Como estamos assistindo nos últimos anos, estão acontecendo em várias regiões do País centenas de despejos em áreas públicas e latifúndios falidos de comunidades sem teto, de famílias do MST e indígenas em meio à crise econômica e pandêmica que vive o Brasil. Esse tipo de ação tem se acentuado de forma explosiva após o golpe de estado de 2016 e com o avanço da extrema direita no poder no Brasil depois das eleições fraudulentas de 2018.
Um caso que teve bastante repercussão na semana passada foi o despejo do Quilombo Campo Grande, em que 450 famílias do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, em Campo do Meio em Minas Gerais, tentaram resistir por mais de 60 horas a uma criminosa ação de despejo, violenta, mas foram reprimidas. O governador do estado, Romeu Zema (Novo) usou helicópteros, blindados, tropa de choque a até capangas de latifundiários para expulsar as famílias, que formaram barricadas e mobilizaram centenas de pessoas dia e noite na tentativa de impedir o crime, mostrando que esse é caminho para combater a extrema direita.
Setores da esquerda, se aproveitam da situação para fazer demagogia com o sofrimento das famílias, gravam vídeos de repúdio, contratam advogados, entram com processos na justiça, enfim, tentam todos os meios burocráticos através do estado ditatorial para tentar evitar os despejos arbitrários e criminosos. Não que sejam meios ilegítimos. Mas são ineficazes diante de um aparelhamento do estado pelos fascistas.
O que realmente é necessário fazer participar concretamente da luta, mobilizar a esquerda junto às famílias para um enfrentamento concreto contra os fascistas e o aparato de guerra armado contra a população vulnerável.
Somente em São Paulo, de acordo com um relatório apresentado pelo co-deputado do PSOL Fernando Ferrari e analisado pela Carta Capital, mais de 4 mil ações de despejo foram protocoladas durante a pandemia no estado, e que mais de 2 mil famílias já foram ou poderão ser despejadas neste período. Em junho mais de 900 famílias foram jogadas às ruas na capital paulista. Um levantamento do LabCidade (Laboratório Espaço Público e Direito à Cidade da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP) mostra que a quantidade de despejos na Região Metropolitana de São Paulo dobrou entre abril e junho se comparado com o trimestre anterior, impactando 1.300 famílias.
No último dia 18, em Diadema, São Paulo, em torno de 40 famílias foram atacadas violentamente em uma ação de despejo realizada pela Polícia Militar e tropa de choque a mando do governador do estado, João Dória (PSDB). No primeiro momento a população tentou bloquear a estrada para impedir o crime, porém a reação da PM com bombas de gás e pimenta conseguiu furar o bloqueio dos moradores, que neste momento devem estar morando nas ruas. Uma coisa curiosa que sempre acontece durante todos os despejos são incêndios que aparecem do “nada”. Em Diadema, por exemplo, o fogo se alastrou nos barracos, no Quilombo Campo Grande aos arredores da ocupação as queimadas se alastravam cercando as famílias e as casas.
Nesta segunda-feira (17), indígenas da etnia Kaiapós organizaram uma manifestação na BR-163, que corta o município de Novo Progresso, no sudoeste do Pará, e formaram barricadas e impediram a circulação de veículos, em uma mobilização legítima e combativa. O grupo de mais de cem indígenas protesta contra o aumento de coronavírus em suas aldeias, a falta de apoio do governo federal e também denuncia a presença ilegal de madeireiros e garimpeiros em suas terras e a construção de uma ferrovia, Ferrogrão, dentro do seu território.
O que temos em comum em todos os crimes contra os povos do campo, famílias sem moradia e indígenas é o mesmo, a cumplicidade do judiciário com grileiros, latifundiários e especuladores imobiliários, junto com os governadores fascistas e a Polícia Militar contra a população pobre, desarmada e desamparada de saúde, moradia e terra. No caso de Minas Gerais, o governador na tentativa de desmobilizar temporariamente as famílias do Quilombo que não iriam recuar diante dos ataques, chegou a dizer que estava encerrada a ação de despejo no local, o que causou uma grande comemoração por parte de setores da esquerda pequeno-burguesa, para no outro dia aprofundar com mais violência a ação de despejo que acabou acontecendo.
Em relação à mobilização dos Kaiapós, vendo que não haveria acordo sem que o governo aceitasse as reivindicações dos indígenas, a justiça tratou de expedir multa de 10 mil reais por dia caso o bloqueio continuasse. É assim que age a burguesia que tem em suas mãos o aparato militar, o judiciário, e neste momento os governos estaduais e federais de direita e extrema direita. O que está colocado é que não será através da justiça brasileira que o direito dos povos pobres do campo e originários serão garantidos. O enfrentamento contra a burguesia fascista deve se dar com a mobilização popular e organização de comitês de autodefesa para uma luta de igual para igual, sem ilusão em um judiciário golpista e burguês. Os trabalhadores da cidade devem se juntar aos do campo para impedirem os despejos e conquistarem, na marra, a reforma agrária.