Em 1979 a revolução iraniana deu um duro golpe no domínio dos EUA sobre o Oriente Médio. O Irã é o país industrialmente mais desenvolvido da região, e a ditadura do Xá Mohammad Reza Pahlavi era o regime mais próximo dos EUA até ser derrubada pela revolução. Desde então, o domínio dos EUA sobre o Oriente Médio de conjunto nunca mais foi como antes. Há uma crise permanente, com os EUA tentando manter seu domínio jogando com as contradições regionais, intervindo com guerras e financiando grupos terroristas.
A origem da crise é econômica, e começa com a crise do petróleo de 1974, que aprofundaram as contradições sociais nos países atrasados em todo o mundo, desatando um período marcado por revoluções também em outras partes do mundo, como aconteceu nas revoluções em Portugal ou na Nicarágua. A burguesia imperialista não conseguiu contornar esse problema, e viu seu controle político global se enfraquecer naquele momento.
A partir da revolução de 1979, o Irã, de ter um governo capacho dos EUA servil aos interesses imperialistas no Oriente Médio, passou a ser um fator de instabilidade do ponto de vista imperialista. Após controlar a revolução, um setor religioso xiita, que corresponde à religião majoritária no meio da população persa, conseguiu se estabelecer no poder como representante dos interesses da burguesia nacional iraniana. Nessa condição, passou a confrontar os interesses do imperialismo no Irã e em todo o Oriente Médio, graças ao ímpeto da revolução no país.
Durante os anos 80, para tentar derrotar a revolução, o imperialismo jogou com uma contradição regional para estimular uma guerra entre Iraque e Irã. Depois de 10 anos, o saldo do conflito foi de milhões de mortos e mutilados de guerra, com um enorme prejuízo para dois países atrasados. O Irã recuperou os territórios invadidos no começo do confronto, e a situação terminou indefinida, sem um vencedor.
Invasão do Iraque
Já em 2003, os EUA invadiram o Iraque com um pretexto mentiroso, acusando seu antigo aliado, Saddam Hussein, de armazenar armas de destruição em massa no país. O pretexto revelou-se uma farsa completa, mas já era tarde. Os norte-americanos provocaram uma enorme destruição, deixando o país em ruínas e a população desesperada, entre centenas de milhares de mortos e refugiados.
O objetivo da invasão, além de roubar muito petróleo, era controlar o Oriente Médio. Retomar o controle perdido desde 1979. A manobra, porém, fracassou completamente. Em 2007, os EUA tiveram que entrar em um acordo justamente com o Irã para procurar estabilizar a situação no Iraque e evitar uma derrota absoluta.
Esse acordo com o Irã custou a expansão da influência do Irã em todo o Oriente Médio, uma influência que leva justamente a uma política anti-imperialista. Graças a essa expansão da influência iraniana, os iranianos conseguiram evitar, junto com os russos, a queda de Bachar Al assad na Síria, derrotando os norte-americanos. O Irã também apoia o Hamas na Palestina, o Hezbollah no Líbano e os Houthis no Iêmen, fora outros grupos. Ou seja, conseguiram espalhar sua política por todo o Oriente Médio.
O sentido dessa política, da parte do Irã, é defensivo. Trata-se de evitar que os EUA consigam derrubar o regime iraniano e, desse modo, voltem a controlar o país. Essa política defensiva, porém, coloca a posição dos EUA na região em xeque. Com o domínio imperialista em crise, os EUA estão se tornando mais agressivos e imprevisíveis, com uma política desesperada.
Esse foi o sentido do bárbaro assassinato do general iraniano Qassem Soleimani pelo imperialismo no aeroporto de Bagdá na sexta-feira (3). Chefe do Kuds, grupo especial da Guarda Revolucionária Islâmica, Soleimani era justamente um articulador dessa política defensiva do Irã que ameaça as posições do imperialismo em todo o Oriente Médio. O assassinato de Soleimani, porém, não resolverá os problemas do imperialismo na região. Pelo contrário, pode desatar uma enérgica reação popular em todo o Oriente Médio.