O aprofundamento da crise econômica e política no Brasil, que a cada dia ganha um novo capítulo entre eles o apoio de Bolsonaro aos atos convocados pela extrema-direita para o dia 15/3, a fuga de capitais da Bolsa de Valores e a divulgação do PIB, que propiciou mais uma cena trensloucada de Bolsonaro em utilizar um palhaço para responder perguntas feitas por jornalistas na entrada do Palácio da Alvorada, levou a imprensa golpista, um dos pilares que permitiu o golpe nas eleições de 2018 e a vitória de Bolsonaro, a criticá-lo até mesmo com uma certa veemência, levando-se em conta os padrões dessa imprensa golpista.
Editorial no principal jornal da família Marinho, O Globo de ontem, sexta-feira (6), acusa Bolsonaro de “não estar à altura do cargo” e de que a imprevisibilidade do seu comportamento” é responsável, pelo menos em parte, pela baixo investimento externo. Antes, em 27/2, o mesmo O Globo já havia classificado a atitude do presidente com relação aos atos do dia 15/3, como uma “aposta arriscada, irresponsável e criminosa no caos”.
As matérias repercutiram imediatamente na imprensa alternativa progressista, sendo tratada como contundentes sinais do fim do governo Bolsonaro e até mesmo que a família Marinho estaria começando a reconhecer o erro por ter apoiado o golpe de 2016. Nada mais longe da realidade.
As organizações Globo e outros meios de comunicação, como a Folha de S. Paulo e o Estado de S.Paulo, foram os principais porta-vozes do golpe de 2016. Expressaram e expressam diretamente os interesses dos principais financiadores do golpe, o imperialismo norte-americano e o grande capital nacional a ele vinculado. Foi essa imprensa que deu projeção a farsa criminosa da operação Lava-Jato para derrubar a ex-presidenta Dilma, perseguir e prender Lula, fraudar as eleições de 2018 e levar Bolsonaro à presidência da República.
Pode-se objetar que Bolsonaro não era o candidato preferencial do golpe e isso é fato, mas, diante da decomposição dos principais partidos e candidatos da “ordem” – PSDB, DEM, MDB, Geraldo Alckmin, Ciro Gomes -, Bolsonaro foi alçado à condição de candidato do golpe.
Toda a política econômica de destruição nacional e o fechamento do regime com a liquidação das parcas liberdades democráticas impostas pelo golpe com Temer e agora com Bolsonaro, foram apoiadas incondicionalmente por essa imprensa golpista, quando muito, criticadas como notas de rodapé para enganar os mais incautos com uma suposta imparcialidade que nunca existiu.
O descolamento d’O Globo, com relação ao governo Bolsonaro consiste justamente em avançar nessa política: fazer parecer o que não é. A crise é muito profunda e não apenas por conta da incapacidade do governo Bolsonaro, mas do golpe de Estado em seu conjunto em dar uma saída nem que seja de aparência para a economia do País.
Muitos não viveram ou pouco sabem do governo Collor de Mello, eleito, ele também pela fraude e manipulação com as organizações Globo à cabeça. Os marinhos não soltaram a mão de Collor, a não ser quando o barco já não tinha mais condição de ser salvo.
Aqui a história se repete, só que agora como uma tragédia. O objetivo da grande imprensa golpista não é derrubar o governo Bolsonaro, aliás, sequer fazer um mínimo de oposição. Como atesta o último editorial d’O Globo, o objetivo é que Bolsonaro trabalhe.
“Enquanto Bolsonaro perde tempo em patrocinar atos de desrespeito à imprensa, para animar uma plateia digital, há um expediente no Planalto à sua espera que não está sendo cumprido. O presidente precisa trabalhar, e para isso tem de desmontar o picadeiro eletrônico que armou à frente do Alvorada”.
Em outras palavras, o que os golpistas querem, a começar pela grande imprensa capitalista e que tem a Globo como principal porta-voz, é que Bolsonaro não jogue “lenha na fogueira” em um País que está prestes a explodir.
O presidente fascista tem que entrar na linha sob pena do Brasil entrar numa crise institucional que pode levar, inclusive, à guerra civil, esse é o temor dos golpistas: o medo das massas.
E se em todo caso não tiver jeito, a Globo, os golpistas, também trabalham com o plano B. Assim como soltaram a mão de Collor, isso também pode acontecer com Bolsonaro. Não é o que querem, pelo menos nesse momento.
O plano B está em construção. De preferência para 2022 e tem nome, CNPJ, RG, atendendo por “Frente Ampla”, que consiste no resgate dos golpistas de primeira hora, o “Centrão” – PSDB, DEM, MDB, com a ajuda fundamental da esquerda – PCdoB, direita do PT e outros sócios menores – e que tem como propósito central anular a tendência cada vez maior das massas saírem às ruas em nome da sacrossanta “democracia”. Em outras palavras, como eles mesmos anunciam, derrotar o fascista Bolsonaro pela via eleitoral.
Será um fator de profunda confusão política para as massas tratar a Globo e outros meios de comunicação golpistas pelo que eles não são.
Os editoriais do Globo dos dias 27/2 e 6/3, assim como dos seus colunistas Merval Pereira e Míram Leitão representam mais do que qualquer outra coisa um grito de desespero chamando Bolsonaro à razão.
O único papel progressista que a imprensa alternativa pode cumprir é o de somar aos anseios populares pelo fora Bolsonaro e, também, pela derrubada de todos os golpistas, incluindo a sua imprensa venal.
