Nesta quinta-feira (10), a seleção brasileira jogou o primeiro dos dois amistosos que fará em Cingapura, no mês de outubro. A partida contra Senegal terminou empatada em 1 a 1 e o Brasil não fez uma de suas melhores apresentações. O que chamou a atenção, no entanto, foi o baixo público que compareceu ao estádio do jogo: 20.621, número que é inferior à média de público do Campeonato Brasileiro deste ano, que é de 21.663 torcedores.
Público baixo, gramados em péssimas condições de jogo, operações logísticas que atrapalham os treinamentos, estádios acanhados, entre outras coisas, têm acompanhado a seleção brasileira nos períodos de data FIFA, destinados a amistosos. Há muitos anos a situação é assim, mas agora, com a continuidade e mesmo a piora das inadequadas condições dos amistosos da seleção, o técnico Tite não se conteve e resolveu apontar os problemas.
Na véspera da partida contra a seleção senegalesa, o treinador brasileiro expôs todo o seu descontentamento: “O que mais me deixou chateado foi a falta de respeito da Pitch para com a seleção brasileira e a de Senegal. Ela não nos proporcionou trabalhar no campo de jogo. Isso me deixou descontente, me deixou desconforme. Atletas de alto nível como a gente e Senegal, eles merecem a chance de treinar no campo de jogo”. “Basicamente a gente quer campo e, nesta situação, ela nos atende. Não é o ideal, mas nos atende. O problema maior é o respeito. As seleções merecem ter mais respeito. Senegal é 20º do mundo e, nos últimos anos, é a seleção referência na África. Tem atletas de alto nível na partida. Ela [Pitch] deveria nos proporcionar a oportunidade de treinar no campo de jogo”, complementou Tite.
Mas quem é a Pitch, afinal de contas?
Pitch é a empresa inglesa que operacionaliza os amistosos da seleção. É ela a principal responsável por escolher adversários e locais para os amistosos, além de programar parte da logística de viagens da delegação brasileira, negociar os direitos de transmissão dos jogos, negociar os patrocínios nas placas de publicidade, determinar o preço dos ingressos e intervir em outros acordos comerciais. Ligada a um conglomerado árabe — o grupo saudita Dallah Al Baraka e sua subsidiária ISE Sports — que, desde 2006, detém a exclusividade de comercializar os amistosos do Brasil, a Pitch International, em troca de pagar um valor fixo para a CBF (2,1 milhões de dólares, completados por outros 1,05 milhão dos sauditas), abocanha toda a renda da bilheteria dos jogos e da venda de transmissão dos amistosos para TV.
Nem é preciso dizer que em todas as decisões sobre os amistosos do Brasil, o único critério adotado pela empresa capitalista inglesa é o comercial, o da lucratividade. A partir disso, fica fácil entender por que a seleção realiza amistosos em estádios de futebol americano, com estruturas impróprias para a prática do esporte bretão, com gramados que não deixam a bola rolar etc. Trata-se do imperialismo inglês se apoderando de um grande patrimônio cultural do povo brasileiro e comercializando-o — uma manifestação particular do domínio do imperialismo europeu sobre o futebol brasileiro e mundial.