A Folha de S. Paulo, que se apresenta como um jornal democrático e até progressista, colocando um ou dois colunistas mais ou menos de esquerda para reforçar essa propaganda enganosa, usou mais uma vez seu método de falsificação na edição impressa desta segunda-feira (19). O jornal da família Frias simplesmente pegou uma foto do ato realizado na Av. Paulista no domingo (18) contra o golpe de Estado na Bolívia para ilustrar uma matéria sobre supostos coxinhas bolivianos que estariam comemorando a queda de Evo Morales. Não se sabe se esses coxinhas de fato existem, mas se existem são minoritários, e certamente não realizaram nenhum grande ato na Av. Paulista.
Houve grandes manifestações contra o golpe na Bolívia em outros países. Especialmente no Brasil e na Argentina, onde São Paulo e Buenos Aires receberam grandes marchas de rechaço à direita golpista que obrigou Evo Morales a renunciar e que agora oprime os trabalhadores com uma violência brutal. Essas grandes marchas mostraram o repúdio dos bolivianos em outros países ao golpe da direita. Por outro lado, não existiu nenhum protesto a favor do golpe em lugar nenhum. A Folha tentou fabricar um confundindo os leitores usando uma foto fora de contexto de maneira maliciosa.
E as fake news?
Ironicamente, a Folha é um dos jornais da burguesia que impulsiona a campanha contra as chamadas “fake news”, notícias falsas. É uma campanha absolutamente cínica da parte de jornais como a Folha de S. Paulo, que são os primeiros a manipular, distorcer e inventar informações para levar adiante sua própria política. Como no caso da Rede Globo afirmando que os protestos pelas Diretas Já nos anos 80 eram em comemoração pelo aniversário de São Paulo. Ou, mais recentemente, a imprensa burguesa como um todo inflando os coxinhatos para montar a farsa do apoio popular ao golpe que derrubou Dilma Rousseff, uma farsa golpista.
Comitê denuncia a Folha
O Comitê Brasileiro de Solidariedade ao Povo Boliviano Contra o Golpe denunciou a Folha em uma carta pública enviada para o jornal. Reproduzimos abaixo o documento:
AO JORNAL FOLHA DE S. PAULO
Neste domingo, 7 de novembro, bolivianos e brasileiros ocuparam a avenida Paulista para se manifestar contra o golpe cívico-militar ao governo eleito de Evo Morales na Bolívia. Convocados por coletividades bolivianas de São Paulo e pelo Comitê Brasileiro de Solidariedade ao Povo Boliviano e Contra o Golpe, os milhares de manifestantes cantaram contra os golpistas Mesa, Camacho e Áñez; em solidariedade à resistência democrática do povo boliviano; em apoio ao presidente eleito Evo Morales; pela paz e em memória aos 23 indígenas mortos desde o início dos conflitos. Exibiram a Wiphala, bandeira símbolo das populações indígenas, queimada e desrespeitada em atos públicos pelos racistas golpistas.
A convocação explicitava claramente a postura da manifestação ao afirmar que “a luta do povo boliviano contra o golpe, contra Camacho, contra o fascismo, contra o racismo e a extrema direita, é uma luta que deve receber a solidariedade de todas as pessoas e da classe trabalhadora de todo o mundo que defendem as liberdades democráticas”. Tal postura era ainda reforçada pelo manifesto dos organizadores, que circulou por redes sociais e foi distribuído na manifestação, com os dizeres: “Abaixo o Golpe na Bolívia! Em defesa da democracia e dos povos originários da América Latina! Viva a resistência popular! Fora imperialismo da América Latina!”.
Hoje, segunda-feira, 18 de novembro, o jornal Folha de S. Paulo – que se vende como defensor da democracia, independente, crítico e apartidário – utilizou uma foto da manifestação na avenida Paulista, repleta de bolivianos, em reportagem com o título “‘Todos estão arrumando as malas para voltar’, diz refugiado boliviano” e o subtítulo “Segundo advogado, 1.500 pessoas deixaram a Bolívia por perseguição política no governo Evo”.
A reportagem da Folha de São Paulo não menciona, em nenhuma linha, a manifestação em São Paulo (salvo na legenda da foto); pelo contrário, inicia citando um ato público, no Acre, de supostos “refugiados bolivianos” comemorando a “queda do presidente Evo Morales”.
A reportagem da Folha de São Paulo não menciona, em nenhuma linha, que Evo Morales obteve mais de 70% dos votos dos eleitores bolivianos residentes no Brasil; pelo contrário, publica reportagem com o título “‘Todos estão arrumando as malas para voltar’, diz refugiado boliviano”.
A reportagem da Folha de São Paulo não menciona, em nenhuma linha, os gritos de “Evo no está solo” ou “Mesa, Camacho, Bolívia no te quiere” ou ainda “Áñez, racista, fuera de Bolivia” entoados durante quatro horas pelos milhares de bolivianos na avenida Paulista; pelo contrário, dedica meia página às acusações e aclamações de dois golpistas, um deles suposto “líder dos refugiados bolivianos no Brasil”.
A Folha de São Paulo engana e manipula ao ilustrar uma reportagem que dá voz a dois bolivianos golpistas com os rostos dos manifestantes bolivianos democráticos da Avenida Paulista. Manifestantes estes silenciados pelo jornal, enquanto têm sua imagem utilizada de forma injusta e perversa.