Acontecimentos recentes no Equador e na Bolívia serviram para elucidar a questão do golpe no Brasil. Esses dois países foram os últimos na América Latina a sofrerem um golpe de Estado e a crise está ainda aberta.
No Equador, o ex-presidente Rafael Correa, refugiado na Bélgica em razão da perseguição promovida pelo atual presidente Lenín Moreno, foi condenado a oito anos de prisão. Seu partido, Força para o Compromisso Social foi colocado na ilegalidade.
Já na Bolívia, as eleições previstas para esse ano foram adiadas, quando as pesquisas eleitorais apontaram que o candidato do ex-presidente Evo Morales, Luis Arce, teria uma vitória esmagadora. Evo Morales renunciou em novembro de 2019 após pressão da direita que o acusou de ter sido eleito por meio de fraude. Esse fato convulsionou novamente o país. Em El Alto, ocorreram grandes manifestações contra a medida. Além disso, Evo Morales denunciou que a direita está promovendo pequenos golpes nos municípios para ocupar todo o regime político.
No Brasil, Lula foi impedido de participar das eleições em 2018.
Esses acontecimentos têm um significado comum: o objetivo do imperialismo e dos golpistas é impedir que aqueles que foram derrubados pelos golpes voltem a ocupar o poder.
Ou seja, não se trata de impor uma derrota pontual à esquerda para que em seguida a situação volte a ser como era. Como a situação mostrou, os que foram derrubados ameaçam de facilmente voltar a governar os respectivos países. Assim, a única maneira de impedir isso é banir a esquerda do cenário político, seja por que meio for.
Colocar a esquerda nos governos foi a solução encontrada pelo imperialismo para conter a classe trabalhadora nesses países num determinado momento, em especial na Bolívia, que havia passado por uma situação revolucionária.
No entanto, a burguesia e o imperialismo não querem de maneira nenhuma que esses setores voltem ao poder, do mesmo modo que não queriam antes de serem obrigados a colocá-los no poder para controlar a situação convulsionada desses países.
Trata-se agora de um problema de sobrevivência do imperialismo, que tende a dar respostas cada vez mais duras às tentativas de recolocar a esquerda no governo. É nítida a fragilidade desses regimes políticos, onde os golpes não conseguiram fazer com que a situação voltasse ao que era antes.
No entanto, controlar esses países é fundamental para o imperialismo. Uma mostra desse fato foi dada pelo capitalista bilionário Elon Musk, que em seu twitter declarou que vão dar golpes em quem quiserem. Musk tem interesse direto no golpe boliviano, país rico em lítio, matéria-prima fundamental para sua indústria.
A situação na Bolívia está particularmente convulsionada, mas de um modo geral, todos os regimes golpistas são instáveis, não conseguiram se consolidar, nem dominar a crise política e econômica dentro de cada país.