Nesta segunda-feira (20), a ativista ambiental Greta Thunberg anunciou que irá destinar 100 mil euros (mais de 600 mil reais) para ajudar na situação do coronavírus dentro da Amazônia. O dinheiro vem de um prêmio que ganhou recentemente, o chamado Prêmio Gulbenkian para a Humanidade, da Fundação Calouste Gulbenkian. Greta foi selecionada entre 136 indicados de 46 países.
Decerto que o leitor, em um primeiro momento, viu o anúncio de Greta como algo extremamente positivo, visando o melhor para a Amazônia e sua população. Todavia, estamos num momento extremamente crítico no que diz respeito à crise alavancada pelo novo coronavírus, principalmente dentro do sistema imperialista. Portanto, precisamos ser extra cautelosos e analisar a situação de forma extremamente minuciosa. Afinal, precisamos combater as falácias provindas da grande imprensa burguesa de forma racional.
O fato é que, desde sempre – e, de forma mais notável, nas últimas décadas – o Brasil tem sido alvo de inúmeros ataques por parte do imperialismo. À título de exemplo, é necessário lembrar que a queda de Dilma e, consequentemente, a ascensão de Bolsonaro representou um golpe orquestrado por ninguém menos que os Estados Unidos. Ademais, a própria lava-jato foi, recentemente, desmascarada pela comprovação da presença de agentes do FBI dentro do projeto.
Nesse sentido, historicamente, o imperialismo procura explorar o Brasil de qualquer forma possível, seja por meio de sua influência política, de sua localização estratégica dentro da América do Sul ou, como é o caso, por meio da exploração direta de seus recursos naturais. Vale citar a própria presença de empresas estrangeiras em solos brasileiros que, nos últimos tempos, têm sido diretamente responsáveis pela devastação de nossa fauna e flora, por meio da extração descontrolada dos recursos naturais do país.
Sendo assim, não podemos ser ingênuos e pensar que a Amazônia é um caso à parte. Por mais que o imperialismo faça uma demagogia constante no que diz respeito ao pertencimento da Amazônia, afirmando ser um bem da humanidade, deve ficar claro que ela é do Brasil. Abrir espaço para esse tipo de discurso é viabilizar a exploração das grandes multinacionais sobre o território amazonense. E, por bem ou por mal, é exatamente isso que Greta faz.
Não é uma doação no sentido de que é uma ação filantrópica. Muito pelo contrário, representa um verdadeiro quid pro quo entre a burguesia. No momento em que uma personalidade internacional procura realizar esse tipo de ação, está tomando partido de que a Amazônia é sim um bem coletivo da humanidade. E, novamente, essa “humanidade” inclui, somente, os grandes empresários, responsáveis pela devastação ambiental tanto vista nos últimos anos. Utilizam a ativista Greta para uma política em benefício de setores empresariais que não querem nada de conservação dos recursos naturais ou dos povos da Amazônia.
É por isso que esse tipo de anúncio não vem acompanhado de uma melhora para a perspectiva da situação da Amazônia. O ponto é que ela deve ser gerida inteiramente pelo Estado brasileiro e por ninguém mais, muito menos por outros países. A luta deve ser outra: precisamos exigir ao governo que tome providências reais acerca da preservação ambiental no Brasil e, antes de tudo, tirar esse tipo de poder das mãos de golpistas como Jair Bolsonaro.
É exatamente por isso que a luta pelo Fora Bolsonaro deve vir antes de qualquer coisa, pois é somente com a queda de seu governo que conseguiremos viabilizar uma saída real para a crise. Caso contrário, a população indígena continuará sendo assassinada dentro da Amazônia tanto pelo coronavírus quanto pela própria burguesia. Deve ficar claro que uma mísera ajuda internacional não fará nada efetivo para mudar este quadro, mas sim piorá-lo, abrindo uma brecha para a exploração generalizada de nosso país por parte do imperialismo.