No último domingo (09/08), ocorreu, na Bielorrússia, as eleições presidenciais de 2020. Aleksandr Lukachenko, presidente do país desde 1994, ganhou a votação, sendo eleito pela sexta vez pela população bielorrussa. Com isso, o “povo” foi às ruas, clamando por novas eleições e taxando Lukachenko de ditador, denunciando manipulação por parte do governo.
Todavia, precisamos analisar a situação de Belarus de forma extremamente cautelosa. Seria o povo quem está, de fato, nas ruas? É da vontade da maioria que o regime de Lukachenko seja derrubado? Para atingirmos qualquer tipo de conclusão, é prudente visitarmos o histórico da administração de Lukachenko em seus demais mandatos.
Após a dissolução da União Soviética, em 1991, e a formação da República da Bielorrússia mais tarde, em 1994, Aleksandr Lukachenko foi eleito o primeiro presidente do país. Desde sempre, a administração de Lukachenko possui um caráter nacionalista. Muitas das estruturas herdadas da União Soviética foram mantidas por Aleksandr. Até hoje, cerca de 80% das empresas estão sob o controle do Estado bielo-russo e mais de 90% dos serviços de saúde do país são oferecidos, também, pelo poder público. Além disso, a classe operária bielorrussa é extremamente forte, com 90% desta sendo sindicalizadas. Sem contar nos próprios indicativos sociais, que já mostram de forma clara no que consiste o governo de Lukachenko. Afinal de contas, 99,7% da população é alfabetizada e o índice de desemprego no país permanece abaixo de 1% há anos.
Dessa forma, a Bielorrússia apresenta uma ameaça à hegemonia imperialista no sentido de que é um estado mais fechado aos avanços feitos pelas grandes potências sobre os países atrasados. E é exatamente aí que mora o perigo.
O fato é que a oposição ao governo de Lukachenko possui uma política extremamente direitista, principalmente no que diz respeito à abertura do país à política capitalista internacional. Logo, fica evidente que essa oposição, encabeçada por Svetlana Tikhanovskaya, possui laços diretos com o imperialismo estadunidense. Nesse sentido, as manifestações feitas contra o regime de Lukachenko não passam de uma evidência direta da intervenção imperialista dentro da Bielorrússia. Prova disso é que cidadãos dos Estados Unidos foram presos em meio à esses protestos, acusados de participar da organização dos movimentos contrários à Lukachenko.
Não precisamos ir longe para entender que o que ocorre na Bielorrússia é, na verdade, um golpe do imperialismo sobre a autonomia do país. Em 2014, na Ucrânia, ocorreu virtualmente o mesmo: em Maidan, diversas manifestações financiadas pelo imperialismo estadunidense promoveram um golpe de estado contra o governo de Viktor Yanukovytch. Tanto que, após o golpe de 2014, o novo governo ucraniano abriu suas portas ao imperialismo, assinando acordo de associação UE e promovendo reformas políticas e econômicas viabilizadas por meio de empréstimos com o Fundo Monetário Internacional.
É preciso rejeitar completamente o que vem ocorrendo na Bielorrússia. Deve ficar claro que, antes de tudo, as mobilizações no país são reflexo direto da decadência imperialista no sentido de que representam uma tentativa desesperada de infiltração sob o governo nacionalista de Lukachenka. É uma situação que, desde o começo da pandemia, vem ocorrendo de forma mais intensa em diversos países, notavelmente em Hong Kong. Nesse sentido, o imperialismo precisa ser combatido de forma direta, com a população nas ruas e a formação de milícias populares organizadas em torno do combate à intervenção internacional. O contrário resulta unicamente na imposição da política imperial sobre os países atrasados, representando um verdadeiro genocídio da classe trabalhadora.