Enquanto a pandemia do coronavírus (COVID-19) se espalha pelo mundo, acompanhamos as ações desesperadas e até improvisadas dos governos na tentativa de combater o avanço da doença. As ações são, em geral, reativas e buscam combater os danos mais importantes e identificados que a crise trará para a economia desses países. Por isso vemos a dificuldade na tomada de medidas reais disponibilização de leitos de UTI em quantidade suficiente, distribuição de medicamento específico, realização de testes para todos casos suspeitos, entre outras medidas objetivas na área da saúde pública.
Essa debilidade em combater o surto da doença não é simplesmente um problema de má gestão ou de ausência de políticas públicas, representa na verdade uma crise do sistema capitalista pois, mesmo em economias desenvolvidas como os países centrais da Europa (Itália, França, Alemanha, Espanha, Inglaterra), não há meios para evitar que toda a população se contamine, sendo que dia após dia o quadro de infectados e mortes só aumenta em escala geométrica.
Para tentar fazer frente, mesmo que de forma atrasada, os governos europeus estão lançando mão de métodos que há poucos dias seriam impensáveis, como a estatização de empresas, já que estas nas mãos dos capitalistas, não só não ajudam no combate à doença, com são um obstáculo pois se aproveitam da situação.
Nesta terça (17/03) o governo da Itália informou que pretende estatizar a empresa aérea Alitalia, que há anos enfrenta dificuldades econômicas, como parte das medidas econômicas emergenciais, no que à priori teria a finalidade de evitar a demissão de seus cerca de 12 mil funcionários. O governo Francês, de Emmanuel Macron, também se pronunciou que estuda estatizar empresas para evitar um desastre econômico ainda maior, sem citar setores em específico. Já na Espanha, o quarto país em número de casos no mundo, o governo, ao decretar o estado de emergência no último domingo (15/03), também decretou a estatização dos hospitais privados, bem como, o controle da produção e venda de artigos de combate à proliferação do vírus, como máscaras, kits para testes, luvas, equipamentos de respiração mecânica, álcool etc.
Por estas medidas, podemos ver que não há preocupação, nem interesse algum dos capitalistas e suas empresas com as condições de vida das pessoas, nem mesmo de seus funcionários. Vejamos por exemplo o caso das fábricas italianas que, mesmo com o caos instalado no país, continuam expondo seus funcionários, que estão fazendo greves para ter o direito a se proteger da contaminação (veja aqui).
Assim, como a crise financeira de 2008 diversos governos já se apressam em salvar o patrimônio dos capitalistas. O ministro das Finanças da França, Bruno Le Maire disse: “não hesitarei em utilizar todos os meios a meu alcance para proteger as grandes empresas francesas”. Já o governo alemão, anunciou na última sexta (13/03) que concederá empréstimos ilimitados, incentivos fiscais e postergação de compromissos, para as empresas afetadas. No Brasil, na última segunda o governo anunciou através de medida do Conselho Monetário Nacional (CMN) que postergará o pagamento de dívidas de empresas e até pessoas físicas em 60 dias, e principalmente, liberando os bancos de aumentarem o provisionamento para créditos de operações vindas do exterior nos próximos seis meses.
Neste momento de crise catastrófica da saúde pública que se espalha pelo mundo, a qual se soma à crise econômica que continua fazendo estragos há muitos anos, a burguesia e seus governos demonstram que não têm a mínima condição de amparar a população, garantindo inclusive que a economia continue existindo, que as pessoas continuem empregadas e com seus rendimentos, podendo consumir e atender as suas necessidades. Ao contrário, o que vemos são os capitalistas simplesmente cruzando os braços e pressionando que os governos salvem suas empresas, despejando rios de dinheiro, sem qualquer contrapartida, quando esse dinheiro deveria estar indo para a população.
Enquanto isso a população terá que enfrentar as duas crises, de saúde e econômica, sendo ainda mais explorada, com demissões, cortes de salário, fim de programas sociais, sistema de atendimento médico precário e superlotado, sem distribuição de medicamentos etc.