No final do mês de abril, entre os dias 27 e 30, aconteceu a primeira edição virtual do Acampamento Terra Livre (ATL). A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), que inicialmente adiou o evento, optou por fazer uma edição virtual, que contou com a apresentação de painéis, mesas e debates. Houve transmissão ao vivo pela Mobilização Nacional Indígena e outras organizações parceiras.
No último dia do encontro, foi divulgado o documento final que traz uma análise do contexto de ataque aos direitos dos povos indígenas e uma pauta de reivindicações para o Estado brasileiro. No documento, o presidente Jair Bolsonaro é apontado como “genocida”.
A caracterização de Jair Bolsonaro por parte dos indígenas é correta. Desde que assumiu a Presidência da República por meio da fraude eleitoral de 2018, Bolsonaro tem implementado um programa de perseguição e extermínio das lideranças indígenas.
O agronegócio exportador, um dos pilares fundamentais de apoio da política bolsonarista, tem sido estimulado a avançar sobre os territórios e reservas indígenas país afora. Há denúncias quase cotidianas de invasão de terras, perseguição e assassinato de lideranças, ações organizadas para intimidação contra os povos indígenas e quilombolas, ameaças de revisão das terras já homologadas por parte do governo federal. O próprio Bolsonaro afirmou que, enquanto estiver no governo, não vai permitir que os indígenas conquistem um palmo de terra.
Tudo acontece com a cumplicidade das instituições do sistema judiciário, das polícias civis e militares, dos militares e dos governos estaduais e municipais controlados pela direita. A extrema-direita apoia abertamente política de extermínio dos povos indígenas. No contexto da pandemia do coronavírus, a direita aproveita para pôr em prática seu programa político que vai na contramão de todos os direitos dos povos indígenas e representa uma ameaça às suas conquistas.
É fundamental a mobilização unificada dos povos indígenas e quilombolas em defesa de suas terras e pela preservação de seus costumes e modos de vida. A política de conciliação com a direita não representa uma saída viável, uma vez que os latifundiários – organizados na bancada ruralista – controlam o regime político em função de seus interesses de classe.
A formação de comitês de autodefesa dos povos indígenas também se faz necessário para resistir às ofensivas dos pistoleiros e pagar na mesma moeda. As instituições do Estado, como inúmeras vezes o demonstrou a experiência, não vão dar uma resposta e proteger os povos indígenas e suas terras. Com um genocida na Presidência da República e a extrema-direita no controle do regime político, cabe aos indígenas confiar em suas próprias forças, isto é, na mobilização.