O Banco da Inglaterra estampará o rosto de Alan Turing nas próximas cédulas de 50 libras.
Turing foi um dos principais matemáticos do século XX, precursor da computação moderna. Jovem prodígio, trabalhou para o governo britânico na decodificação das mensagens trocadas entre os alemães. Foi uma tecnologia decisiva para os exércitos ingleses na antecipação das manobras de seus inimigos.
Alan Turing não escondia sua homossexualidade. Seis anos depois de terminada a Segunda Guerra, teve um rápido romance com o jovem Arnold Murray, que não acabou bem. Decidindo prestar queixa à polícia sobre alguns objetos roubados em seu apartamento, Turing descreveu Murray como seu parceiro íntimo. Naquela época, a homossexualidade ainda era crime na Inglaterra, e o Estado decide abrir uma ação contra ambos por “atentado ao pudor”.
Condenado em 1952, Turing sofreu “castração química,” no lugar da prisão, sendo obrigado a tomar doses frequentes de hormônios para “reduzirem a libido”. Ao longo do tempo o matemático passa a sofrer de impotência e aumento dos seios. Além disso, perde seu posto de agente secreto inglês e o contrato de consultoria com o governo do seu país. Passa a ser visto com desconfiança, pois sem aquele emprego, poderia decidir cooperar com serviços de espionagem russa e de outros países. Quando tenta viajar para os EUA, por exemplo, Turing tem o visto negado.
Dois anos depois da castração química, em 1954, Turing é encontrado morto, envenenado. A autopsia policial indica suicídio. Posteriormente, outras especulações são levantadas, principalmente no sentido de uma morte acidental (Turing também manipulava substâncias químicas no laboratório de seu apartamento). A versão do acidente ajudaria a ocultar a comoção pública sobre a repressão inglesa aos homossexuais. É previsível que Turing ou qualquer ser humano que passe por uma castração química se torne predisposto à depressão e até suicídio.
Sessenta anos depois, a Rainha Elizabeth II concedeu “perdão” a Turing, uma maneira cínica de um regime opressor se fantasiar de democrático e não assumir a culpa que é sua. E agora, em mais um movimento demagógico, o Banco da Inglaterra homenageia o matemático na cédula de 50 Libras.
Não podemos nos enganar com as falsas homenagens que eventualmente a burguesia faça a personalidades importantes ou oprimidas. São válvulas de escape para aliviar a pressão, evitando evidenciar a brutalidade do regime. A realidade nua e crua do capitalismo, na “democrática” Inglaterra, é que até um agente que serviu ao regime é descartável e pode cair no ostracismo, graças a leis repressivas que a burguesia mantém como pode para conter a classe trabalhadora.
Cabe lembrar que este “bondoso” Banco da Inglaterra é o mesmo que, no início do ano, se negou a retornar 1,2 bilhão de dólares em barras de ouro depositadas pelo governo venezuelano em seus cofres, num verdadeiro saque de riquezas, visando justamente consolidar o bloqueio econômico à Venezuela e aprofundar o caos naquele país.