganhava competitividade internacional. Como a Itália tinha uma industrialização, a lira desvalorizada também defendia a indústria nacional internamente.

Com a adesão ao Euro, a Itália perdeu a autonomia monetária, o que fez com que o governo ficasse nas mãos dos banqueiros de Frankfurt-am-Mainz. Perdeu-se a capacidade de desvalorizar a própria dívida, o que, somado aos problemas estruturais, fez a dívida italiana ultrapassar o valor do próprio PIB, chegando a 130% do mesmo.

A União Europeia (UE) e a zona do Euro, que se pautavam na mentirosa premissa de que todos os países tinham condições estruturais mínimas, mostrou-se um grande cavalo de Tróia. Portugal, Itália, Irlanda, Espanha e Grécia sofreram de maneira agressiva os impactos da crise de 2008. Seus governos nada mais eram do que motoristas de caminhões sem freio e direção, apenas torcendo para não colidirem com um muro.

Enquanto isto, os burocratas da União Europeia, funcionários de primeira ordem dos bancos europeus, impuseram medidas rígidas, gerando empobrecimento dos países do sul da Europa. Quando perguntados sobre o problema de países, como a Itália, culpavam a ineficiência dos governos.

Por mais que seja verdadeira a afirmação de que os governos destes países são desorganizados, manter políticas rígidas de controle só piora o problema. Além de ser um argumento muito cínico. Afinal, até os mais fora da realidade sabiam que boa parte países da zona do Euro não atendiam as mínimas condições de implementar a moeda.

O caos parlamentar na Itália

Na Itália, a alternância de poder entre Silvio Beslusconi e o Partido Democrático (PD), antigo Partido Comunista, não ajudou em nada a resolver o problema econômico. Pelo contrário, o sistema político ficou cada vez mais mal visto pela população.

A população elegeu a União Europeia como causa dos seus problemas. Isto explica o crescimento da Liga Norte e do M5S e o aparecimento repentino de Giuseppe Conte.

Conte nunca havia sido candidato a coisa alguma. Entretanto, foi escolhido pelas duas legendas para ser o primeiro-ministro. Enquanto isto, os líderes de ambos os partidos dividiriam o cargo de vice-primeiro-ministro. Um acordo estranho porém não incomum.

Acordos de divisão de cargos e alternância programada são bastante comuns em regimes parlamentares. Todavia, nem sempre o resultado é bom para os envolvidos. Basta ver o caso recente de Israel, onde Netanyahu cederia o cargo de primeiro-ministro a um aliado, porém um racha na coalização forçou a dissolução do parlamento.

Com Giuseppe Conte ocorreu coisa parecida. Antes aliado de Matteo Salvini, líder da Liga Norte, quando deu chancela aos mais variados tipos de barbaridades feitas contra imigrantes do norte da África e do Oriente Médio, viu sua coalizão ruir ao passo que Salvini esperava se descolar do governo para que ele mesmo pudesse ganhar o poder em 2019 através de eleições antecipadas.

No regime parlamentarista, o governo, após as eleições, deve formar uma coalizão para que tenha a maioria nas casas legislativas. Quando isto não é possível, o parlamento é dissolvido e são convocadas novas eleições, até que seja possível formar uma coalizão majoritária.

Todavia, o plano de Salvini não funcionou. Conte passou de aliado da extrema-direita para aliado da esquerda, através do PD. O apoio do PD deu a Conte uma estabilidade maior e, ao mesmo tempo, impediu a realização de eleições antecipadas. Para manter seus aliados, Conte não teve pudor algum ao revogar diversas políticas adotadas durante seu tempo ao lado de Salvini.

O próprio Conte afirma que se sente mais a vontade implementando uma política de “centro” do que as barbaridades dos seus antigos aliados da Liga Norte.

Agora, a crise se dá com uma ala dissidente do PD, chamada Itália Viva, liderada por Matteo Renzi. A saída dos parlamentares do Itália Viva da coalizão.

O Itália Viva é formado por membros do PD que estavam descontentes com a posição subserviente do PD em relação a Conte e o M5S.

Giuseppe Conte, apesar de ter, ainda a maioria na Câmara, possui apenas a maioria relativa no Senado. A maioria relativa ocorre quando se obtém a maioria excluindo as abstenções, porém sem votos o bastante para ser uma maioria absoluta. No caso do Senado italiano, Conte mantém o apoio de apenas 154 dos 320 senadores, uma maioria obtida apenas graças à abstenção dos 16 senadores do Itália Viva.

Como não obteve maioria absoluta no Senado, Conte teme que o relatório do Ministro da Justiça, Alfonso Bonafede, do M5S, seja reprovado na casa, causando a queda do governo.

A renúncia de Conte, entregue ao presidente Sergio Mattarella, serve como tentativa de rearticulação do governo. Assim, o atual primeiro-ministro pretende ter mais possibilidade de negociar cargos com os demais partidos, tentando se manter ainda no poder.

Salvini não perdeu a oportunidade para pedir novas eleições. Desta vez, apoiado pelo direitista Força Itália, de Silvio Berlusconi, e pelo fascista Irmãos da Itália (FdI), foram até o presidente Mattarella requisitar novas eleições sob alegação de que o governo não possui a maioria.

Em pesquisas de opinião recentes, a coalizão da direita teria a maioria dos votos na Itália. Todavia, a ideia de novas eleições durante a forte onda da pandemia pode ser um impeditivo aos planos de Salvini.

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