Um dos problemas enfrentados pelo movimento negro no último período é a sua relação com as instituições do estado burguês. Por exemplo, a lei que combate o racismo existe faz anos, mas o racismo não diminuiu, pelo contrário, só tem aumentado, especialmente depois do golpe de Estado.
Recentemente veio a tona a discussão sobre o racismo nas obras de Monteiro Lobato, no que resultou na “edição” (censura) de sua obra, com a retirada de termos apontados como racistas e que, agora, ganham a versão censurada. Como se essa censura fosse resolver o problema do racismo no Brasil.
Em primeiro lugar, não pode existir luta democrática que resulte em censura. A luta por direitos das mulheres, dos negros, dos LGBTs e das demais populações oprimidas não pode ter como objetivo a censura, a repressão à manifestação, a criação de crimes de opinião. Essa prática é da direita, dos golpistas, das ditaduras militares.
Por outro lado, isso mostra que a esquerda está abandonando seus métodos tradicionais de luta, a imprensa, as manifestações, os atos públicos de rua, enfim, a luta para impor um peso social e político dos setores oprimidos na sociedade através da mobilização.
Para a esquerda pequeno-burguesa, agora é a vez do estado, esse mesmo estado controlado pelos golpistas, realizar a luta democrática do povo. É como se gente como Sérgio Moro, Dallagnol e outros golpistas estivessem preocupados com o racismo, com a opressão das mulheres, etc. De maneira alguma.
Alterar obras, editar, colocar adendos ou introduções explicativas não passa da mais pura censura. Hoje querem fazer isso com Monteiro Lobato, para dar uma aparência democrática ao regime dos saqueadores do povo, ao regime golpista. Amanhã vão censurar as publicações de esquerda, vão editar o Manifesto Comunista, vão colocar uma nota introdutória nos textos de Marx, de Malcolm X, vão, enfim, decretar que é crime ser de esquerda, ou fazer propaganda revolucionária, pois quem controla os aparelhos de repressão e todo judiciário é a direita e não o povo oprimido.
Por mais direitista e racista que seja uma pessoa ou publicação, não se deve, sob hipótese alguma, autorizar a censura dessas obras, não deve existir crime de opinião, pois, o passo seguinte é a censura e a prisão dos militantes e publicações da esquerda.
É preciso superar essa perspectiva de luta adaptada ao golpe de Estado, e organizar o povo negro ao redor de suas reivindicações mais sentidas. Colocar o povo trabalhador nas ruas, contra o golpe de Estado, pelo fora Bolsonaro, e pela liberdade de Lula.