Na última quinta-feira, dia 18, foi lançado o Comitê de Artistas contra o golpe em São Paulo. O ato de lançamento foi aberto com um debate sobre a censura e os efeitos do golpe na cultura e na arte e foi transmitido ao vivo pela Causa Operária TV, como uma edição especial do programa Uzwela – conversa sobre cultura.
A proposta do comitê é juntar todos os artistas e trabalhadores que atuam na cultura em torno da luta comum contra o golpe de Estado e contra a direita, que quer mergulhar o País na mais profunda treva.
Na inauguração do Comitê, realizada no Centro Cultural Benjamin Péret, o CCBP, também aconteceu uma confraternização com pequenas apresentações musicais, mostra de fotos, ilustrações e charges.
O debate contou com a presença de William Dunne, colunista do Diário Causa Operária que está sendo ameaçado de processo por João Doria por conta de um conto ficcional, a cantora e compositora Malu Aires, militante do Comitê pela Anulação do impeachment de BH, o chargista Jota Camelo, responsável pela coluna Coxão e Coxinha no DCO, e Deni Mastrodomenico integrante do Clube do Choro de São Paulo, que foi atacado no início do mandato de Doria.
Os artistas precisam de um comitê para organizar a luta contra o golpe, por isso, um dos principais objetivos iniciais do Comitê é se expandir para outras cidades. Como ficou claro, a arte e a cultura serão um dos principais alvos da direita. O fascismo é inimigo da cultura, por isso com o golpe cresceram as manifestações de obscurantismo e censura por parte de grupos como o MBL, apoiados pelo Judiciário e a polícia golpistas, e corte brutal de verbas por parte dos governos.
O carnaval, que vem chegando, é um dos melhores exemplos de como a direita odeia a cultura, em especial a cultura popular. Há uma enorme pressão para acabar com o carnaval. Tanto é assim que já no primeiro fim de semana de pré carnaval, João Doria e Geraldo Alckmin colocaram em prática uma brutal repressão no domingo, dia 14, contra foliões que acompanhavam o bloco Minhoqueens no tradicional bairro do Bixiga. Bombas de gás, balas de borracha e spray de pimenta foram usados contra milhares de pessoas, inclusive idosos e crianças, que apenas estavam ali para comemorar a festa mais popular do brasileiro. A direita fascista e golpista quer tirar o povo da rua. Diga-se de passagem, o carnaval tende a se transformar, mais do que no ano passado, em uma enorme manifestação popular e espontânea contra o golpe.
A fundação de um comitê de artistas contra o golpe é parte fundamental da luta de todos os que atuam na área cultural no sentido de enfrentar os ataques da direita golpista.
O ato em Porto Alegre contra a condenação de Lula é a primeira tarefa do Comitê recém formado. É preciso mobilizar para as caravanas. É preciso uma ampla mobilização contra a direita e as arbitrariedades contra o povo.
Leia abaixo, na íntegra, o Manifesto de artistas contra o golpe, que deve servir como um instrumento de mobilização de todos os artistas e coletivos de cultura que quiserem assinar.
“Manifesto de artistas contra o golpe
O golpe também é contra a arte
Estamos sob um golpe de Estado. Em 2016, a presidenta eleita Dilma Rousseff foi derrubada em um processo de impeachment fraudulento e agora o golpe vem se aprofundando, inclusive com a ameaça de um golpe militar.
O primeiro ano do golpe de Estado, com Temer no governo, revelou o plano dos golpistas: fim das aposentadorias, fim dos direitos trabalhistas, legalização do trabalho escravo, ataque aos direitos das mulheres, privatizações, entrega do petróleo, aumento do desemprego, da pobreza, repressão, da vigilância, atuação cada vez mais constante do exército nas ruas do país.
A consolidação do golpe, consolidação esta que ainda não se deu, pode tornar essa situação ainda pior. O golpe ameaça destruir o Brasil. Ao atingir o campo econômico, político e social, a arte inevitavelmente é afetada. Na realidade, para dominar, a direita golpista não pode conviver com a liberdade artística.
Não à toa, o primeiro ataque do governo golpista se deu justamente contra a cultura: a extinção do Ministério da Cultura, que provocou uma série de manifestações de artistas e inclusive ocupações de prédios do órgão em todo o País. No Brasil do golpe, a polarização política acabou por despertar um amplo setor de artistas que se viram impelidos a se colocar na trincheira em defesa do povo e dos trabalhadores.
Não demorou muito a sentir-se outros efeitos. Corte do incentivo estatal, aumento da censura, ataque da direita a exposições de arte, entre outros. Também não devemos esperar que essa situação melhore. Ela só tende a piorar.
É impossível fechar os olhos para o golpe porque os efeitos do golpe são sentidos na pele pelos artistas. E até mesmo aqui, não apenas os artistas populares, mas até mesmo os mais consagrados artistas. Todos sabemos o que a ditadura militar fez com nossos maiores artistas.
Por isso, acreditamos que os artistas e todos aqueles que trabalham com cultura e comunicação, juntamente com os trabalhadores e o restante da população, devem se mobilizar contra o golpe, em defesa da liberdade de expressão e da liberdade artística.
A direita, que deu o golpe, é historicamente inimiga da cultura. Em todos os lugares em que a direita conseguiu chegar ao poder, geralmente instalando uma ditadura, a arte foi imensamente prejudicada. O nazismo é o principal exemplo disso: livros queimados, artistas modernos perseguidos, a arte enjaulada, torturada e assassinada. A cultura também era extremamente restringida. Era proibido acesso ao que se opunha aos ideais nazistas. As ditaduras, militares ou não, após o nazismo, seguiram esse mesmo molde. Isso em razão da própria ideologia de direita, que rejeita o progresso e tudo o que extrapole os limites de sua mentalidade estreita, mas principalmente porque não pode conviver com a liberdade de expressão e de criação.
Em geral, a arte verdadeira é a expressão subjetiva do que de mais avançado a humanidade criou até aquele momento e é uma crítica do mundo existente e por isso mesmo, os artistas acabam expressando essas ideias.
Por isso, quando o povo se expressa e cria livremente, ele inevitavelmente se choca com a direita e ameaça o poder desta, que se sustenta no uso da força bruta.
É o que está acontecendo no Brasil do golpe. A população está cada vez mais rejeitando o governo golpista e, para manter o golpe, para sustentá-lo, a direita precisa intimidar, reprimir, censurar.
Está claro que, ou se é contra o golpe e se luta de maneira encarniçada, lado a lado com os trabalhadores, ou se está a favor de uma direita cujo programa político é o extermínio da cultura.
Cada vez mais a polarização política obriga a uma tomada de posição. Cada vez mais o avanço de uma extrema-direita fascista obriga os artistas e se colocarem claramente na trincheira da luta política contra o golpe de Estado sob pena de serem exterminados.
Por isso, chamamos todos a se juntarem em uma luta comum contra o golpe de Estado, em defesa da liberdade de expressão e de criação artística. Em defesa dos direitos da população, dos trabalhadores e contra a direita golpista que ameaça o futuro do país.”