O Banco Central produz todo início de semana o Relatório Focus “resume as estatísticas calculadas considerando as expectativas de mercado coletadas até a sexta-feira anterior à sua divulgação” e repercute a opinião de economistas de empresas financeiras e de bancos consultados sobre perspectivas da inflação, PIB e juros, entre outros índices econômicos. Os diretores e executivos do Mercado financeiro informaram ao Banco Central que trabalham com uma taxa de inflação de 4,21% para 2020, acima da meta que é 4%. Assim como continuam achando que a inflação em 2021 será em boa parte do ano acima de 5%. “O centro da meta de inflação foi definido em 3,75% em 2021, podendo chegar a até 5,25% no intervalo de tolerância”. (O Globo, 7/12/20).
Economistas burgueses e agentes do mercado financeiro têm demonstrado preocupação com a inflação um pouco acima da meta inflacionária. Isso porque afetará decisões do Banco Central com respeito à taxa de juros, já que a inflação considerada alta faz o Banco Central abandonar a política atual de redução paulatina da taxa Selic, assim como outras decisões de ordem econômica.
Do ponto de vista dos capitalistas, a taxa de juros é um elemento importante dos cálculos econômicos que afetam a taxa de lucro de cada empresa. A preocupação que os economistas burgueses têm reverberado é que aumentar a taxa de juros em meio a uma recessão tem por efeito aumentar a crise.
Conhecer e compreender a dinâmica das crises capitalistas também uma questão que interessa aos trabalhadores, pois a ação política dos trabalhadores deve também levar em conta os processos reais e suas contradições internas, que mostram as fragilidades do sistema capitalista e sua incapacidade em solucionar suas crises. É importante também observar e compreender que, na prática, como vimos em 2020, a inflação para as “famílias mais pobres foi mais de 10 vezes maior que a alta sentida pelas pessoas mais ricas de janeiro até setembro” (BBC, 21/10/20)
Além do desemprego avassalador, os trabalhadores enfrentaram uma escalada de aumento de preços que não foram detectados e nem considerados pelas estatísticas oficiais, mas estiveram presentes em estudo do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea). Em outubro o Ipea informava que para os trabalhadores “os impactos dos aumentos no arroz (41%), feijão (34%), leite (30%) e óleo de soja (51%)” geram um empobrecimento maior ainda.
Alguns dos preços que afetam diretamente os trabalhadores são também controlados pelo governo, como ônibus, remédios e saúde. A redução dos aumentos ou seu congelamento podem e devem ser inseridas nas pautas de lutas sindicais e políticas. Ao se retomarem as necessárias e urgentes manifestações de rua, o controle de preços deve ser uma pauta discutida e defendida pelos trabalhadores.
O preço que os trabalhadores pagam nas crises capitalistas é muito elevado, e justamente nesses momentos exige-se mais e mais de sua capacidade de organização e da prática de sua ação política para que possam enfrentar os capitalistas e suas instituições. Caso contrário ficam sujeitos a manobras que aumentam sua subordinação a quem lhes oprime.