Fatos e acontecimentos da maior gravidade parecem estar se tornando rotina no país. Agentes das forças de repressão do Estado (Polícia Federal, Polícia Militar, Polícia Rodoviária Federal) estão invadindo reuniões e eventos políticos, sindicais e até mesmo científicos, sem qualquer autorização legal (mandado expedido por autoridade judicial), configurando uma violação grotesca das mais elementares garantias constitucionais formalmente ainda existentes no país.
Obviamente que não se tratam de fatos isolados os acontecimentos, pois já foram registrados episódios semelhantes em uma plenária de mulheres do Partido do Socialismo e Liberdade (Psol), em São Paulo; situação que se repetiu também em uma reunião de sindicalistas professores em Manaus/AM; durante uma palestra em evento da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC); e agora, mais recentemente, policiais adentraram, sem qualquer mandado legal, à sede nacional da Federação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Correios e Telégrafos (Fentect).
O fato, ilegal e de extrema gravidade, ocorreu por volta das 14h30 da sexta-feira, dia 09 de agosto, quando dois homens e uma mulher, que se identificaram como policiais federais entraram sem permissão na sede da entidade. Num primeiro momento, um dos homens disse a uma funcionária que procurava um banheiro. Para um outro funcionário, a conversa já era outra. O policial indagou se ali era a sede da CUT. Novamente questionados sobre o motivo da presença na sede de uma entidade sindical, os homens apresentaram uma carteira de identificação policial, dizendo que estavam “fazendo um estudo e treinamento de novos policiais” (sítio da CUT/DF, 10/08).
Todas essas ações configuram não só uma ilegalidade do ponto de vista jurídico-constitucional, como representam uma ofensiva sem precedentes nos últimos anos do aparato repressivo policial contra as liberdades democráticas formalmente ainda em vigor no país. Estes fatos evidenciam muito claramente a disposição do regime golpista, da burguesia e da extrema direita em desfechar um golpe, um ataque contra o direito de organização dos trabalhadores e das massas populares, que buscam enfrentar os ataques do regime político burguês em crise.
Estes acontecimentos não podem, no entanto serem entendidos, como uma demonstração de altivez e fortalecimento do regime golpista; ao contrário, a burguesia e a extrema-direita estão cada vez mais debilitados, mais enfraquecidos, daí a necessidade de partir para a ofensiva, de forma cada vez mais ilegal e arbitrária, contra a organização e a luta dos trabalhadores, na tentativa de suprimir até mesmo as tênues garantias formais do regime constitucional, cada vez mais golpeado pela ação reacionária da extrema-direita.
O fato é que a enorme rejeição popular ao governo Bolsonaro e à política da extrema direita está fazendo crescer em todo o país as ações repressivas e policiais contra a luta da população, deixando claro que o regime está se encaminhando cada vez mais em direção a uma ditadura aberta e sem disfarces. Todos os elementos colocados atualmente na conjuntura apontam claramente para um endurecimento do regime político e para uma ação ainda mais repressiva contra os movimentos sociais, os sindicatos e os partidos de esquerda.
A única forma de dar uma basta a toda esta situação, a esta escalada repressiva, de violência e perseguição aos que lutam para enfrentar e derrotar o regime golpista de fome e miséria é o fortalecimento e a ampliação das mobilizações pelo “Fora Bolsonaro”, pela realização de novas eleições, pela liberdade do ex-presidente Lula, pela derrota do regime golpista, da burguesia, da extrema direita e do imperialismo.