O pior resultado desde 2002, é o que aconteceu com a produção industrial brasileira em março com uma queda de 9,1% em relação ao mês anterior (Valor, 5/5/2020). Essa queda acabou por reverter o pequeno resultado positivo de 12 meses, mostrando uma retração de 1%. Observando essa queda nos vários segmentos, podemos verificar o seu impacto imediato e também no longo prazo: bens de capital: -15,2%; bens intermediários: -3,2%; bens de consumo semi e não duráveis: -12%; bens de consumo: -14,5%; bens de consumo duráveis: -23,5% (Poder 360, 5/5/2020).
A imprensa está repercutindo a posição da maioria dos empresários que culpam as paralisações motivadas pela pandemia do novo coronavírus como a causa dessa retração. Contudo, desde 2014 a economia brasileira já demonstrava entrar em um processo de retração, o que se agravou com a capitulação da política econômica a um projeto neoliberal capitaneado pelo ex-ministro Joaquim Levy.
Em janeiro de 2016, o destacado jornalista Mario Osava, da Agência de Notícias IPS, noticiava que “a economia no Brasil atravessa uma recessão vista como um ciclo que, embora mais prolongado do que outros, será superado em um ou dois anos. Entretanto, sua indústria parece viver uma crise que coloca em dúvida seu destino. Há praticamente dois anos que diminui sua produção, em uma tendência que se agrava, sem perspectivas de reversão” (Envolverde, 18/1/2016). Em novembro de 2015 a queda na produção industrial havia sido de 12,4% em comparação ao mesmo período de 2014. Embora noticiasse que a economia iria melhorar em dois anos, isso não aconteceu. Piorou. E um símbolo disso foi o rompimento da barragem da represa de detritos da mineradora Samarco. Foram 19 mortos, 362 famílias desabrigadas e um rio destruído pela ganância e pela ação predatória de empresas de mineração que não têm qualquer responsabilidade com o que ficará quando terminarem de retirar do Brasil os lucros que ganham também por causa da conivência de governos subordinados aos capitalistas. A queda na produção mineral foi vista como um acidente, mas já era fruto da redução de consumo da siderurgia chinesa. Outro indicador da crise capitalista que se avizinhava.
A crise e a redução na taxa de lucro dos capitalistas já mostrava a alteração do comportamento dos empresários na política e a crescente exigência por mais facilidades na exploração dos trabalhadores e redução dos direitos trabalhistas. Isso se expressou no golpe de 2016, que retirou da presidenta Dilma do poder e colocou um direitista convicto à cabeça do processo de ataque aos direitos trabalhistas e previdenciários. “Depois do golpe que destituiu a presidenta legitimamente eleita, Dilma Rousseff, 64.368 empresas brasileiras fecharam as portas e 2,13 milhões de trabalhadores e trabalhadoras foram demitidos. Os setores mais prejudicados foram construção e indústria” (Rede Brasil Atual, 27/6/2018).
Nesse período, além da falência e do fechamento de empresas industriais e comerciais, o país enfrentou um rápido processo de desnacionalização, com importantes empresas privadas e estatais sendo adquiridas por capital estrangeiro. O caso da Embraer é emblemático, mas não foi o único. É um caso importante porque não foi o caso de somente uma empresa vendida, foi todo um setor da indústria aeronáutica, de equipamentos e peças e de pesquisa que foram praticamente destruídos.
Ao anunciar a forte retração da indústria brasileira, o IBGE também informou que “que o Nível de Utilização da Capacidade Instalada (NUCI) atingiu 57,5%, em abril”. Com a paralisação das atividades se dá em meio à dominância de uma política econômica neoliberal contrária à qualquer interferência anticíclica e de apoio à indústria nacional, essa subutilização da indústria vai permanecer e se transformar em mais fechamentos de empresas, como prevê o diretor técnico do Dieese, Fausto Augusto Junior, para quem “o que preocupa é que a indústria já vinha em queda já muito tempo, perdendo participação no PIB. Agora esse processo deve se intensificar. Empresas começam a quebrar, fechar e desaparecer. Assim, a capacidade produtiva vai diminuindo” (Rádio Brasil Atual, 5/5/2020).
O que o futuro reserva é mais crise, mais desemprego, mais falências e mais subordinação ao imperialismo. E assim vamos percebendo o vírus não é o único inimigo, o inimigo mesmo é o capitalismo.